oouniversidade ESTADUAL DE SANTA CRUZ UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA CLÁUDIO MAGALHÃES BATISTA Carnaval e Turismo em Caravelas-BA

August 13, 2018 | Author: Larissa Back Machado | Category: N/A
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1 oouniversidade ESTADUAL DE SANTA CRUZ UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA CLÁUDIO MAGALHÃES BATISTA Carnaval e...

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ooUNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

CLÁUDIO MAGALHÃES BATISTA

Carnaval e Turismo em Caravelas-BA

Ilhéus – Bahia 2007

CLÁUDIO MAGALHÃES BATISTA

Carnaval e Turismo em Caravelas-BA

Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre em Cultura e Turismo, à Universidade Estadual de Santa Cruz e Universidade Federal da Bahia. Área de Concentração: Cultura / Memória, Identidade e Representações Culturais. Orientadora: Profª Drª Janete Ruiz de Macedo. Co-orientador: Profº Dr. Marco Aurélio Ávila.

Ilhéus – Bahia 2007

CLÁUDIO MAGALHÃES BATISTA

Carnaval e Turismo em Caravelas-BA

Ilhéus – BA, 30/03/2007

____________________________________ Janete Ruiz de Macedo Profª Drª UESC-BA (Orientadora)

____________________________________ Marco Aurélio Ávila Prof. Dr. UESC-BA (Co-orientador)

____________________________________ Reinaldo Dias Prof. Dr. (Centro Universitário – UNA-MG)

DEDICATÓRIA

A minha mãe, Edite Nunes Magalhães (in memorian) pelos ensinamentos, por uma conduta de respeito, responsabilidade e acima de tudo de princípios éticos. Aos meus irmãos (Dedé, Tatata, Gal, Sonson e Val) que sempre me apoiaram para que eu chegasse a mais essa etapa de minha vida.

AGRADECIMENTOS Ao colegiado do curso de Cultura e Turismo da Universidade Estadual de Santa Cruz e Universidade Federal da Bahia. A FAPESB (Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia) pela bolsa de estudos que possibilitou a minha permanência no mestrado. A minha querida Profª. Drª Janete Ruiz de Macedo, pela excelente orientação e pelos momentos de luz quando estava tudo escuro. A meu co-orientador, Prof. Dr. Marco Aurélio pelos ensinamentos e amizade. Aos professores pelos ensinamentos e pelo apoio que me foram repassados. Aos amigos-colegas, pelo carinho, pela ajuda na maturação das minhas idéias e do meu conhecimento, por todos os momentos que passamos juntos. Não poderia deixar de mencionar minhas queridas amigas-colegas e irmãs, Julianna Torezani (Ju) e Cristiane Nunes (Cris) meu muito obrigado pela amizade. Aos meus amigos de longa data que contribuíram para que eu estivesse no programa de mestrado, Elizabeth Aguilar Mangueira e família, Neilton Soares e Janeth Scolfield. A Escola “Irmãos Portela”, na pessoa de D. Dilma e Sr. Odilon que abriram as portas para que eu pudesse pesquisá-la. As funcionárias Graça e Brenda, pelo convívio e pela preciosa colaboração quando solicitada.

Carnaval e Turismo em Caravelas-BA

Autor: Cláudio Magalhães Batista Orientadora: Profª. Drª. Janete Ruiz de Macedo Co-orientador: Prof. Dr. Marco Aurélio Ávila

RESUMO O texto analisa o Carnaval Brasileiro como espaço de culturas traçando uma linha histórica deste evento desde a antiguidade até os dias atuais, destacando como ícones duas formas que melhor representam as manifestações carnavalesca brasileira, o Samba representando o Rio de Janeiro e o Axé que representa a Bahia. Reflete o carnaval como possibilidade de híbrido em Caravelas-BA onde se observa a junção destes dois elementos representativos do carnaval brasileiro. Procura contribuir para um melhor entendimento da relação entre Cultura e Turismo, por meio da análise dos conceitos da cultura e do turismo, bem como a apropriação dos mesmos, proporcionando uma reflexão sobre o Turismo Cultural que se destaca na cidade essencial para o desenvolvimento local. Propõe analisar o problema da coexistência de duas expressões carnavalescas, que normalmente não ocupam os mesmos espaços culturais e conseguem atrair um fluxo turístico. Palavras-chaves: carnaval; cultura; hibridismo; turismo; turismo cultural.

Carnival and Tourism in Caravelas-BA Author: Cláudio Magalhães Batista Orientator: Profª. Drª. Janete Ruiz de Macedo Co-orientator: Prof. Dr. Marco Aurélio Ávila

ABSTRACT

The text analyzes the Brazilian carnival as a space of cultures, tracing a historical line of this event since the antiquity until the current days, detaching as icons two forms that better represent the Brazilian carnival manifestations, the Samba rhythm representing Rio de Janeiro and the Axé rhythm representing Bahia. It reflects the hybrid carnival of Caravelas-BA where it is observed the junction of these two representative elements of the Brazilian carnival. This study aims to contribute for a better understanding of the relation between Culture and Tourism, by means of the analysis of the concepts of the culture and the tourism, as well as their appropriation, providing a reflection about the Cultural Tourism that detaches itself as essential for the local development of the city. It also aims to analyze the problem of the coexistence of two carnival expressions, that normally do not occupy the same cultural spaces and get to attract a tourist flow. Key-words: carnival; culture; hybridism; tourism; cultural tourism.

LISTA DE TABELAS

1.

Faixa etária dos frequentadores do carnaval.................................................................... 59

2.

Nível de renda dos foliões do carnaval de Caravelas...................................................... 60

3.

Pessoas inclusas na composição do gasto........................................................................ 62

4.

Motivação principal da viagem....................................................................................... 64

5.

Último destino visitado.................................................................................................... 67

6.

Motivos de escolha do carnaval de Caravelas................................................................. 70

7.

Pretende retornar ao carnaval.......................................................................................... 75

LISTA DE FIGURAS 1. Luiz Caldas foi homenageado em 2005 no carnaval de Salvador pelos 20 anos da axé music............................................................................................................................... 26 2. Daniela Mercury, a rainha do axé, no carnaval de Salvador.......................................... 26 3. Baile da Saudade no Clube dos 40, Caravelas................................................................ 34 4. Grupo de rapazes em Carro alegórico em frente ao clube dos 40 onde o desfile do corso irá acontecer.......................................................................................................... 35 5. Moças e rapazes da elite caravelense no desfile do corso pelas ruas históricas de Caravelas......................................................................................................................... 36 6. Trio elétrico nas ruas de Caravelas, 2006....................................................................... 39 7. Ala das Baianas na escola de samba Irmãos Portela, Caravelas, 2006........................... 39 8. Casarão de Seu Alfredinho............................................................................................. 45 9. Igreja de Santa Efigênia ................................................................................................

45

10. Casa de Rua Barão do Rio Branco ................................................................................

45

11. Arquipélago de Abrolhos onde é praticado o turismo ecológico .............................. 51 12. Tocador de tamborim da Escola de Samba Irmãos Portela ........................................... 91 13. D. Dilma a diretora da Escola de Samba Irmãos Portela ............................................... 92 14. Trio elétrico Kitongo 2001, em 1972.............................................................................

93

LISTA DE GRÁFICOS

1. Sexo................................................................................................................................ 57 2. Local de entrevistas........................................................................................................ 57 3. Proveniência dos foliões................................................................................................ 58 4.

Escolaridade.................................................................................................................. 59

5.

Ocupação principal.......................................................................................................

60

6.

Meio de hospedagem....................................................................................................

61

7. Previsão de gasto diário................................................................................................. 62 8.

Meio de transporte utilizado.........................................................................................

63

9. Influência na escolha do destino.................................................................................... 64 10. Forma de viagem............................................................................................................ 65 11. Tempo de permanência ................................................................................................. 66 12. Primeira vez que participa do carnaval de Caravelas.................................................... 68 13. Quantas vezes já participaram....................................................................................... 68 14. O que mais atrai no carnaval.......................................................................................... 69 15. Conhecimento prévio da escola de samba....................................................................

70

16. Como soube do carnaval............................................................................................... 71 17. O carnaval pode ser um atrativo turístico...................................................................... 71 18. Por que o carnaval pode ser um atrativo turístico.......................................................... 72 19. Avaliação do carnaval.................................................................................................... 72 20. Avaliação da qualidade das bandas................................................................................ 73 21. Avaliação sobre a decoração.......................................................................................... 74 22. Avaliação sobre a infra-estrutura................................................................................... 74 23. Sugestão/ crítica para melhorar o carnaval.................................................................... 76

LISTA DE SIGLAS PRODETUR

Programa de Desenvolvimento do Turismo

OMT

Organização Mundial do Turismo

BAHIATURSA

Órgão Oficial do Turismo

ENTBL

Encontro Nacional de Turismo com Base Local

FAPESB

Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia

MASP

Museu de Arte de São Paulo

SUMÁRIO

Resumo............................................................................................................................

V

Abstract..........................................................................................................................

Vi

1.

INTRODUÇÃO.............................................................................................................

01

2.

CARNAVAL BRASILEIRO: ESPAÇO DE CULTURA(S).....................................

13

2.1. História do carnaval........................................................................................................

13

2.2. Carnaval do Rio de Janeiro e as Escolas de Samba........................................................

21

2.3. Carnaval da Bahia e o Trio Elétrico................................................................................

24

2.4. Memória e História do Carnaval de Caravelas................................................................ 30 2.5. Multiplicidade e Hibridização ................................ ....................................................... 3.

37

TURISMO COMO BUSCA DE QUALIDADE DE VIDA........................................ 46

3.1. Turismo uma visão conceitual em questão...................................................................... 46 3.2. O turismo no Carnaval de Caravelas............................................................................... 51 3.3. Perfil sócio-econômico e cultural dos turistas do Carnaval de Caravelas....................... 54 4.

CULTURA

E

TURISMO:

INTERFACE

ESSENCIAL

PARA

O

DESENVOLVIMENTO LOCAL................................................................................

76

4.1. Relação entre cultura e turismo.......................................................................................

76

4.2. Turismo como apropriação da cultura e cultura como apropriação do turismo.............. 81 4.3. A escola de samba e o trio elétrico como produtos turísticos formatados no Carnaval de Caravelas..................................................................................................................... 87 5.

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 97 REFERÊNCIAS............................................................................................................. 103 ANEXOS......................................................................................................................... 109 APÊNDICE.................................................................................................................... 111

1. INTRODUÇÃO O problema que se propôs analisar com essa pesquisa foi a coexistência de duas expressões carnavalescas, que normalmente não ocupam os mesmos espaços culturais e conseguem atrair um fluxo turístico. A pesquisa se desenvolveu na cidade de Caravelas – BA, cidade situada a 886 km da capital, Salvador, dentro da região denominada Costa das Baleias, que segundo o Prodetur II (Programa de Desenvolvimento do Turismo) as cidades que fazem parte desta zona turística com atrativos naturais, históricos e culturais são: Caravelas, Alcobaça, Mucuri, Nova Viçosa e Prado. O percurso interpretativo tem como referência o campo da Antropologia Cultural que estuda o homem nas suas expressões culturais e artísticas (Festas Folclóricas, Carnaval, Rituais Religiosos, etc). O trabalho situa-se na Linha A de pesquisa, a qual corresponde a Cultura e a “Memória, Identidade e Representações Culturais”. Esse trabalho investigativo sobre o carnaval de Caravelas está dentro do grupo de pesquisa: História e Memória: Suportes para o desenvolvimento do Turismo Cultural. Os objetivos da pesquisa foram analisar aspectos híbridos do Carnaval de Caravelas e sua relação com o Turismo Cultural, procurando investigar a inserção do samba e do trio elétrico na tradição histórica do carnaval como elementos culturais da modernidade, bem como estabelecer possíveis conexões entre os carnavais das cidades de Caravelas e do Rio de Janeiro, e investigar o carnaval de Caravelas como possibilidade de roteiro para a prática do Turismo Cultural, oferecendo informações para o poder público e a esfera privada da cidade. Especificamente grande parte da coleta de dados ocorreu durante o período carnavalesco de 2006. A pesquisa foi desenvolvida com base em dados secundários (pesquisa bibliográfica e documental) e dados primários (questionário). As pesquisas bibliográficas forneceram o ferramental teórico de conceitos específicos para a clarividência da pesquisa

