A luta dos antigos pelo antigamente em A varanda do frangipani de Mia Couto 1

May 29, 2019 | Author: Irene Chaplin Camilo | Category: N/A
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1 A luta dos antigos pelo antigamente em A varanda do frangipani de Mia Couto 1 Evelyn Amado Fernandes * Resumo Em raz&a...

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Evelyn Amado Fernandes

A luta dos antigos pelo antigamente em A varanda do frangipani de Mia Couto1 Evelyn Amado Fernandes*

Resumo Em razão do meu interesse pela temática do idoso, surgido desde a época em que participei de um projeto de pesquisa chamado “O morro conta sua história”, levanto neste artigo questionamentos quanto à definição estritamente cronológica e imóvel da conceituação desta palavra e, com base nisso, estabelecer um diálogo com o livro A varanda do frangipani, do escritor moçambicano Mia Couto. Analiso o confronto entre os mundos antigo e moderno existente em Moçambique desde a sua independência em 1975 e o papel que o idoso das camadas mais simples vem exercendo nesse contexto antagônico pós-guerra. Palavras-chave: Idoso. Envelhecimento. Velhice.

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Meu interesse pela temática da velhice surgiu na época em que participei de um projeto de pesquisa chamado “O morro conta sua história”, no Centro Universitário Ritter dos Reis. Nesse projeto, parte de um maior chamado “Comunidades urbanas”, procura-se resgatar e valorizar a memória da comunidade de idosos da Grande Cruzeiro. O meu trabalho era ouvir e transcrever as histórias dos moradores idosos para o posterior lançamento de um livro sobre as memórias dos primeiros moradores do local. Como foi um trabalho bastante recompensador, também levantou vários questionamentos. O primeiro deles, e talvez um dos mais relevantes, foi o de tentar estabelecer um conceito que fosse, ao mesmo tempo, simples e conciso. A palavra “velhice” tem sua origem na palavra latina vetus, que significa “velho, antigo, de outros tempos”. (TORRINHA, 1942, p. 928). Contemporaneamente, pode-se encontrar o vocábulo no Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa

Licenciada em Letras, com ênfase em Língua Portuguesa e Literaturas em Língua Portuguesa, e mestra em Letras pelo Centro Universitário Ritter dos Reis. Endereço para correspondência: Rua Octávio de Souza, 916, Bairro Teresópolis, CEP 90840-350, Porto Alegre - RS. E-mail: [email protected]. Trabalho apresentado para a disciplina Literaturas: expressão identitária e intertexto, do Programa de Mestrado em Letras do Centro Universitário Ritter dos Reis. Recebido em abril de 2008 – Avaliado em março de 2010. doi:10.5335/rbceh.2009.016

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guesa com as seguintes definições, entre outras: “o tempo que já viveu ou existiu (alguém ou algo); antiguidade, vetustez” ou “idade avançada, que se segue à idade madura, ancianidade”. O interessante e curioso dessa palavra é que, contrariamente à maioria dos vocábulos, não evoluiu conceitualmente com o passar do tempo. Essas definições parecem estar ligadas entre si por uma estrutura de pensamento que coloca, sem muita reflexão ou análise, a cronologia como condição básica para que se possa definir a velhice. Isso reforça a ideia de que a velhice está identificada com antiguidade. Em outras palavras, acreditar somente neste tipo de afirmação é aceitar a forma simplista que o termo adquiriu na atualidade, que não incorpora ao conceito as palavras “experiência”, “desenvolvimento emocional”, “amadurecimento” e outras. Essa visão distorcida, porém, não está ainda em vigência por acaso. A sociedade ocidental em que vivemos, com características capitalistas, é bastante preconceituosa com a velhice. Com o aceleramento das mudanças histórias e a consequente divisão classista da sociedade, foi criada uma série de rupturas nas relações entre os homens e a natureza, o trabalho e com os outros homens. Esse tipo de relação é descrito pelo escritor moçambicano Mia Couto no seu livro A varanda do frangipani: Eu tinha estado na cidade e observara a ganância dos enriquecidos. Agora, tudo estava permitido, todos os oportunismos, todas as deslealdades. Tudo era convertido em capim, matéria de ser comida, ruminada e digerida em crescentes panças. E tudo isso mesmo ao lado de aflitivas misérias. (VF, p. 109).