desenvolvida. O trabalho documental possibilitou levantar referenciais para a análise das variáveis relevantes ao estudo e estes documentos foram encontrados na Secretaria Municipal de Turismo de Caravelas, assim como em setores responsáveis pelas informações da cidade e do carnaval de Caravelas como: o Clube dos 40, a ONG Dandara Zumbi, e entre os dirigentes da Escola de samba “Irmãos Portela”. Neste trabalho fez-se uso dos dois tipos de pesquisa, qualitativa e quantitativa, observando os aspectos culturais e estatísticos sobre o turismo de Caravelas e no tipo de turismo que se destaca que é o caso do Turismo Cultural. Os questionários foram aplicados aos turistas para verificação do perfil sócioeconômico e cultural dos que freqüentam o município neste período específico. A amostra foi por exaustão, que corresponde o máximo de entrevistas que se pode fazer, neste caso foram aplicados um total de 268 questionários em três dias, respectivamente 26, 27 e 28 de fevereiro de 2006, domingo, segunda-feira e terça-feira de carnaval. Optou-se por esses três dias por dois motivos essenciais: primeiro por causa do maior fluxo de turistas; segundo por que na sexta e no sábado os turistas ainda estavam observando a cidade e o carnaval em si. Analisado a melhor maneira de aplicar os questionários, decidiu-se por fazê-los nos dias de maior movimento. A equipe composta para desenvolver a pesquisa com a coleta dos questionários foi de dez pessoas (alunos de Turismo da Faculdade do Sul da Bahia em Teixeira de Freitas-BA) treinadas pelo pesquisador-autor, destes dez, somente dois compareceram sendo a equipe atuante de três componentes, o pesquisador e dois alunos treinados para o trabalho em campo. O município de Caravelas vem se destacando nos seus carnavais atraindo cada vez mais turistas, que se identificam com a cultura regional, enriquecida com dois elementos novos introduzidos nesta festa popular: o Samba e o Axé, marcas registradas das manifestações carnavalescas do Rio de Janeiro e da Bahia.

A relevância do estudo sobre o Carnaval de Caravelas se fundamenta em três razões básicas: primeiro preservar a cultura regional perante as modernidades inseridas pelas inovações do carnaval; segundo a necessidade de afirmação da cultura regional no contexto das transformações ocorridas durante o carnaval, e terceiro a acentuação do número de turistas no período do carnaval A dissertação esta dividida em três partes. Na primeira intitulada Carnaval brasileiro: espaço de cultura (s) é analisado o carnaval, onde é traçado uma linha histórica de uma festa que vem de muitos tempos atrás. Época em que se exagera nos prazeres da carne (OLIVEIRA e OLIVEIRA, 2005) em oposição da Quaresma instituída pela Igreja Católica. Vimos através de Ferreira (2004) as formas como o carnaval se populariza tomando diferentes formas que estão presentes até hoje. Segundo Burke (1989) o carnaval é uma festa popular e da inversão de papéis, os símbolos são enaltecidos e com temas tantos reais como simbólicos, exemplo: comida, sexo e violência. Tudo é permitido neste período específico. Estas festas não são novas, são manifestações festivas bastante antigas e remetem às civilizações da Mesopotâmia até à greco-romana e todas elas possuem um ritual próprio como salienta Nascimento (2003). Os grandes bailes venezianos influenciaram viajantes de toda Europa e até mesmo hoje, turistas são atraídos pela pujança e sofisticação da festa carnavalesca. Conforme Burke (2002), estes bailes se propagaram por todos os salões da Europa e do Novo Mundo (América) como ressalta DaMatta (1997) é o espaço da casa e o da rua, o carnaval aberto, popular e o carnaval fechado, da elite segregadora. O Brasil sofreu influência tanto francesa, que melhor representava na forma de fazer carnaval, quanto de Portugal, onde havia o entrudo. O entrudo era a festa que não poderia faltar aspersão de água ou mesmo de líquidos repugnantes, arremesso de farinha, de cinzas, de lama e logo depois dos festejos um belo banquete (QUEIROZ, 1999). De acordo com Cunha

(2001) esse tipo de brincadeira carnavalesca passou por uma repressão, e a polícia tinha o papel de impor limites aos excessos. Ao longo do tempo o carnaval toma novas feições, sendo adaptado ao jeito próprio de cada localidade. O carnaval se destaca como uma festa eminentemente popular que busca salientar as manifestações culturais existentes numa comunidade tendo características regionais próprias, onde pode se diferenciar de lugar para lugar, mas que quase sempre estão presentes elementos importantes na composição da festa como: diversões, bailes, fantasias e música, não deixando de lado o trio elétrico e as escolas de samba. Nessa primeira parte são apresentadas ainda duas expressões carnavalescas o Samba e o Axé. O Samba que vem do vocábulo semba = umbigada (dialeto luanda) se popularizou no Rio de Janeiro e foi trazido pelo povo negro, o qual implementou este embalo que é uma mistura de vários ritmos, como as chulas, os fados, o luanda conforme Abreu, (2002). Esse termo, salienta Almeida (2006), está relacionado aos batuques dos negros, e foi compreendido inicialmente como dança: uma combinação entre a umbigada africana e o fandango europeu. Segundo Ferreira (2004), no Rio de Janeiro, surge um carnaval muito peculiar, que hoje é conhecido mundialmente devido aos desfiles das escolas de samba, onde grupos são criados a partir de características próprias como: localidade geográfica e classe social, tendo sua base nos “morros” e “favelas” cariocas. Nas músicas de samba estão presentes referências simbólicas de elementos essenciais, originários das rodas comunitárias onde nasce o samba: o “morro”, o “barracão” e a “favela”, conforme Trotta (2006). O carnaval da Bahia, mais especificamente o de Salvador, é um excelente exemplo da construção de uma identidade organizada através de uma festa “recente” com manifestações “ancestrais”. Percebe-se que a festa baiana tem o caráter popular e africano, estabelecendo uma identidade particular diferenciando-se daquela do Rio de Janeiro.

Na Bahia, graças à invenção do trio elétrico por Dodô e Osmar, um velho automóvel, apelidado Fobica, com um sistema ligado a bateria do carro, capaz de amplificar os acordes da guitarra e do violão elétrico, temos um carnaval divulgado em todos os lugares do mundo. Hoje com o desenvolvimento progressivo de amplificação, o trio elétrico envolve toda uma parafernália de recursos eletrônicos com o intuito de atrair multidões (SERRA, 1999). Em 1980, com o nascimento do “AXÉ”, o carnaval da Bahia é divulgado em todos os meios de comunicação e se populariza. Nomes como os cantores Luiz Caldas e Daniela Mercury são ícones da música baiana e são intitulados “Rei do Axé” e “Rainha do Axé”. A música baiana se revela constantemente dentro do carnaval, que se configurou como principal núcleo de motivação dessa produção, renovando-se a cada ano e fazendo parte da identidade local. Com o tempo, o carnaval passou a ser um espaço que anterior mente era público para um espaço

privado

como

afirma

Tinhorão (2005). Isso se caracterizou com a

industrialização do carnaval a partir de blocos fechados, transformando assim os foliões em meros espectadores da festa que é de todos, porém a segregação de classe é nítida. O folião é transformado num sujeito que paga por um abadá para poder sair atrás do carro de som. Considerando que memória significa a capacidade de reter um dado de experiência ou conhecimento adquirido e de trazê-lo à mente; esta é necessária para a constituição das experiências e do conhecimento científico conforme Japiassú e Marcondes (1996). Toda produção do conhecimento se dá a partir de memórias de um passado que é consolidado no presente. Isso foi fundamental para rememorar os antigos carnavais de Caravelas e identificar a incorporação dos novos elementos do samba e do axé na festa. Ela é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva conforme, Pollak (1992).

O carnaval caravelense é notório observar o seu potencial turístico onde se destacam essas formas de expressões carnavalescas, Samba e Axé. Essas manifestações musicais tornaram o carnaval de Caravelas um evento que com expressões híbridas, na Bahia. Elas foram sendo incorporadas pelos moradores e pelos turistas que procuram à cidade nesse período específico. No presente estudo, adotou-se o conceito de híbridismo formulado por Canclíni (2000), Híbrido se refere à mistura de hábitos, crenças, costumes e formas de pensamentos de várias sociedades, com diferenças étnicas e de produtos de tecnologias diversas, e dos vários processos sociais modernos e pós-modernos. As nações modernas, no caso o Brasil, são todas híbridas culturais como afirma Hall (2003).

Em Caravelas, essa cultura mista, representada pelos portugueses, africanos e

indígenas, pode ser claramente perceptível: Através das manifestações culturais existentes no município, no caso o carnaval que temos a possibilidade de analisar um processo de hibridização. Blocos afros, escolas de samba, trios elétricos, compartilham foliões e espaço físico, buscando, ainda nesse momento manterem sua identidade. Essa singularidade potencializa o festejos carnavalesco como elemento de atração turística principalmente no campo do Turismo Cultural. Vimos através de Beni (2003) que esse é um tipo de turismo em crescimento, uma parcela significativa da população busca conhecer as atrações culturais que os destinos turísticos lhes oferecem. Conforme pesquisas feitas por Batista e Ávila (2006), a cidade de Caravelas possui um patrimônio cultural inestimável, expressados em bens materiais e imateriais, como a luta de mouros e cristãos, a festa religiosa de Santo Antônio, os grupos folclóricos e especialmente a Escola de Samba e o Axé que são marcas maiores do seu carnaval.

Na segunda parte a temática é o Turismo, que é analisado como busca de qualidade de vida.Uma reflexão teórica foi elaborada procurando descrever autores que se debruçam no estudo do mesmo, como a OMT (2002) que define o turismo como o deslocamento para fora do local de residência por período superior a 24 horas e inferior a 1 ano motivados por razões não econômicas. O turismo foi tratado como fator social assim afirma Barreto (2005), e como tal tem que ser levado em conta toda a produção da sociedade com seus aspectos histórico-culturais. O turista é uma pessoa que participa dos bens e serviços turísticos, e na participação intervém a imaginação, a cultura, o prazer e a inteligência. É desta forma que o turismo fornece ao turista o acesso ao mundo, conforme Avighi (2000). Por turismo entende-se que é o conjunto de atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e estando em lugares diferentes ao seu entorno habitual de acordo com Dias (2003). A atividade turística, a cada momento vem se destacando, e a produção desta envolve toda uma questão econômica, social e cultural, fazendo com que certas mudanças sejam tomadas a partir destes aspectos e não a desvalorizando. A atividade turística passou a ser um espaço privilegiado das ocupações sofisticadas do setor terciário conforme Trigo (1993). O turismo deve ser tratado de forma bastante respeitosa, bem como os seus atrativos e as comunidades envolvidas por essa turistificação, pois é problemático submeter qualquer atrativo ao processo de espetacularização para o turista ver, principalmente quando se trata de manifestações culturais intangíveis. O turismo se apresenta como uma alternativa econômica e uma possibilidade de alavancar o município que desenvolve qualquer atividade turística. Em Caravelas o turismo já é uma realidade, especialmente o turismo ecológico que atrai um número considerável de turistas que estão em busca de um encontro com a natureza. Devido a aproximação do Arquipélago Nacional Marinho de Abrolhos, uma reserva ecológica, Caravelas é bem

procurada para hospedagem, principalmente no período em que as baleias Jubarte visitam a costa brasileira em busca de águas mais quentes. Hoje, na sociedade pós-moderna, encontram-se facilidades no modo de produção e de levar a vida individualmente, isso faz com que os homens tornem-se livres e com tempo ocioso. Esse fenômeno vem crescendo muito nas sociedades pós-industriais (BOULLON, et. all., 2004). O cenário contemporâneo vem se consolidando como pólo propulsor do desenvolvimento do turismo devido à busca incansável da população pela melhor qualidade da vida, e consequentemente de tempo livre, graças às facilidades proporcionadas pelo mundo globalizado, o número de turistas vem aumentando a cada década. Caravelas é uma cidade cuja história se confunde com a própria história do Brasil, visto que foi uma das primeiras vilas a serem construídas. Pela sua história, bem como dos aspectos políticos, sociais e econômicos consolidou-se, na região, na Bahia e no Brasil. Empiricamente

se percebe que o fluxo de turistas na época da festa carnavalesca em

Caravelas é superior aos dos outros períodos do ano, pois a festa alia cultura, divertimento, sossego e beleza. Dois dos objetivos específicos da pesquisa foram obter o perfil sócio-econômico e cultural do turista que freqüenta Caravelas no período do carnaval, e identificar os pontos fortes e pontos fracos do evento buscando dados para formatá-lo, de forma planejada e organizada. Os dados da pesquisa possibilitaram uma análise da festa e geraram elementos orientadores para as autoridades, consultores e investidores da esfera pública e privada para pensar a festa carnavalesca de Caravelas como uma possibilidade de desenvolvimento sustentável. Além disso buscou-se também: traçar o perfil do participante através de sua origem, idade, sexo, grau de escolaridade e seu gasto durante a festa carnavalesca; verificar o meio de

transporte mais utilizado pelos visitantes; averiguar o meio de hospedagem utilizado pela maioria dos participantes oriundos de outras cidades; aferir qual veículo de comunicação é mais eficiente na divulgação do evento; verificar a avaliação que os participantes fazem do carnaval no que diz respeito a segurança, limpeza, atrações, acesso, sinalização e divulgação do evento (BATISTA e OLIVEIRA, 2005). A terceira parte do estudo reflete sobre Cultura e Turismo como interface essencial para o desenvolvimento local. A cultura é, vista como o movimento de criação, transmissão, reformulação do ambiente artificial e que identifica a comunidade particular, assim, o patrimônio arquitetônico de um lugar demonstra os traços culturais da comunidade onde está inserida, bem como os seus ritos, visto que ela representa o código mais profundo que revela a feição singular de um povo, ou seja, sua identidade (AZEVEDO, 2000). Tratou-se ainda a cultura como essencial para a condição humana, capaz de estabelecer vínculos entre o que os homens são, intrisecamentes, capazes de se tornar e o que eles realmente se tornam, um por um, de acordo com o antropólogo Geertz (1989). A concepção dialética da cultura foi considerada entendendo que por ser dinâmica, a cultura se reconfigura de geração para geração e manifesta-se nas relações sociais através das artes, dos cultos, da história, da arquitetura, da culinária, da indumentária, enfim, dos infinitos elementos culturais que compõem o patrimônio cultural de uma nação. Por Cultura entende-se que é um processo dinâmico. Transformações (positivas) que ocorrem, mesmo quando intencionalmente se visa congelar o tradicional, para impedir a sua “deteriorização”(ARANTES, 1995). O estudo de Menezes (2004) reflete também esse dinamismo da cultura. Para Barroco (2004), as relações entre cultura e turismo são evidentes e tanto a cultura necessita do turismo como vice-versa, têm duplo sentido: turismo como ato cultural ou forma de cultura e turismo cultural que permite ao homem o acesso às formas de expressão cultural.

A relação entre cultura e turismo é uma realidade. A relação existente entre cultura é visivelmente notada quando o turismo se apropria das manifestações culturais, da arte, dos artefatos da cultura para fomentar o seu fluxo. Por sua vez, a cultura também se apropria do turismo no que diz respeito à formatação das expressões culturais e na preservação de bens movéis tais como igrejas, fortalezas para o desenvolvimento turístico. A cultura como fator importante para o turismo não deve ser dependente deste, onde só é valorizada em virtude do desenvolvimento turístico, porque se assim for, ela vem a reboque do turismo, não tendo a importância que lhe é devida. O turismo quando é implantado com planejamento deve levar em conta os aspectos culturais de uma localidade para ser feito com sustentabilidade, preservando tantos os aspectos econômicos, sociais e culturais. Deve-se ter cuidado para não perder os valores culturais inerentes a essas comunidades. Para que possam se desenvolver com a máxima responsabilidade, afim de que não se percam valores tradicionais, que marcam a identidade cultural local. A relação entre Turismo e cultura é tênue, já que o turismo trabalha com a cultura do outro e estimula o mesmo num processo de experiência. O turismo vende sonhos e experiências que são únicas, pois ninguém tem as mesmas experiências e o turismo tem esse caráter de proporcionar ao turista a vivencia de experiências particulares. O turismo, por sua vez, é experiência, no momento em que constrói esse “ser” turista conforme Panosso Netto (2005). O turismo cultural propicia uma experiência única sobre a história e a cultura local, proporcionando o desenvolvimento local e aquecimento econômico, bem como valoriza e promove os bens materiais e materiais da cultura. Nos últimos anos, o turismo cultural tem sido apontado como uma das possibilidades de desenvolvimento sustentável para diversas localidades de acordo a Figueiredo (2005).

O setor do turismo, como o trade, exige de quem trabalha uma capacitação profissional, para que o mesmo seja feito com responsabilidade e respeito a todos os que estão envolvidos de uma forma ou de outra na prestação de serviços turísticos. Para Ruschmann (2004), o turismo planejado se constitui em uma importante opção para o desenvolvimento sustentável de uma região. Apresentamos nessa pesquisa o carnaval de Caravelas como um dos vetores relevantes para o turismo e a sua possibilidade como produto turístico. No contexto do carnaval, dois fatos se destacam, as escolas de samba e os trios elétricos, representantes do Samba e do Axé em Caravelas. Estes dois elementos culturais aos poucos foram sendo formatados como atração turística do carnaval caravelense, atraindo milhares de turistas a cada ano. Eles buscam encontrar no carnaval as maneiras de brincar do samba através das escolas “Irmãos Portela” e a Coroa Imperial e do rebolar agitado do Axé com os trios elétricos. Os produtos escola de samba e trio elétrico já estão formatados e juntos no mesmo espaço festivo transformam-se em um atrativo singular. O carnaval de Caravelas-BA é um elemento capaz de alavancar o desenvolvimento econômico e sócio-cultural do município, dentro do contexto do Turismo Cultural, é o que o estudo demonstra ele tem se configurado numa alternativa de desenvolvimento local. Algumas sugestões tanto para o poder público quanto privado são colacadas ao final do estudo visando a sustentabilidade do evento carnavalesco no município, dentre elas: das escolas de samba em especial a Irmãos Portela, por ser a mais tradicional da cidade para que essa expressão cultural não se perca perante a sons efuziantes e estrondosos dos trios elétricos e do Axé: busca de parceiros através de órgãos de fomento federal, estadual e municipal, através de programas específicos de revitalização cultural e incremento de políticas públicas

para a cultura de Caravelas. Ações que colocariam o carnaval de Caravelas dentro do circuito das festas baianas.

2. CARNAVAL BRASILEIRO: ESPAÇO DE CULTURA (S)

2.1. História do Carnaval “... o Carnaval é invenção do diabo que Deus abençoou...” Caetano Veloso

O vocábulo carnaval tem sua origem na expressão latina “carne-vale” que significa “adeus à carne”, expressão que se consolidou com a instituição da Quaresma, quarenta dias de penitência e de jejum criado pela Igreja Católica na Idade Média. A relação do carnaval com a Igreja Católica é evidente, visto que sem a Quaresma não haveria carnaval, já que este significa os três dias precedentes à quarta-feira de cinzas, que são dedicados à liberdade, diversões e folias. (FERREIRA, 1989) Carnaval seria o “adeus à carne”1, não seria um contra-senso? Já que o carnaval é o oposto da quaresma, período do jejum e a carne não são permitidos, proibido religiosamente o seu consumo? Nesse sentido tentaremos desmistificar o seu conceito. No período carnavalesco a carnalidade faz parte da festa, todos os excessos são permitidos, principalmente as orgias e a fartura da carne consumida neste período específico.

... em dialeto de Milão, “carnavale” quer dizer o tempo em que se suspende o uso da carne. Portanto, antes da quarta-feira de cinzas, marco do início do período de jejum e das restrições da quaresma, os italianos festejavam, com todo tipo de excesso e de inversão, a carnalidade. (OLIVEIRA e OLIVEIRA, 2005, p.16)

No final do carnaval, esse tempo à carne será proibido, pois o tempo da quaresma se inicia, com a quarta-feira de cinzas. No carnaval a inversão é natural, pois só se pode ter novamente um ano após, ou seja, o adeus a carne se dava após o carnaval com a entrada dos quarenta dias de abstinência e jejum.

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Carne como expressão da abstenção de comida, no período da Quaresma e carne como expressão de adeus a todos os exageros permitidos no período carnavalesco.

O que poderia ser uma incoerência no primeiro momento, não o é, pois a palavra carnaval indica esse adeus à carne, mas também é o período da festa que antecede a Quaresma sendo o seu oposto. Esse é o período dos últimos momentos onde prevalece a carne.

O carnaval tem sua origem na Idade Média e está relacionado aos rituais da Igreja, quando corresponde a um período de orgia, principalmente gastronômica, que ocorre antes da Quaresma, em que se dá a restrição ao consumo de carne e outros prazeres “carnais”. Nesse sentido, a festa medieval ocupa uma função muito próxima do Carnaval tal como o conhecemos hoje: o de uma transgressão autorizada e provisória, em nome da preservação da ordem estabelecida. (ALMEIDA, 2006, p.21)

As festas que possam lembrar o carnaval não podem ser confundidas com Carnaval e sim por carnavalização que são festas com muitas bebedeiras, orgias sexuais e brincadeiras, que passaram pelas civilizações mesopotâmicas, egípcias, gregas e romanas. É comum confundir essas festas com o carnaval, porque como tem toda quebra de valores existentes por outros valores não cristãos de inversão que é uma característica do carnaval, muitos passam a designar qualquer festa desse sentido como sendo carnaval. A idéia de carnavalização se encontra na obra de Bakhtin(1996) e aqui apresentada através de Ferreira:

A esse conjunto de comportamentos ele deu o nome de “carnavalização”. Quer dizer, para Bakhtin, a carnavalização não está ligada somente ao período do carnaval e a suas festas. Para ele, o mundo carnavalizado é o mundo das festas do povo, das brincadeiras grosseiras e das inversões típicas das brincadeiras populares do fim da Idade Média. Essa barafunda entre o conceito de “carnaval” e o de “carnavalização” vai fazer com que as duas idéias acabem se misturando, influenciando alguns estudiosos que acabam por concluir que onde tem festa, onde tem exagero, onde tem inversão também tem carnaval (FERREIRA, 2004, p.2324).

Essas manifestações festivas são bastante antigas e remetem às civilizações da Mesopotâmia até a greco-romana. As pessoas mascaradas e fantasiadas, são freqüentes desde os egípcios aos gregos e romanos sempre utilizando a mascara como poder simbólico, uma característica que simboliza todo um ritual.

A história do carnaval pode ter início no Antigo Egito, por volta de 4.000 a. c. em que danças e cânticos em torno de fogueiras, máscaras e adereços orgias e libertinagens compunham festejos que evidenciam de alguma maneira uma ascendência das comemorações carnavalescas atuais. (NASCIMENTO, 2003, p.22)

Esse momento egípcio são os festejos do culto pagão às divindades como: a deusa Isís e o deus Osíris. O momento greco-romano encontramos o culto a Dionísio, Saturno e Baco, onde havia muita bebedeira e orgias sexuais. Durante a Idade Média, o carnaval se populariza tomando diferentes formatos que vão influenciar os carnavais que conhecemos hoje. Em sua origem, os costumes das brincadeiras estavam associados às festas pagãs, para afugentar os espíritos dos mortos que rondavam naquele período do ano, período do adeus à carne onde era usado fantasia de animais com o intuito de se proteger dos infortúnios. As fantasias mais utilizadas eram do urso e do homem selvagem. (Ferreira, 2004) A luta que se trava entre o carnaval e a Quaresma é bastante visível, principalmente representada pela fartura e escassez, sobre esse aspecto Ferreira (2004, p.32-33) destaca que:

... por volta do século XII, ouviremos falar, pela primeira vez, de uma curiosa batalha que colocaria em campos opostos dois lutadores incansáveis de um lado o gordo e bonachão Senhor Carnaval e do outro a magra e triste Dona Quaresma. Estes dois personagens, representados em peças teatrais, contos e poemas humorísticos, se enfrentariam ano após ano, durante séculos, marcando a luta entre a fartura e a escassez característica do período do adeus à carne. Sua disputa era um verdadeiro símbolo do significado associado às festas do carne vale que começavam a se organizar na Idade Média.