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Fatores como a acumulação permanente de capital, geração de riquezas, papel essencial desempenhado pelo dinheiro, concorrência e tarefas cada vez mais fracionadas no processo produtivo não oferecem nenhuma sobrevivência ao velho. Isso porque, teoricamente, nesse contexto o velho não participa de nada, não faz nada. Segundo Bosi (1994, p. 78), a moral oficial prega o respeito ao velho mas quer convencê-lo a ceder seu lugar aos jovens, afastá-lo delicada mas firmemente dos postos de direção. Que ele nos poupe de seus conselhos e se resigne a um papel passivo [...]. A característica da relação do adulto com o velho é a falta de reciprocidade que pode se traduzir numa tolerância sem o calor da sinceridade. Não se discute com o velho, não se confrontam opiniões com as dele, negando-lhe a oportunidade de desenvolver o que só se permite aos amigos: a alteridade, a contradição, o afrontamento e mesmo o conflito.

É preciso que se rompa com a noção de que a única forma de produção possível é a que os seres humanos possuem um “prazo de validade” para continuar trabalhando. Os velhos precisam ser vistos como pessoas que vivem uma fase, assim como os mais jovens, de expectativas e de oportunidades, que precisam ser conquistadas a cada dia. Como exemplo dessa descoberta de que existe vida depois da juventude há o episódio em que os personagens Nãozinha e Nhonhoso ensaiam um namoro. Os dois se assemelham a dois adolescentes, porém com uma carga de vivências que adquire só quem viveu muito.

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O que ele me falou, um soprinho no ouvido, me convenceu às loucuras. Que eu estava ainda em idade de flor [...]. Minha loucura era acreditar em Nhonhoso. Que eu era a mais linda, a mais mulher. E nós nos adiantávamos, já os corpos livres de roupagens. (VF, 2007, p. 89).

É nesse confronto de interesses, de classes e de gerações que está inserido o livro A varanda do frangipani. O local é Moçambique, em uma região perto de Maputo. O país vive momentos turbulentos e cheios de conflitos. A história se passa vinte anos após Portugal lhe conferir a independência, em 1975, depois dos acordos de paz de 1992. O romance é narrado pelo carpinteiro Ermelindo Mucanga, que morreu às vésperas da independência, quando trabalhava nas obras de restauro da Fortaleza de São Nicolau, onde atualmente funciona um asilo para velhos. Esse personagem é o que os nativos chamam de “xipoco”, um fantasma que vive numa cova sob a árvore de frangipani, na varanda da fortaleza. As autoridades, por razões políticas – digo políticas porque, para agradar tanto aos interesses da classe dominante quanto aos dos líderes populares, os governantes escolheram aleatoriamente um herói nacional para representar a conquista da liberdade pelo povo moçambicano –, querem transformar Mucanga em herói nacional, mas ele não concorda: “Certo era que eu não tinha apetência para herói póstumo. A condecoração devia ser evitada, custasse os olhos e a cara.” (VF, p. 12). Para tanto, seria necessário que ele “remorresse”. Então, seguindo o conselho de seu amigo pangolim (espécie de tamanduá africano, que, segundo a tradição, faz companhia 176

aos mortos quando estes não “morrem definitivamente”), encarna no inspetor Izidine Naíta, que está a caminho da fortaleza para investigar a misteriosa morte do diretor do local. Em razão de os personagens, em sua maioria, serem velhos, que há muito não estão em contato com o mundo dito civilizado, a história é uma viagem ao mundo do desconhecido, das memórias, das fantasias e das contradições de um país que está renascendo e, ao mesmo tempo, profundamente ligado às tradições e aos mitos ancestrais. Durante as investigações, o jovem Izidine Naíta tenta arrancar a “verdade” e os “culpados” da morte do diretor Vasto Excelêncio. Porém, nessa procura se confronta com Marta Gimo, a enfermeira do local, que luta desesperadamente para que o “antigamente” não seja esquecido e engolfado por esse novo mundo cruel. Vítima de uma vida cheia de vícios na cidade, ela conseguiu encontrar na fortaleza e na companhia de seus moradores um porto seguro: “A ternura destes velhos que me receberam [...]. Esses mesmos velhos me ensinavam a cicatrizar essa ferida [seu aborto] que rasgara meu útero e minha alma.” (VF, p. 131). No diálogo com o policial, fica evidente a luta da enfermeira para manter viva a memória do povo: Estes velhos não são apenas pessoas [...]. São guardiões de um mundo. É todo esse mundo que está sendo morto [...]. O verdadeiro crime que está a ser cometido aqui é que estão a matar o antigamente [...]. Estão a matar as últimas raízes que poderão impedir que fiquemos como o senhor [...]. Gente sem história, gente que existe por imitação. (VF, p. 57 - grifo meu).