Percebe-se que o carnaval é cheio de símbolos e significados, esta característica permeará toda a sua história, principalmente no que diz respeito aos exageros tolerados nos dias de festa em contraposição ao jejum da Quaresma. No carnaval é evidente que os símbolos são enaltecidos, Burke (1989, p.210) afirma que: “Havia três temas principais no Carnaval, reais e simbólicos: comida, sexo e violência”. A comida devido à carne que compõe a palavra carnaval; o sexo, pois é a “carnalidade”, representa o prazer sexual; e a violência era

evidente porque era permitido o insulto a quem quer que seja, provocando alguns excessos, comuns até os dias atuais no carnaval brasileiro. Durante a Idade Moderna, período em que aconteceram as grandes descobertas, surgem vários movimentos, como a Expansão Marítima, as Grandes Invenções, e dentre eles se destaca o Renascimento. “A renascença assinala o fim da Idade Média e início da Idade Moderna, e isto não só no que diz respeito à política, a religião, mas também no que se refere à Filosofia, à ciência, à arte, moral e a toda a cultura em geral.” (HEERDT,2000,p.105). Esses movimentos mudaram a estrutura do mundo e a sua nova concepção, na expressão carnavalesca não ocorre de forma diferente. O carnaval nesse período ganha certo “glamour” nas grandes festas e bailes dos mascarados. A cidade que se destaca como sendo a grande incentivadora deste carnaval é Veneza na Itália, onde a festa adquire maior destaque nos bailes fechados que são freqüentados pela alta sociedade, destaca-se também o carnaval de rua e suas impressões de alegria, descontração a todos que participam desse universo de magia e de prazer. Peter Burker (2002) afirma que o carnaval fazia parte do chamado “mito de Veneza”. Em Veneza, devido ao fluxo de visitantes, os bailes e óperas refletem o esplendor da nobreza que domina a cidade, os grupos de mascarados perambulavam pelas ruas e vias aquáticas do centro. As grandes festas oficiais que aconteciam durante os dias de carnaval tinham o caráter estritamente elitista. Os grandes bailes venezianos atraem turistas até hoje pela sua pujança e sofisticação, bem como, os passeios de gôndola pelas vias aquática. Tudo isso faz parte do imaginário das pessoas, que ao se remeterem a Veneza desejam reviver tempos gloriosos de épocas marcadas pelo luxo.(BURKE, 2002)

Durante o Iluminismo, as representações teatrais que faziam parte da forma de brincar carnaval tomavam proporções gigantescas os figurinos elaborados que serviam de inspiração para as diversões carnavalescas da elite européia no século XVII.

O poder e a fama de Luís XIV, o chamado Rei Sol, modelo de monarca copiado em todo o Ocidente, acabou por fazer com que esse estilo de festividade fosse cada vez mais imitado por praticamente todos os poderosos da Europa. Esse tipo de espetáculo sofisticado, mais próximo de uma representação teatral do que de algo que possa ser chamado verdadeiramente de festa carnavalesca, fez com que as comemorações oficiais se tornassem cada vez mais ritualizadas (FERREIRA, 2004, p.45-46).

Os bailes dos mascarados também se multiplicaram proporcionando assim o isolamento cada vez maior da festa carnavalesca “oficial” em espaços fechados e seu afastamento do carnaval popular. Como ressalta DaMatta (1997) é o espaço da casa e o da rua, é o carnaval aberto, popular e o carnaval fechado, da elite segregada. Ainda com o espírito do carnaval, onde tudo é permitido, ressaltando as diferenças existentes entre o povo e os poderosos, que são visivelmente percebidos em todo o cotidiano no momento carnavalesco por ser um momento específico, essas diferenças são apresentadas de forma exacerbada com humor e crítica. As barreiras sócio-econômicas no desenrolar da festa se desenvolviam no quadro das camadas sociais bem estratificadas e sem nenhum contato uma com as outras. Em Roma, o carnaval toma a característica de uma festa de rua, o destaque é a diversidade de personagens que convivem numa espécie de festa idealizadora que iria povoar o imaginário dos carnavais ao redor do mundo. E é na cidade de Roma que se origina o costume de lançar pequenas bolinhas coloridas de gesso ou de confeitos de açúcar, chamados de confetti, hoje popularizado nas festas carnavalescas em todos os lugares. A Revolução Francesa representou um marco de transformações nos âmbitos econômico, político e social. Os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade influenciaram

também a cultura, e o carnaval torna-se a personificação destas influências na sociedade. Esses ideais serão transpostos ao carnaval, já que a festa propicia essa liberdade de expressão, “igualdade” de classes sociais e confraternização. A França instalaria mudanças que iriam consolidar as bases do carnaval contemporâneo como hoje conhecemos. Destacou-se como a mais importante e elegante da sociedade ocidental, e servia de modelo para as folias de outros centros urbanos do mundo. No Brasil, a festa carnavalesca sofreu influências tanto da França, que de certa forma manteve-se como sendo hegemônica na forma de fazer carnaval, mas foi influenciada também por Portugal, onde havia o entrudo. O entrudo significava “entrada”, sendo celebrada pelos povos pagãos para festejar a entrada da primavera. Com a implantação do Cristianismo, passou a se realizar no Sábado Gordo à Quarta-feira de Cinzas. Esse folguedo era comemorado em várias cidades de Portugal, o Brasil por ser colônia portuguesa, foi muito influenciado na forma de se brincar o carnaval.

(...)chegou ao Brasil, importado de Portugal, era principalmente uma festa das elites, que dançavam ao som de marchinhas e fandangos. No início do século passado, existiam sobre tudo os bailes públicos – realizados nos salões e teatros – e os bailes mascarados, que, segundo Coaracy, ocorriam desde 1835. Foi a partir de 1855 que o Carnaval ganhou as ruas com os carros alegóricos do Congresso das Sumidades Carnavalescas. Mas muito anterior ao Carnaval e bem mais popular era o entrudo, também originário de Portugal ( SCHWARCZ, 1999, p.278)

Na festa do entrudo não poderia deixar de faltar, aspersão de água ou mesmo de líquidos repugnantes, arremesso de farinha, de cinzas, de lama, danças e bailes tradicionais e salpicões, presuntos, paios, salsichas, lingüiças, isto é, bastantes iguarias para um belo banquete após os festejos.

Antes do século XVIII, o Entrudo era celebrado por toda parte no país, tanto nas cidades quanto nas aldeias. A estrutura de base da festa apoiava-se nos laços familiares e nas relações de vizinhança; utilizando materiais que existiam ao

alcance da mão – água, farinha, cinzas, lama – os folguedos tinham suas funções distribuídas sempre segundo as divisões de sexo e de idade. (QUEIROZ, 1999, p.39)

Esses festejos tiveram terreno fértil nas cidades portuguesas, nos centros urbanos onde as camadas sociais tinham bem estabelecidas as relações entre si. Esses jogos do entrudo tinham lugar entre famílias do mesmo nível social, pertencentes ao mesmo laço de parentesco ou ligados por relações de amizade.

No início do século XIX, houve um refinamento nas práticas do Entrudo: nas batalhas, não foram mais utilizados jarros ou baldes; laranjinhas e limõezinhos de cera cheia de água perfumada os substituíram. Além dessa batalha entre as casas e as ruas, as famílias ricas dirigiam-se à noite aos teatros, onde, após a representação de pequena peça cômica, a luta se desenvolvia novamente. (QUEIROZ, 1999, p.45)

No Brasil, as modificações foram inúmeras no entrudo, desde o refinamento até a perseguição da polícia. Porém, uma coisa é certa, que o entrudo foi a entrada do carnaval popular que nós conhecemos hoje, com manifestações de folguedos, o samba e o trio elétrico. Nascimento (2003, p.30) destaca esta festa que:

Envolvia como principal divertimento às pessoas lançarem esferas contendo água perfumada - conhecidas como limõezinhos – e farinha uma nas outras. Tal comportamento da população em geral, mesmo sendo praticado, por vezes, também pela elite, era repreendido pela polícia, que considerava o costume violento e causador de conseqüências prejudiciais à saúde e à ordem.

O entrudo passou por uma repressão, pois a polícia tinha o papel de impor limites aos excessos cometidos pelos foliões que não poupavam ninguém, pobres, ricos, negros e brancos. Ele começou como uma brincadeira familiar, mas ganha o gosto popular se espalhando pelas ruas, onde era jogado qualquer tipo de líquido ou pó sobre a cabeça de quem passasse por perto. O Rio de Janeiro foi o lugar propício para a disseminação do entrudo. Cunha (2001, p.54) destaca que:

São muitas as descrições do jogo no Rio de Janeiro, em outras províncias do Império ou menos em Portugal. As narrativas, em geral, atêm-se à sua parte mais visível, que era o costume de molhar e sujar-se uns aos outros com limões ou laranjinhas de cera recheados com água perfumada, com recurso a seringas, gamelas, bisnagas, até banheiras – todo e qualquer recipiente que pudesse comportar água a ser arremessada. Incluía também, em determinadas situações, o uso de polvilho, “vermelhão”, tintas, farinhas, ovos e mesmo lama, piche e líquidos fétidos, entre os quais urina ou “águas-servidas”.

Ao longo do tempo, o carnaval toma novas feições, sendo adaptado ao jeito próprio de cada localidade. O entrudo também foi adaptado às formas brasileiras, sendo difundido nos carnavais de Porto Alegre, Florianópolis, Salvador, Fortaleza, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. Em Recife, o carnaval toma a feição dos frevos e grupos de cordões. Em São Paulo incorpora o samba e faz as apresentações de escolas de samba. Em todos os cantos do Brasil as expressões são diversas na forma de fazer o carnaval, e incorporam-se novas maneiras de brincar o período carnavalesco. A festa popular caracterizou-se pela liberdade. Tem a simbolização peculiar das contradições rico versus pobre; branco versus negro; santa versus puta; além da dualidade do sagrado e do profano, sendo uma festa de inversões de papéis (DAMATTA, 1997). Atualmente o que conhecemos por “Carnaval brasileiro” na verdade é a diversidade de discursos ideológicos, que ao longo dos tempos vem sendo formatado e configurado nas disputas de poder da elite e do povo em geral. Como no carnaval a festa é de todos, estes discursos foram colocados a mercê da realidade carnavalesca, onde a forma da inversão e da liberdade é constantemente exaltada. O carnaval se destaca como uma festa eminentemente popular que busca salientar as manifestações culturais existentes numa comunidade. Ele é marcado pelo sentido da inversão e do deboche, destaca um momento de excessos antes das limitações e penitências impostas pela Quaresma.

Observa-se que no Brasil, país que já foi chamado por Jorge Amado, em seu primeiro romance de “O País do Carnaval”, toma para si esse título e o mesmo é incorporado por todo o seu povo que brinca e festeja de forma peculiar a sua festa maior. O carnaval é uma festa popular de características regionais próprias, pois se diferencia de lugar para lugar, mas onde alguns elementos estão sempre presente a saber, os bailes, as fantasias e as músicas. Também no Brasil a figura do Zé Pereira foi uma forma de fazer carnaval, inventado nos anos de 1848, pelo português José Paredes que sai às ruas tocando um bumbo até por volta de 1852. Posteriormente, qualquer grupo de foliões reunidos e batendo tambores foi chamado de Zé Pereira. Ferreira, (2004, p. 211) afirma que: “A fanfarra podia contar com outros instrumentos, mas sua principal característica era o barulho produzido e o caráter um tanto anárquico. A caricatura política iria se servir da imagem do Zé Pereira para criticar as mais diversas situações do país” aproveitando-se da permissividade da festa o Zé Pereira marcou a festa carnavalesca ficando um bom tempo conhecido como sinônimo de carnaval brasileiro, tem pos

de, carnaval ou tempos de Zé Pereira

passaram a ser expressões

sinônimas.

2.2. Carnaval do Rio de Janeiro e as escolas de samba

“Quem não gosta de samba bom sujeito não é, ou é doente da cabeça ou doente do pé”. Dorival Caymi

O samba vem do vocábulo: semba = umbigada (dialeto luanda). Duas correntes disputam a paternidade do ritmo que é conhecido como nacional, a Bahia e o Rio de Janeiro. Alguns afirmam que o samba nasceu na Bahia e foi trazido pelos negros para o Rio de Janeiro. A alma do samba seria baiana já que a partir das tradições do candomblé, os negros

que vieram da Bahia no século XIX ajudaram a formar as escolas de samba presentes até hoje na festa carioca, como foi o caso da tia Ciata ou Hilária Batista de Almeida, mãe-pequena do candomblé de João Alabá, que contribui para difusão do samba no Rio de Janeiro. Martha Abreu afirma que:

Os folcloristas e pesquisadores da música popular são unânimes em afirmar a dificuldade de se precisar as diferenças entre as chulas, os fados e o próprio lundu. Suas origens remontariam ao final do século XVIII, na fusão ou mistura de diferentes ritmos e movimentos, mas tendo, inegavelmente, uma matriz popular negra bastante nítida. Os homens e mulheres que realizavam os indefinidos e inimitáveis requebros, umbigadas e movimentos lascivos não nasceram nos ricos salões de baile. (ABREU, 2002, p. 263)

Dessa mistura de diferentes ritmos nasce o samba, originando-se um modo de dançar que assimila influências de vários ritmos. No artigo intitulado “No balanço malicioso do lundu” de Tereza Virginia de Almeida na revista de História da Biblioteca Nacional observa-se que:

Segundo o pesquisador José Ramos Tinhorão, a palavra lundu tem sua origem em calundu, dança ritual africana às vezes chamada de lundu. O termo está, portanto, relacionado aos batuques dos negros, e é compreendido inicialmente como dança: uma combinação entre a umbigada africana e o fandango europeu. (ALMEIDA, 2006, p.18)

As controvérsias são inúmeras, porém o fato é que as duas vertentes acabam por concordar num ponto crucial, que o ritmo seria filho legítimo do espaço urbano do Rio de Janeiro, que ficou conhecido como “berço do samba”, lugar onde o samba surgiu e foi criado. (FERREIRA, 2004).

A palavra samba não aparece apenas no Brasil, mas em outras regiões da América, sempre relacionada aos rituais negros, e tem como origem a expressão semba, que significaria umbigada, gesto coreográfico presente nas danças afro-brasileiras. A inscrição do samba como parte integrante da festa é a forma brasileira de reinventar o carnaval, de forma que é impossível hoje dissociar o gênero musical e seus membros das classes populares é permitido os papéis de reis, rainhas e tantos personagens importantes da história. (ALMEIDA, 2006, p.21)

No Rio de Janeiro, surge um carnaval muito peculiar, que hoje é conhecido mundialmente devido ao desfile das Escolas de Samba, onde grupos carnavalescos são criados a partir de características próprias como: localidade geográfica e classe social, tendo sua base nos “morros” e “favelas” cariocas. Ferreira afirma que:

No final da década de 1930, o Carnaval do Rio de Janeiro ainda procurava seu formato ideal. Os novos grupos de samba, que, após a oficialização dos desfiles, assumiam definitivamente o nome de “escolas de samba”, atraíam a atenção de boa parte da população brasileira – interessada na surpreendente combinação de ritmo, harmonia e enredo – e de um grande número de intelectuais – que viam naqueles grupos uma espécie de síntese das questões ligadas à nacionalidade. (FERREIRA, 2004, p. 354)

Nessas agremiações do samba e as alegorias desenvolvem um enredo e o desfile ocorre no espaço que hoje é intitulado de Sambódromo, que foi inaugurado em 1984 e dez anos depois tombado como Patrimônio Cultural do Estado do Rio de Janeiro. O carnaval carioca tem o seu ponto máximo no desfile das escolas de samba, onde há um deslumbramento de cores, de ritmo das baterias, um super-show, onde tudo é bem ensaiado num encadeamento preciso e eficiente para que tudo ocorra corretamente. E Queiroz define dessa forma:

O nome pitoresco de escola de samba. Conhecido e popular no Brasil como nenhum outro, nomeia “sociedades civis de cultura e lazer, sem finalidades lucrativas”, cujo objetivo principal é organizar, todos os anos, desfiles luxuosos que constituem o essencial dos folguedos carnavalescos atuais. Nascidos no Rio de Janeiro são hoje imitadas em quase todo o território nacional. Os cortejos, cujo preparo é feito eficiente, em que nada pode ser deixado ao acaso, pois dela dependem o sucesso junto ao público e o prêmio final. (QUEIROZ, 1999, p.74)

Entretanto, por algum tempo, essas escolas de samba seriam apenas mais uma das brincadeiras carnavalescas a ocupar as ruas do Rio de Janeiro nos dias de folia e a procurar seu espaço às Grandes Sociedades e ranchos

As escolas de samba e os blocos exaltam a mistura de povos que formam a nação brasileira. A organização de uma escola de samba em desfile no carnaval reflete todo um trabalho árduo de uma equipe de profissionais, que organizam durante o ano todo a preparação da festa. Para a festa carnavalesca, o trabalho dos componentes das escolas de samba, gente humilde dos morros, foi de suma importância para reafirmar a vocação do samba, como elemento que iria propagar o carnaval para todos os cantos do Brasil e do mundo. Nas composições das músicas de samba estão presentes referências simbólicas de elementos essenciais, originárias das rodas comunitárias onde nasce o samba. “o morro”, o “barracão”, a “favela”. (TROTTA, 2006) A comunidade se envolve com a confecção dos carros alegóricos, das fantasias, e principalmente das coreografias, que são ensaiadas diversas vezes, com o intuito de apresentar um bom desempenho para a sua Escola de Samba no Sambódromo. Os principais elementos que compõem uma Escola de Samba são: O carnavalesco, figura central na elaboração do enredo; os figurinistas, os arranjadores, os músicos, os arquitetos, os sonoplastas e vários profissionais de diversas áreas. A composição se dá através das Alas, como a das baianas, além da bateria, o puxador, a comissão de frente, o casal de porta-bandeira e mestre-sala, a rainha de bateria, as alegorias e os destaques.

2.3.Carnaval da Bahia e o Trio Elétrico

“Atrás do trio elétrico Só não vai que já morreu Quem já botou pra rachar Aprendeu que é do outro lado Do lado de lá do lado Que é do lado de lá”. Caetano Veloso

O carnaval da Bahia, mais especificamente em Salvador, é um excelente exemplo da construção de uma identidade organizada através da ligação de uma festa “recente” com manifestações “ancestrais”. Percebe-se que a festa baiana tem o caráter popular e africano estabelecendo uma identidade particular diferenciando-se daquela do Rio de Janeiro. No carnaval da Bahia, na década de 80, nasce o “Axé”, que é divulgado em todos os meios de comunicação e se populariza através do trio elétrico. Hoje carros potentes com som de qualidade e altos decibéis, inventado por dois músicos, Dodô e Osmar, que aproveitaram um velho automóvel, apelidado de Fobica, e instalaram um sistema de som, ligado a bateria do carro, capaz de amplificar os acordes da guitarra e do violão elétrico (FERREIRA, 2004).

Desde que, em 1950, um pequeno carro (um “Ford de bigode” do ano de 1929) saiu na festa carnavalesca levando Dodô e Osmar, com seus inéditos instrumentos, para a primeira apresentação da sua máquina foliã, muitas mudanças aconteceram, passando pela transformação da “dupla elétrica” em trio, já em 1951, e por um desenvolvimento progressivo da base veicular e de amplificação sonora do novo aparato, até chegar ao estágio de evolução, com uma estrutura complexa e tecnologicamente sofisticada, envolvendo uma parafernália de recursos eletrônicos, visuais e sonoros muito elaborados. (SERRA, 1999, p.19)

Atualmente, os trios elétricos são verdadeiros “palcos sobre rodas”, que vêm crescendo a potência sonora, tornando-se símbolo principal do carnaval baiano, e que traz no caso específico de Salvador milhões de pessoas a este festejo. A palavra axé, presente no candomblé, significa força mística, uma energia vital vinda dos orixás. Porém, aqui vem designar um movimento musical originado em Salvador, que começa com a explosão da música “Fricote” composta por Paulinho Camafeu e interpretada por Luiz Caldas. Esse ritmo se expande em 1985, difundindo-se em todo o Brasil. Em 1992, a cantora baiana Daniela Mercury desponta no cenário nacional com a canção “Canto da Cidade”. Em uma apresentação no vão do MASP (Museu de Arte de São Paulo), em São Paulo, a cantora reúne 20 mil pessoas projetando o Axé para o país e porque não dizer para o

mundo. A partir da projeção de Daniela Mercury vão surgindo novos grupos, e um deles usando letras e coreografias sensuais que vira fenômeno em 1995, o grupo “É o Tchan”.

Figura 1 - Luiz Caldas foi homenageado em 2005 no carnaval de Salvador pelos 20 anos da axé music. Fonte: Edimar Soares, 2005.

Figura 2 – Daniela Mercury, a rainha do axé, no carnaval de Salvador. Fonte: Fernando Miceli/ Brazine, 2006.

Hoje, o Axé tem vários representantes dentro deste movimento musical, que vem crescendo a cada ano e lançando sucessos musicais temáticos em cada carnaval, bem como cantores novos. Com o tempo, a Bahia acabou se tornando um dos maiores centros de produção musical. A música baiana se revela constantemente dentro do carnaval, que se configurou como o principal núcleo de motivação dessa produção, renovando-se a cada ano e fazendo parte da identidade local. Desta forma, a Bahia passou a ser comumente interpretada dentro de um eixo temático que envolve principalmente a comunidade afro, a música e o carnaval.

A música que embala o carnaval é um ícone para demonstrar de forma dramática a vida política, os valores sociais, os papéis sexuais, o poder, o ciúme, a boemia a malandragem e outros. Através dela é representada a vida cotidiana, cantada em versos e prosa por todos e fixada no inconsciente coletivo da sociedade. Como afirma DaMatta (1993, p.62) “A música popular e, em particular, a música de carnaval seriam ‘leituras’ específicas da sociedade brasileira por ela mesma”. Todo brasileiro conhece a expressão “música de carnaval”, trata-se de um gênero de música composta especificamente para o carnaval, embora possa ser tocado em qualquer época do ano ou em qualquer situação. A Bahia, com seus artistas, é uma terra que cria arranjos e músicas tipicamente carnavalescas, mesmo que faça sucesso em outros momentos nas rádios e televisão.

Ao lado deste padrão de participação, sabe-se que a “música de carnaval” é para ser cantada e “brincada” jamais para ser somente ouvida. Aliás, vale lembrar que uma das características mais marcantes da música popular em oposição à erudita é o fato de que a primeira é feita para deflagrar algum tipo de ação, ao passo que a segunda jamais é acompanhada, mais somente ouvida (DAMATTA, 1993, p.68).

No carnaval as músicas são cantadas por todos e o que importa, principalmente na Bahia, é o ritmo destas músicas, que empolgam todos os que as ouvem. É como se as batidas da percussão, os sons elétricos da guitarra tivessem o poder de hipnotizar e deixar em transe todos que estão na festa carnavalesca. Em entrevista dada à revista Nossa História, José Ramos Tinhorão, crítico musical polêmico dos anos 70, jornalista e historiador fala sobre a invenção do trio elétrico:

O que seria uma suposta originalidade moderna, os trios elétricos da Bahia, são carros de som com conjuntos mais interessados em vender discos. A “originalidade” é resultante da institucionalização e comercialização por interesses privados. O folião é transformado num cara que paga por um abadá para poder sair atrás do carro de som. É a privatização do espaço público. (TINHORÃO, 2005, p.42)

A industrialização do carnaval baiano transforma os foliões em meros espectadores da festa que é de todos, porém nota-se a segregação de classe, dividindo assim aqueles que podem pagar e que tem acesso a um carnaval e aqueles que não podem pagar e que tem acesso a outro carnaval, é o chamado “folião pipoca”.