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Segundo Bosi, é na velhice que se deveria estar envolvido em causas que transcendessem, que não envelhecessem e que dessem significado aos gestos cotidianos, ou seja, algo que não transformasse o idoso num ser passivo que apenas está esperando a hora de morrer. É o que acontece com os personagens idosos do livro, quando o inspetor, sem querer, possibilita uma forma de engajá-los em algo maior. Durante os “depoimentos”, todos juravam que haviam matado o diretor e ofereciam indícios contundentes para dar veracidade às suas afirmações. Nessas falas estão mesclados relatos sobrenaturais e atitudes envolvendo amor e ciúme. Mas, no fundo, o que eles queriam mesmo era chamar a atenção, mostrar que ainda estavam vivos e carregavam vida dentro de si: “Vou-lhe dizer: estas histórias que você está registrando no seu caderno estão cheias de falsidades. Estes velhos mentem. E mais irão mentir se você continuar a mostrar interesse neles. Há muito que ninguém lhes dá importância.” (VF, p. 123). Essa atitude foi vivida por mim nas vezes em que participei das entrevistas e até mesmo quando converso com minha avó em casa. Durante as suas narrativas, os idosos se contradizem e às vezes acrescentam fatos novos cada vez que contam a mesma história. É como se eles se transportassem para outro mundo, um mundo bom de ser recordado e distante dos infortúnios atuais. Nas suas narrativas, eles são os protagonistas ou, até mesmo, as únicas pessoas que viveram a situação naquele momento. Ainda segundo Bosi, “todas as histórias contadas pelo narrador inscrevem-se dentro

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da sua história, a de seu nascimento, vida e morte”. (1994, p. 89). Apesar de essas histórias ou “falsidades”, como a enfermeira comenta, serem cheias de improvisos, contêm vida e são relatos cheios de luz, que se remetem a uma época desconhecida de quem está ouvindo/ vivendo as histórias. Então a pergunta que fica ainda é: Como essa fase pode ser, apesar dos fatores negativos (que não são poucos), uma oportunidade de crescimento e de desenvolvimento? Uma resposta possível, proposta pela psicóloga Torres (1999), é manter o domínio ativo em relação à própria vida e, portanto, em relação à própria morte. A varanda do frangipani nos oferece pistas de como pode ser possível esse procedimento. A primeira atitude que eles tomaram foi a de sair do marasmo e sedentarismo nos quais viviam. Esse comportamento ocorre quando descobrem que a antiga capela havia se transformado em depósito de armas e decidem pôr um fim naquelas “sementes da nova guerra”. A velha Nãozinha, em companhia de seus colegas Nhonhoso, Xidimingo e Navaia Caetano, faz um feitiço para que desapareça o chão da capela, transformando-o em uma espécie de abismo e escondendo no “vão do vazio, no oco dentro do nada” todos aqueles armamentos. Esse ritual é descrito com todos os detalhes: E a feiticeira os conduziu junto à capela. Abriu as portadas com simples roçar de unha [...]. Ela retirou a capulana dos ombros e cobriu com ela o chão da capela. De um saco retirou o camaleão e o fez passear sobre o pano. O réptil cambiou de cores, regirou os olhos e desatou a inchar. Inflou, inflou a

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pontos de bola. De súbito, estourou. Foi então que ribombeou o mundo, extravasandose todo o escuro que há nas nuvens [...]. A seus olhos se esculpiu a fantástica visão: ali, onde havia chão, era agora um buraco sem fundo, um vão no vazio, um oco dentro do nada. (VF, p. 136-137).