O Carnaval Participação, slogan, que singulariza a festa baiana, corresponde à realidade, mas não totalmente. Todos estão de acordo com a opinião de que o Carnaval da Bahia não é uma festa para ser vista e, sim para ser vivida no fluxo, de preferência atrás do trio elétrico. (FISCHER, 1996, p.20)

Em Salvador o folião é livre e vive o fluxo da festa de todas as maneiras, mas as contradições existentes no Carnaval tem contornos de arena, onde os trios com os blocos limitados por cordas, excluem cada vez mais o folião pipoca, desta participação. Em Caravelas, cidade situada no Extremo Sul da Bahia, na Costa das Baleias, destacase uma forma de fazer Carnaval particular àquela localidade. Deve-se isso ao processo histórico da cidade e influências de portugueses, africanos e índios. A sua história é retratada baseada no livro Roteiros Ecoturísticos da Bahia, Costa das Baleias, produzido pela Secretaria da Cultura e Turismo em 2002, bem como em reportagens do jornal A TARDE num Caderno Especial sobre a Costa das Baleias em especial Caravelas. Caravelas foi descoberta em 1503 por Américo Vespúcio. O atual município pertence à capitania de Porto Seguro, doada a Pero de Campos Tourinho por carta régia de 27 de maio de 1534. A aldeia de Caravelas foi fundada por missionários jesuítas em 1581, obtendo franco progresso foi elevada a vila em 07 de junho de 1701, desmembrada de Porto Seguro, recebendo a denominação de Santo Antônio do Rio de Caravelas, foi elevada a categoria de freguesia Eclesiástica de Santo Antônio de Caravelas por alvará régio datada de 18 de janeiro de 1755, era subordinada à Diocese do Rio de Janeiro, cujo padroeiro é São Sebastião, daí as festas em louvor com lutas e embaixadas de Mouros e Cristãos. A jurisdição desta freguesia se estendia até Linhares no Espírito Santo. (SILVA, 2006)

No ano de 1767 foi criado o Conselho Administrativo, com sede na chamada Casa de Câmara. A partir daí Caravelas recebeu doação de verbas para a reforma da Capela Mor da Igreja de Santo Antonio, construção de uma casa de câmara-sobrado de taipa grossa, madeira e barro, três pontes e o novo Pelourinho, na Boa Vista, sendo o antigo, retirado do Largo que ficou conhecido como do Sossego, hoje Praça Doutor Emílio Imbassahy. No dia 08 de dezembro de 1811 foi criada a 1ª Correição Comarca de Porto Seguro no Termo da Vila de Caravelas. Com os migrantes suíços – Buschm, Peych e Fryreus, foi criada a Colônia Leopoldina para expansão da cultura do café e o porto de Caravelas exportava o produto para a Europa. Em 09 de maio de 1833 foi criada a Comarca de Caravelas, sendo instalada em setembro do mesmo ano, com jurisdição nas vilas do Prado, Alcobaça, Nova Viçosa e Mucuri, antes de sua emancipação política. Caravelas foi elevada à sede da comarca, entre as vilas de Alcobaça, Prado, Viçosa e São José do Porto Alegre (atual município de Mucuri). Neste século foi estabelecida a primeira linha marítima regular Salvador-Caravelas com 4 vapores. Em 1855, foi elevada à categoria de cidade com a denominação de Constitucional de Cidade de Caravelas, pela Lei Provincial de 23 de abril daquele ano. Consolidada como um dos mais importantes entrepostos comerciais da Bahia a província era a maior produtora de café. O destaque aumenta com a construção em 1880, da estrada de ferro que inspirou Milton Nascimento e Fernando Brant a comporem os versos: “Ponta de Areia ponto final _ da Bahia-Minas estrada natural...”_ , eternizada pela diva Elis Regina. A estrada ligava Minas Gerais a Bahia. A valente Maria Fumaça cumpria seus 578 km transportando as riquezas retiradas da Mata Atlântica, entre madeira, metais e pedras preciosas. No século XX, durante a revolução de 1930, mas uma vez Caravelas entra em cena, quando seu intendente, desejando defender a cidade das tropas mineiras, manda queimar a

ponte da estrada de ferro no Km 20. A construção da rodovia ligando Bahia a Minas, nos anos 1960, paralisou definitivamente as atividades na ferrovia que foi o sustentáculo econômico de Caravelas por quase um século. Desde 1983, a região integra o primeiro Parque Nacional Marinho do país, cuja atração maior é o mergulho submarino, reúne cinco ilhas: Redonda, Siribira, Santa Bárbara, Guarita e Sueste. Localizado a 70 quilômetros da costa, seu conjunto de recifes é considerado um dos mais raros e interessantes da América do Sul. (SECRETARIA DE CULTURA E TURISMO , 2002) A relação histórica entre Caravelas e migrantes cariocas ocorreu durante a 2ª Guerra Mundial, a cidade foi base militar do Brasil, de onde eram enviados soldados para os campos de batalha na Itália, sendo o Aeroporto das Conchas, local de movimentos militares. Isso fez com que muitos militares residissem na cidade e se tornassem cidadãos de Caravelas, constituindo famílias e formando a própria cidade que estava em expansão. A cidade de Caravelas localiza-se no Extremo Sul da Bahia, a 886 km de Salvador, na Costa das Baleias, segundo o PRODETUR (Programa de Desenvolvimento do Turismo). Hoje Caravelas apresenta um carnaval que alia dois elementos distintos no modo de fazer o carnaval: o Samba e o Axé, com a incorporação da escola de samba “Irmãos Portela”, criada em 1948 pelo Sr. Valdilon Lopes, conhecido popularmente por “Dilon” e o trio elétrico “Kitongo 2001” que chega a cidade em 1975, conforme pesquisas feitas aos caravelenses e o próprio criador da escola de samba.

2.4. Memória e História do Carnaval de Caravelas

“Se a memória se dissolve, o homem se dissolve”. Octávio Paz

A memória tem um caráter primordial para elevação de uma nação de um grupo étnico, pois aporta elementos para sua transformação e manutenção. Partindo do pressuposto que a “memória é a faculdade de reter idéias ou reutilizar sensações, impressões ou quaisquer informações adquiridas anteriormente” como afirma o dicionário da Língua Portuguesa (FERREIRA, 1989, p.334), percebe-se que essa memória proporciona lembrar da própria lembrança e não deixa que se apaguem as experiências adquiridas por todos envolvidos com aquele episódio. Desta forma, a memória é primordial na construção de uma identidade formada de um povo e de seus aspectos culturais. Um dos conceitos de Memória, na filosofia, significa a capacidade de reter um dado da experiência ou conhecimento adquirido e de trazê-lo à mente; e esta é necessária para constituição das experiências e do conhecimento científico. Toda produção do conhecimento se dá a partir de memórias de um passado que é consolidado no presente. “A memória pode ser entendida como a capacidade de relacionar um evento atual com um evento passado do mesmo tipo, portanto como uma capacidade de evocar o passado através do presente” (JAPIASSÚ e MARCONDES, 1996, p.178). Isso é muito perceptível quando temos a experiência de um sabor ou de um cheiro que percebíamos ou tínhamos enquanto criança, mais tarde, quando adultos, ao sentirmos o cheiro ou o sabor somos remetidos, voltamos ao passado e invocamos essa lembrança. Buscamos essa memória que está adormecida, não que a busquemos, mas ela vem à tona.

Existem lugares da memória, lugares a uma lembrança, que pode ser uma lembrança pessoal, mas também pode não ter apoio no tempo cronológico. Pode ser, por exemplo, um lugar de férias na infância, que permaneceu muito forte na memória da pessoa, muito marcante, independentemente da data real em que a vivência se deu (POLLAK, 1989, p.202)

A memória é sempre atual, pois a qualquer momento podemos evocá-la. É vivida no eterno presente; aberta à dialética da lembrança e do esquecimento; alimenta-se de lembranças vagas; telescopias, globais e flutuantes, e cria o sentimento de pertencimento, identidade, e etc. Estas são algumas características da memória que fornecem um arcabouço de conhecimento a si mesmo. A memória sabe. Em contrapartida, pode-se observar que ao mesmo tempo em que um grupo quer esquecer, outros testemunharam acontecimentos e querem inscrever suas lembranças contra o esquecimento, para que a memória continue viva. É a luta pelo não esquecimento. Surge aí a resistência de grupos que não querem esquecer suas memórias pelo contrário querem preservá-las, para que as futuras gerações saibam dos acontecimentos por eles vividos.

A memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um falar extremamente importante do sentimento de continuidade de coerência de uma pessoa de um grupo em sua reconstrução de si (POLLAK, 1992, p. 204)

Porém essa memória não pode ser enquadrada, emoldurada de acordo com os interesses próprios, pois é livre, e atua em seus personagens de forma bastante fluida sem interferências. Emerge repentinamente remetendo à lembrança do já vivido. Pode ser construída consciente ou inconsciente, pois o que a memória grava, recalca, exclui, relembra é o resultado de um trabalho de organização. A memória histórica constitui um fator de identificação humana, é a marca ou o sinal de sua cultura. Reconhecemos nessa memória o que nos distingue e o que nos aproxima. Identificamos a história e os seus acontecimentos mais marcantes, desde os conflitos às iniciativas comuns. E a identidade cultural define o que cada grupo é, e o que nos diferencia uns dos outros. A memória tem finalidades, Wehling e Wehling, afirma que:

A memória do grupo sendo a marca ou sinal de sua cultura possui algumas evidências bastante concretas. A primeira e mais penetrante dessas finalidades é o da própria identidade. A memória do grupo baseia-se essencialmente na afirmação de sua identidade (WEHLING e WEHLING, 2003, p.13)

A ligação entre memória e identidade é tão profunda que o imaginário históricocultural2 se alimenta destes para se auto-sustentar e se reconhecer como expressão particular de determinado povo.

A memória não pode ser entendida como apenas um ato de busca de informações do passado, tendo em vista a reconstituição deste passado. Ela deve ser entendida como um processo dinâmico da própria rememorização, o que estará ligado à questão de identidade (SANTOS, 2004,p.59)

Sendo assim, rememorizada, ela não se deixa cair no esquecimento e vai sendo refrescada constantemente, sendo grafada, narrada, ou tornando-se fonte-histórica, aproveitando da “memória social que é um dos meios fundamentais de abordar os problemas do tempo e da história” (LE GOFF, 1996, p.426) A identidade cultural é uma possibilidade de realização dos homens, em que a população deve valorizar o seu passado e se renovar de acordo com o seu processo criativo e dinâmico que é próprio da cultura. A memória também é susceptível a erros e manipulações conforme os interesses de um determinado grupo.

A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os erros e manipulações, susceptível de longas latências e de repentinas revitalizações. (NORA, 1981, p. 09)

A memória, é aqui ressaltada, pois é indispensável para rememorar os antigos carnavais de Caravelas e suas transformações ao longo do tempo, marcado por alegrias e 2

Entendo por imaginário histórico cultural, as memórias que misturam ficção com dados reais, sem distinguir o que é ficção ou realidade e isso contribui para a sustentação de determinadas expressões históricos culturais que estão no imaginário coletivo.

magia que o carnaval tem a possibilidade de proporcionar aos seus partícipes e seus organizadores, que de uma forma especial se dedicam a todos os detalhes da grande festa carnavalesca.

Figura 3 – Baile da Saudade no Clube dos 40, Caravelas. Fonte: Dandara Zumbi, anos 60.

O carnaval de Caravelas começa com blocos fechados, que são chamados de agremiações, bastante sofisticadas. Poucos fazem parte da festa devido à discriminação social existente e exacerbada nesse período, onde a elite tem seus lugares e o popular o seu. Em Caravelas, o Clube dos 40, despontou como sendo a grande atração carnavalesca da elite, e conseqüentemente branca, e os negros não tinham acesso aos bailes deste clube. Ficou conhecido por clube dos 40, pois quarenta pessoas da cidade foram seus idealizadores e fundadores. A agremiação possui um espaço físico e nos carnavais são realizadas festas carnavalescas com sofisticação, onde a elite caravelense está presente. O clube dos 40 se empenhava na ornamentação do espaço da festa onde aconteciam bailes. No espaço popular, negros, índios e mestiços se agregavam no Turunas, na Mãe Preta e na vitória. Seus desfiles eram bastante caprichados e os embates de ruas com o clube dos Quarenta, eram uma com bastante. A festa carnavalesca permitia que os choques de poder se expressassem de forma mais clara.

A festa carnavalesca de Caravelas comportou uma diversidade de atividades brincantes: o entrudo, o Zé Pereira, o corso e os bailes dos clubes, animados pelas disputas entre fantasias e ornamentações. Sobre o corso que se constituía desfile de carros ornamentados ocupado por grupos familiares ricamente fantasiados (geralmente de forma temática e uniforme) Queiroz (1999, p.17), na sua obra Carnaval brasileiro afirma que:

Era ponto pacífico, o entanto, que os pobres não poderiam divertir-se exatamente como os ricos, isto é, com a mesma intensidade; crianças e jovens de menos recursos não iam ao corso, a não ser que parentes ricos os convidassem; caso contrário, ficariam em seu próprio bairro, travando batalhas de confete com as crianças dos vizinhos.

A cidade de Caravelas viveu a época do corso e essa separação do “modus” brincante. Em fotos cedidas pelo Dandara Zumbi, uma ONG que trabalha com afirmação da cultura negra, nota-se a opulência dos desfiles do corso (figura 04 e figura 05).

Figura 4 - Grupo de rapazes em Carro alegórico em frente ao clube dos 40 onde o desfile do corso irá acontecer pelas ruas. Fonte: Dandara Zumbi, 1930.

Figura 5 - Moças e rapazes da elite caravelense no desfile do corso pelas ruas históricas de Caravelas. Fonte: Dandara Zumbi, 1930.