A própria simbologia da palavra “buraco” é muito interessante porque, de acordo com o Dicionário de símbolos, é uma “abertura para o desconhecido [...]; é repleto de todas as potencialidades daquilo que o preencheria ou que passaria por sua abertura”. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2006, p. 148). A partir daquele momento, eles mudaram a sua história. Essa atitude, repleta de potência, decretou a morte do diretor e o consequente despertar das memórias deles com a vinda de alguém que se propunha a escutá-los, ainda que fosse, a princípio, de má vontade. A percepção dos personagens de que sua morte estava próxima foi determinante para a sua decisão de esclarecer o assassinato. Com seu gesto, os velhos procuraram dominar seu medo diante do marasmo e, ao invés de permitir que os mais jovens morressem inocentemente em uma nova guerra, que os futuros velhos fossem destroçados antes mesmo de atingir a idade adulta, anteciparamse evitando que isso pudesse acontecer. De uma maneira ou de outra, eles são “guardiões do passado” e funcionaram, com essa atitude corajosa, como “protetores do futuro”. Esse domínio ativo da vida, que os levou ao abandono da vida monótona, foi uma etapa importante para a aceitação de que ainda havia vida dentro deles.

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A capacidade de lidar ativamente com as situações em que foram colocados até o final da história foi gerada pela reação dos personagens diante das ameaças subsequentes. Tanto é assim que eles se negam a contar a “verdade” ao policial até que este e o xipoco que o acompanhava estivessem prontos (ou iniciados) a ouvi-la e, consequentemente, a descobrir os “culpados” que Naíta tanto queria encontrar. Era necessário, primeiro, que tivessem passado os simbólicos seis dias de estadia do policial na fortaleza. Digo “simbólicos” porque o número seis, novamente de acordo com o Dicionário de símbolos, equivale ao “número dos dons recíprocos e dos antagonismos, o número do destino místico; número da prova entre o bem e o mal. O sexto dia, para os maias, pertence aos deuses da chuva e da tempestade. O seis é um número nefasto, e esse dia é também o dia da morte”. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 2006, p. 948). Para se receber a verdade sobre a morte do “antigamente” é preciso estar preparado; é necessário que se tenha discernimento entre o que é certo e o que é errado, entre aquilo que se deve descartar e o que se deve preservar. É justamente nesse sexto dia de revelações que se dissipa o véu que encobria a comunicação entre os dois mundos: a revelação do verdadeiro motivo da morte do diretor Vasto Excelêncio e a misteriosa tempestade (wamulambo) que derruba o helicóptero que iria assassinar o policial. Outro confronto de mundos que há na narrativa é o universo feminino. A história apresenta três personagens

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femininas fortíssimas: Ernestina, Marta Gimo e a feiticeira Nãozinha. Vou me ater somente à última em razão de a abordagem ser mais voltada para a temática do idoso. O seu nome já causa estranhamento porque, apesar de sua aparência frágil, é ela quem lidera seus companheiros e, num primeiro momento, nega os seus poderes sobrenaturais. Desde períodos remotos, e principalmente na Idade Média, as mulheres que ousam pensar e agir diferentemente das ordens dos dominantes são tachadas de loucas ou bruxas. Sobre o papel da mulher, a feiticeira se manifesta da seguinte forma: “Nós, mulheres, estamos sempre sob a sombra da lâmina: impedidas de viver enquanto novas; acusadas de não morrer quando já velhas.” (VF, p. 78). Se as mulheres já carregam consigo, desde a mais tenra idade, esse estigma, essa capacidade de se assujeitar é exigida numa cota muito mais elevada da velha. A mulher considerada idosa é mais sujeita a ser visada como uma pessoa que deve se sacrificar, principalmente se tiver alguma pretensão a continuar sua vida amorosa ou sexual – isto é inconcebível dentro dessa visão preconceituosa sobre a mulher. Foi o que aconteceu quando o diretor viu Nãozinha e Nhonhoso namorando. Para ele, assim como para a maioria das pessoas, essa era uma situação ridícula que devia ser evitada, não importando os sentimentos dos dois “enamorados”: “Nhonhoso se foi, além da porta. Então, Vasto fingiu me cortejar. Simulava o galo, cortejador. Me humilhava a ponto de animal.” (VF, p. 90). Portanto, o que se vê nessa obra é que manter o domínio da própria vida RBCEH, Passo Fundo, v. 6, n. 2, p. 174-180, maio/ago. 2009

é de fundamental importância para a solução da crise dessa etapa. Entretanto, essa possibilidade, de modo geral, em nossa sociedade – que marginaliza a velhice – é negada ao velho. Manter o domínio de si mesmo é importante, como fica demonstrado na história, para não correr o risco de perder o controle da própria vida, das histórias e das memórias, portanto, da própria morte. Essa ameaça é o estopim que provoca essa inesperada coragem e força dos personagens idosos em salvar o seu mundo e o mundo dos futuros idosos. Uma palavra sobre o morrer que, em qualquer idade que ocorra, é também uma oportunidade para crescer e para se desenvolver, um processo psicológico rico e multifacetado, apesar de envolver mais perdas do que ganhos. À medida que este processo avança e as perdas acontecem, a pessoa se defronta com a diminuição de sua importância pessoal, é forçada a abrir mão de suas metas e a contentar-se com menos do que poderia ser. Mas, ainda assim, é fundamental manter-se como um ser competente e responsável que, dentro dos limites de sua incapacidade, é capaz de usar ao máximo as habilidades que ainda lhe restam e de preservar sua autonomia, escolhendo a maneira pela qual deseja resolver seus problemas. (TORRES, 1999, p. 62-63).

A vida é um ciclo de nascer, crescer, amadurecer, envelhecer e morrer. No entanto, não significa que a velhice deva estar diretamente associada à doença e à morte. Muitas das representações sociais que se tem da velhice apontam para esses dois tópicos como centrais. Entretanto, esses podem ocorrer em qualquer um dos ciclos de vida. Repensar a velhice é um ponto crucial na atualidade, por ser um momento de vida no qual há a neces179

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sidade de reconstruir dignidade, direitos, implementando a cidadania. Não é um momento de encerramento, mas, sim, de reativar novos sentidos. É necessário que nossa sociedade se organize a fim de implementar políticas de inclusão aos idosos para não deixá-los à margem das tarefas do cotidiano e permitir que eles tenham uma vida digna e feliz de acordo com suas necessidades. Essa é uma época de transformação, que aparece muito bem representada no romance moçambicano. Nele os personagens idosos, inicialmente passivos e submissos aos desmandos do diretor, tornam-se autores de sua própria história e lutam até o fim por aquilo que acreditam. Seu esforço é recompensado no final da história, pois naquele momento eles já podiam descansar e partir para outro mundo, porque suas memórias teriam uma continuidade com Izidine Naíta e Marta Gimo – os representantes da nova geração. Os idosos da “vida real” não precisam (e nem devem) morrer para atingir a sua paz, mas precisam ser respeitados na sua individualidade e na sua vasta carga de experiência.

and modern world in Moçambique, since its independence from Portugal in 1975, and the role of low social class elderly in this post-war antagonist context will be analyzed here. Key words: Aged. Elderly process. Older.

Referências BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. CHEVALIER, J.; GHEERBRANT, A. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas figuras, cores, números. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006. COUTO, M. A varanda do frangipani. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. HOUAISS, A. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. TORRES, W. C. Morte e desenvolvimento humano. In: PY, L. (Org.). Finitude: uma proposta para reflexão e prática em gerontologia. Rio de Janeiro: NAU, 1999. p. 55-63. TORRINHA, F. Dicionário latino-português. Porto: Gráficos Reunidos, 1942.

The fight of the olders for the former days in A varanda do frangipani by Mia Couto Abstract When working as a student for the project “The hill count your history”, I became very interested in elderly theme. So, this paper aims at questioning the strictly chronological and rigid meaning for the word elder and relating it to the elderly representation in the novel A varanda do frangipani, by Mia Couto. The conflict between ancient

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