O entrudo se faz presente na festa carnavalesca caravelense, de forma resignificada, existe a brincadeira de jogar farinha e água entre os foliões, além dos bloco dos sujos que se enlameiam com lama do mangue, e saem jogando lama entre os pares brincantes. A cidade de Caravelas teve muitos Zés-Pereiras, cordões organizados pelo Sr. Rozalino, tocados ao som do banjo ou do trompete de Zeca de Ramiro, nos carnavais dos anos de 30 até 40. Essas manifestações carnavalescas não são as únicas, mas são as que melhor expressam o período festivo. No ano de 1948 foi criada uma escola de samba por filhos da terra e amantes do samba da Portela no Rio de Janeiro. A escola de samba “Irmãos Portela”, em Caravelas, se tornará a expressão do samba carioca em terras baianas. Dirigida atualmente pela presidente Srª Dilma Serafim Lopes Teles, sobrinha do seu criador, no cargo desde 17 de fevereiro de 1976. Em 1975 o carnaval caravelense se rende a grande invenção baiana o primeiro trio elétrico, o Kitongo 2001, fazendo grande sucesso e logo outros trios se agregaram tornandose cada vez mais sofisticados.

No ano de 2002 surge outra Escola de Samba com dissidentes da Irmãos Portela, que foi a Coroa Imperial.

2.5. Multiplicidade e Hibridização

“Entendo por hibridação processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas”. Nestor García Canclíni

O carnaval brasileiro vem passando por várias mudanças ao longo do tempo, estando intimamente ligado à cultura de uma dada formação história. Caravelas demonstra essas transformações, apresentando atualmente um carnaval que aponta para um processo de hibridização. Para a reflexão do hibridismo nos apoiamos em dois teóricos, Canclini e Hall que conseguem de forma tão simples traduzir esse conceito que sempre foi usado pelos biólogos, e que passa a ser apropriado pelas Ciências Humanas e Sociais. Os diversos processos culturais no fim do século XX discutem e descrevem os processos interétnicos, a globalização, as viagens, as fusões artísticas, literárias e comunicacionais. Assim, como no plano biológico, a hibridação resulta em variedades de elementos e contribui para a sobrevivência ante mudanças que podem vir a ocorrer. Com afirma Hall.

A etnia é o termo que utilizamos para nos referirmos as características culturais – língua, religião, costume, tradições, sentimentos de “lugar” – que são partilhados por um povo. É tentador, portanto, tentar usar a etnia dessa forma “fundacional”. Mas essa crença acaba no mundo moderno, por ser um mito. A Europa Ocidental não tem qualquer nação que seja composta de apenas um único povo, uma única cultura ou etnia. As nações modernas são, todas, híbridas culturais (HALL, 2003, p.62)

Híbrido se refere à mistura de hábitos, crenças, costumes e formas de pensamentos de várias sociedades, com diferenças étnicas, e de produtos de tecnologias diversas e dos vários processos sociais modernos e pós-modernos. Pode-se considerar, também, a hibridação, como um processo de misturas interculturais geradas pelas integrações dos Estados, dos populismos políticos e das indústrias culturais.

Entendo por hibridação processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas. Cabe esclarecer que as estruturas chamadas discretas foram resultado de hibridações, razão pela qual não podem ser consideradas puras. (CANCLINI, 2000, p.14)

O carnaval de Caravelas apresenta dois modos de fazer carnaval, o samba e o axé, que por sua vez são produtos de um longo processo de hibridização. De ambos, sabemos de suas origens africanas.

Controversas quanto origem do samba ainda estão presente no meio

intelectual, afinal o samba é carioca ou baiano. Não importa, tornou-se um emblema do carnaval carioca assim como o axé caracteriza o baiano e o frevo o pernambucano. Além das Escolas de Samba e dos trios elétricos, no carnaval, os blocos de índios,como os turunas, blocos afros, também estão presentes. O axé é uma indústria fonográfica cultural e, a cada ano, despejam no cenário baiano diversas bandas e músicas com o seu etilo próprio, de raízes afro, e também excêntrico com a música de ritmos e gingados que é a marca da Bahia, sendo assim híbridas todas essas representações culturais. Gey Espinheira (1999, p.167), afirma que:

O carnaval não é mais, seguramente, como ele foi outrora, uma festa de espontaneidade múltiplas, de acordos tácitos das diferenças, mas se tornou um evento, no mesmo tempo e lugar, com uma programação planejada pela indústria cultural e referida por ela e para ela. Nesse sentido, o participante do carnaval é figurante de uma grande encenação, em que os protagonistas são aqueles que conquistaram e que disputam a permanecia no mercado dos bens culturais, numa arte mais geral de outros bens industrializados, carnavalizados, em suas representações.

Hoje tudo está dentro de uma certa política cultural, e disputa o poder para se firmar no mercado. O carnaval de Caravelas não está fora desse padrão global, percebe-se que as empresas de blocos que são criadas têm por objetivo industrializar o carnaval. E aqueles que brincam a festa ficam sendo puros espectadores das brigas entre cervejarias e dos blocos com seus abadás.

Figura 6 – Trio elétrico nas ruas de Caravelas, 2006.

Figura 7 – Ala das Baianas na escola de samba Irmãos Portela, Caravelas, 2006.

Hall (2003) revela que as culturas são cada vez mais mistas, devido informações e convenções que vão se formatando ao longo do tempo e impondo comportamentos homogêneos.

Em Caravelas, nota-se essa cultura mista representada pelos portugueses, africanos e indígenas, e essa mistura étnica, ainda hoje, se apresenta na forma das manifestações culturais existentes no município. E a convivência e a coexistência de blocos afros, de blocos de índios, de escolas de samba e trios elétricos com o seu axé, dançados e cantados pelos mesmos foliões dentro de uma mesma espacialidade nos leva a pensar com Hall.

Hibridismo não é uma referência à composição racial mista de uma população. É realmente outro tempo para a lógica cultural da tradução. Essa lógica se torna cada vez mais evidente as diásporas multicultuais e em outras comunidades minoritárias e mistas do mundo pós-colonial [...] O hibridismo não se refere a indivíduos híbridos, que podem ser contrastados com os “tradicionais” e “modernos” como sujeitos plenamente formados. Trata-se de um processo de tradução cultural agonístico uma vez que nunca se completa, mas que permanece em sua indecidibilidade. (HALL, 2003, p.74)

Nessa tradução cultural, o hibridismo está sempre em transição, pois se aproxima e se afasta daquela sociedade de acordo com o momento, e o evento híbrido se torna indecifrável, convivendo com tradições e o modernismo, nesse binarismo, num processo constante de tradução. Caravelas apresenta assim, um carnaval com manifestações múltiplas de expressões culturais, que poderá com o tempo se tornar um evento híbrido com uma possibilidade de com a presença das escolas de samba, Irmãos Portela e a Coroa Imperial, bem como os trios elétricos convivendo no mesmo espaço carnavalesco, nascer outra forma de expressão. Nessa tradução, a cultura se apropria de símbolos e cria uma realidade, como afirma Miceli (1998, p.13): “O simbólico cria uma segunda realidade ou realidade segunda, chamada a realidade simbólica. A cultural produz e inculca essa realidade simbólica, o que é indissociável da função política dessa realidade simbólica”. E o simbólico é um modo arbitrário de representar o mundo, já que não é a verdade ali, mas a representação que se faz dela.

A representação cultural como combinação de símbolos é salientada por Canclini que afirma:

Toda cultura é resultado de uma seleção e de uma combinação, sempre renovada, de suas fontes. Dito de outra forma; é produto de uma encenação, na qual se escolhe e se adapta o que vai ser representado, de acordo com o que os receptores podem escutar, ver e compreender. As representações culturais, desde os relatos populares até os museus nunca apresentam os fatos, nem cotidianos nem transcendentais: são sempre re-apresentações, teatro simulacros. (CANCLINI, 2000, p.201)

A cultura representada pelos caravelenses é uma combinação de elementos cênicos representando o tradicional e o novo, com o intuito de relatar uma história dos carnavais, sendo, portanto, uma simulação da realidade, já que a realidade sempre será única e as formas de representações é que serão diversas, tornando-as uma teatrialização do que já ocorreu. Tendo esse potencial cultural, destaca-se em Caravelas a prática de um turismo específico, ou seja, o Turismo Cultural que Moletta define:

Turismo cultural é o acesso a esse patrimônio cultural, ou seja, à história, à cultura e ao modo de viver de uma comunidade. Sendo assim, o turismo cultural não busca somente lazer, repouso e boa vida. Caracteriza-se, também, pela motivação do turista em conhecer regiões onde o seu alicerce está baseado na história de um determinado povo, nas suas tradições e nas suas manifestações culturais, históricas e religiosas (1998, p. 9-10).

É na perspectiva do turismo cultural que Caravelas se desponta com todo o arcabouço diverso de cultura, principalmente manifestada no carnaval, num evento que aglutina vários foliões, que se identificam com essas expressões culturais (escolas de samba, blocos afros, blocos indígenas, etc). O turismo cultural é um tipo de turismo que está crescendo devido a uma parcela cada vez maior da população que procura conhecer as atrações culturais que os destinos oferecem, e assim o turista opta pelo turismo essencialmente cultural, para se inserir na comunidade e em tudo aquilo que ela possui e cria, enquanto patrimônio cultural.

E por isso que hoje o turismo cultural se desdobra em tantos títulos: ecológico, antropológico, religioso, arqueológico, artístico, arqueo-teosófico e muitos outros. São turismos de moda ou de avanço humano, na dependência do tipo do valor que domina as preocupações da sociedade em um dado momento, e que se caracterizam por necessidades sentidas e estabelecida, que lhe permitem uma busca para adentrar em novas dimensões, em um desconhecido investigável, experimental, na teoria e na prática (BENI, 2003, p.88)

Quando se fala em turismo cultural, o mesmo abrange todas as manifestações culturais, que estão inclusas num conjunto de crenças, valores e técnicas para lidar com o meio ambiente. Como não existe uma só cultura e sim várias estas expressões culturais devem ser valorizadas e preservadas não apenas em função do turismo, mas como herança cultural do povo e como elementos da história e da memória deste. As pessoas que trabalham com o turismo devem, em primeiro lugar, respeitar a alteridade dos diferentes povos e conseqüentemente todas as expressões culturais advindas destes. Faz-se necessário para o desenvolvimento do turismo cultural um planejamento tanto da parte do poder público como privado, privilegiando um produto específico da cultura, não esquecendo dos outros produtos, mas eles podem ser acessórios a mais da comunidade que tem o potencial turístico.

O desenvolvimento da cultura e do turismo cultural, numa perspectiva integrada com outros setores, deve fazer parte de qualquer plano de desenvolvimento local ou regional, no qual a colaboração estratégica entre a administração pública e as empresas privadas assume um papel privilegiado. Outro aspecto é o compartilhamento de experiências entre diferentes cidades, particularmente as que apresentam produtos turísticos diferenciados e numa programação integrada podem beneficiar-se mutuamente. (DIAS, 2003, p.175)

A programação integrada em localidades próximas para apresentação do produto turístico é bastante visível e possível em Caravelas, visto que Prado e Alcobaça, cidades vizinhas têm como ponto forte o turismo de Sol e Praia, que já vem sendo explorado. Especificamente em Caravelas o seu potencial está nos aspectos culturais, como afirmam Batista e Ávila:

A cidade de Caravelas possui várias manifestações culturais que fazem parte da comunidade local e que representam o movimento cultural existente nesta cidade, como por exemplo: a luta de mouros e cristãos, a festa religiosa de Santo Antonio, os grupos folclóricos, e especialmente, a Escola de Samba e o Axé que são as marcas maiores do seu carnaval. Essas formas de criações e demonstrações artísticas fazem parte do patrimônio histórico cultural da cidade (2005, p.7)

O patrimônio cultural é importante para as atividades turísticas, pois o turismo é o eixo da promoção e da divulgação da cultura, garantindo também o desenvolvimento sustentável da localidade. O turismo cria um espaço de encontro, de um lado está à cultura do anfitrião, e do outro, está à cultura do visitante. O turismo cultural expressa duas vertentes ligadas ao desenvolvimento humano, que é a cultura como um modo de ser de uma sociedade e o turismo que é a busca das diferenças através do deslocamento. Para discutir o turismo cultural as pessoas buscam a diversidade cultural, a identidade dos povos em seus bens materiais e imateriais, e as experiências adquiridas a partir das manifestações artísticas de outras localidades, destacando as suas motivações, valores e produtos oferecidos. Assim, o turismo cultural é um tipo de turismo que por um lado preserva e valoriza as expressões culturais dos povos, mas por outro lado, pode vir a modificá-las, tornando essas mesmas expressões apenas como atrações turísticas, não respeitando a comunidade local, o que pode vir a interferir na dinâmica de desenvolvimento das cidades. Para isso, é preciso que a atividade turística seja realizada de maneira sustentável, para que não ameace as manifestações culturais da localidade, como coloca Julia Azevedo:

A procura por manifestações exóticas ou mesmo por patrimônios únicos (curiosamente crescente no mundo globalizado) está resultando em dilemas para o turismo cultural: tem-se, de um lado, a entrada de recursos e, de outro, a possibilidade de verdadeiros atentados à cultura local, com as comunidades anfitriãs chegando a considerar que o poder de compra dos turistas representa uma ameaça à sua cultura e tradição. O impacto do turismo no patrimônio e na cultura tem sido de tal monta que organismos internacionais (UNESCO, OMT, PNUB, Banco Mundial) resolveram atuar em parceria, visando estimular pesquisas e conceber estratégias para proteção, a longo prazo, do patrimônio cultural, e

insistindo na posição de que o desenvolvimento do turismo tem que beneficiar as populações locais (AZEVEDO, 2002, p.162)

O turismo deve trabalhar com o espaço da comunidade existente, redescobrindo seus valores, seus sentidos e suas riquezas culturais, para que possam ser valorizados através dos viajantes, que entrem em contato com a identidade de grupos sociais, detentores dos bens culturais de uma comunidade. A atração cultural torna-se a principal motivação da viagem, existindo uma relação intrínseca entre cultura e turismo, na medida em que as localidades turísticas se apresentam vinculadas a fatores culturais como o artesanato, a gastronomia, a arquitetura, a história e as apresentações artísticas. Atualmente o turismo cultural é um dos segmentos que vem se destacando e uma das causas deste fato deve-se ao interesse do turista em conhecer e visitar locais que possuem história, patrimônio e arte, enfim, locais que tragam experiências culturais, sejam essas abstratas ou concretas, propiciando um turismo que não tem somente a intenção de consumir bens tangíveis, mas de abstrair das vivências passadas direcionamentos para as vivências atuais e futuras. Ao se apropriar dos bens intangíveis, que se fixam na experiência de cada turista, existe a diferença entre o falar de determinados locais do turismo cultural, pois não é o mesmo que se fazer partícipe deste. No carnaval a representatividade da região de Caravelas fica visível, porque consegue atrair foliões de outras regiões e localidades. Os limites regionais são quase inexistentes, pois o carnaval caravelense é sem dúvida um carnaval regional onde todos o abraçam como sendo partícipes e construtores do mesmo. Esse carnaval expressa um dos bens imateriais desta comunidade.

O carnaval torna-se assim um bem imaterial da cidade, que faz parte do turismo cultural, onde as pessoas ao fazerem parte desta manifestação artística, buscam se identificar com a diversidade cultural desta localidade. Esta manifestação se enquadra na definição de patrimônio cultural, que está na Constituição Federal Brasileira de 1988, principalmente no Artigo 216 que trata da cultura: “inclui os bens materiais e imateriais como as formas de expressão, os modos de criar, fazer e

viver, as criações científicas, artísticas e tecnológicas, obras, objetos, documentos, edificações e às manifestações artístico-culturais”(BATISTA e ÁVILA, 2006, p.8 ).

Caravelas é rica de bens materiais e imateriais que fazem parte do seu legado histórico cultural. Entre os atrativos culturais de Caravelas, destacam-se a Igreja Matriz de Santo Antonio, de estilo barroco colonial português (figura 08) e a Igreja de Santa Efigênia (figura 09), com imagens sacras em estilo barroco (português e espanhol) dos séculos XVII e XVIII. Os casarões da cidade, principalmente da rua Barão do Rio Branco(figura 10), casas térreas em estilo neoclássico _ arte nouveau _ são de meados do século XIX, com fachadas e azulejos de Macau na África.

Figura 8 - Casarão de Seu Alfredinho. Fonte: .

Figura 9: Igreja de Santa Efigênia Fonte: .

Figura 10: Casa da rua Barão do Rio Branco Fonte: .

3. TURISMO COMO BUSCA DE QUALIDADE DE VIDA.

3.1. Turismo uma visão conceitual em questão

“Turismo é o conjunto de atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao de seu entorno habitual, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano, com o objetivo de lazer, negócios ou outros motivos, não relacionados com uma atividade remunerada no lugar visitado”. Reinaldo Dias

Para falarmos do Turismo em Caravelas, faz-se necessário, antes de tudo, compreender o fenômeno do turismo, buscando o ferramental teórico que nos ajude a aprender e apreender conceitos sobre o mesmo. O que é? Como se dá? É um fenômeno passageiro? É uma atividade puramente econômica? Essas são algumas perguntas que vem sempre acompanhando a todos que se debruçam a estudá-lo. O primeiro conceito analisado aqui será o da (OMT), e Fernandes e Coelho (2002, p.19) o descreve: “A (OMT) Organização Mundial do Turismo o define como: ‘o deslocamento para fora do local de residência por período superior a 24 horas e inferior a 1 ano motivado por razões não econômicas’”. São vários os significados para o fenômeno do turismo, há aqueles que vêem nessa atividade somente o fator econômico, outros enxergam os aspectos culturais de uma comunidade. Porém uma coisa é certa, todos os demais autores não descartam a idéia de que o turismo é um fenômeno social, que trabalha eminentemente com pessoas que estão em busca de prazer, sujeito a imprevistos, por se tratar de uma atividade humana, no seu dia a dia, requer uma inter-relação entre todos seus executores. O conceito de turismo transcende ao definido pela OMT, pois o fator econômico também pode ser uma característica do turismo, é o caso do turismo de negócios onde as

motivações principais dos participantes são os negócios que serão firmados no evento e claro que os mesmos poderão fazer um city-tour pela cidade, conhecendo assim suas belezas. Mas não se deve dar ênfase somente ao enfoque econômico desta atividade, porque como diz BARRETO (2003, p.25), “o turismo é um fator social”, como tal tem que ser levado em conta toda à produção da sociedade com seus aspectos histórico-culturais. Avigh afirma que:

A visão exclusivamente econômica oculta os laços entre a indústria do turismo e a pessoa do turista, reduz o imaginário da viajem e artefatos culturais (museus, restaurantes), oculta a imaginação e a cultura do turista, ou seja, o que o turista é ou poderia ser. Um novo modelo, mais afim da conformação atual do mercado, vê o turista como pessoa que participa, e na participação intervêm a imaginação e a cultura, o prazer e a inteligência. É desta forma que o turismo fornece ao turista o acesso ao mundo (AVIGHI, 2000 , p.114).

Vários autores estão discutindo o turismo na perspectiva de valorização das características culturais de cada lugar, e através da cultura local propiciar à comunidade um produto turístico. De um lado é interessante desenvolver alternativas para um turismo que não é puramente econômico, mas por outro lado pode-se mascarar uma realidade que não condiz com a vivida por aquela comunidade. Banducci Jr e Barreto (2001) explicam como o processo de turistificação pode ser catastrófico se não houver um planejamento e aonde a construção da identidade vai sendo inventada para interesses próprios.

A identidade turística dos lugares é uma construção social, feita de tradições inventadas e de construções culturais atendendo aos mais diversos interesses: Ouro Preto, Urussanga, Rio, os pataxós, Canasvieiras. O processo de turistificação (transformação em lugar turístico) dá-se ao sabor do mercado, de empreendedores isolados, quase sempre sem planejamento. Formamse estereótipos. Tudo é movimento (BANDUCCI JR e BARRETO , 2001, p.18)

O cenário contemporâneo vem se consolidando como pólo propulsor do desenvolvimento do turismo devido à busca incansável da população em melhor qualidade de

vida e conseqüentemente de tempo livre para se dedicar ao lazer, com este tempo livre, graças às facilidades proporcionadas pelo mundo globalizado, o número de turistas vem aumentando a cada década. O turismo é uma atividade que vem crescendo nos últimos anos, isso devido a procura das pessoas em lazer e divertimento, saindo do seu habitat para conhecer novos lugares e novas culturas que são diversas. “O turismo tem evoluído substancialmente ao longo do tempo, especialmente a partir da segunda metade do século XX, e é considerado nos dias de hoje o segmento que exibe um dos maiores crescimentos no mundo dos negócios”. (FERNANDES e COELHO, 2002, p.4) Essa atividade a cada dia supera todas as estimativas previstas para ela. Assim por turismo entende-se que:

“É o conjunto de atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao de seu entorno habitual, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano, com o objetivo de lazer, negócios ou outros motivos, não relacionados com uma atividade remunerada no lugar visitado. Importante assinalar que o turismo compreende todas as atividades dos visitantes, tanto de turistas como de excursionistas.” (DIAS, 2003, p.45).

A atividade turística, a cada momento vem se destacando, e a produção desta envolve toda uma questão econômica, social e cultural, fazendo com que certas mudanças sejam tomadas a partir destes aspectos e não os desvalorizando. Trigo afirma que:

O turismo beneficia-se diretamente da nova ordem que surgiu nas sociedades pósindustriais, fruto de uma nova conjuntura internacional, das mudanças culturais e do crescimento econômico em alguns setores do mundo. A atividade turística passou a ser um espaço privilegiado da produção, na medida em que se tornou uma das ocupações sofisticadas do setor terciário. Deixou de ser um entreposto sem grande importância de relacionamentos humanos superficiais e modas passageiras para ser um produtor e veiculador de atitudes, estilos de vida e novos padrões comportamentais. O turismo, juntamente com o mundo dos negócios em geral, com o campo das artes e das comunicações, do lazer e da educação começou a fazer parte de uma sociedade extremamente ativa, questionada, mutável e multifacetada (TRIGO, 1993, p.65-66)

Depois da Revolução Industrial, que subsidiou as bases de consolidação das sociedades contemporâneas, houve uma nova configuração na forma de perceber a realidade e fazer parte da mesma. A população começa a ter mais tempo livre e, por sua vez, busca melhor qualidade de vida, fazendo com que as empresas identifiquem um potencial para explorar as pessoas que querem fazer turismo. O setor terciário cresce a cada ano, tornando-se o espaço da produção para o desenvolvimento da atividade turística, que vem sendo incorporada com padrões comportamentais de toda uma população, para aperfeiçoar o seu tempo e sua renda, em função do turismo de qualidade, que valoriza as expressões culturais da comunidade que se quer conhecer.

O turismo, na verdade, tem-se demonstrado um fenômeno mais complexo do que querem fazer parecer os estudos mais apressados. Tendo em vista a quantidade de pessoas envolvidas, o número de países que têm essa atividade como fonte significativa de divisas de sua economia, e os inúmeros tipos de comunidade afetada, o turismo não é um fenômeno fácil de ser apreendido em suas múltiplas manifestações. Os teóricos do turismo, particularmente aqueles que o analisam do ponto de vista das ciências sociais, concordam em um aspecto; o turismo é um fenômeno extremamente complexo, mutável, que opera de múltiplas formas e nas mais diversas circunstâncias, sendo difícil apreendê-lo, em sua totalidade, por meio de uma única perspectiva teórica ou mesmo de uma única ciência. (BANDUCCI JR., 2001, p.23)

Na realidade, o fenômeno do turismo é muito complexo, e ele necessita da ajuda de outros olhares das ciências para sua melhor compreensão. O turismo deve ser tratado de forma criteriosa, bem como os seus atrativos e as comunidades envolvidas por essa turistificação, pois é muito delicado transformar um atrativo qualquer em um processo de espetacularização para o turista ver, principalmente quando se fala de alguma cultura.

A dimensão da irrealidade do mundo turístico fica bem exemplificada nas chamadas “atrações turísticas”, em face da sobreposição de realidade turística atribuída a espaços físicos naturais, arquitetônicos, artísticos etc., ou seja, de conjuntos arquitetônicos a um utensílio qualquer, tudo pode ser tratado

turisticamente, como elemento de algo representado, encenado para turista ver, produzindo assim a materialialização do “pseudo-evento/realidade” (ARAÚJO, 2001, p.57-58).

Esse fenômeno turístico deve ser visto com muita cautela para que o processo de turistificação não seja uma nova realidade imposta pelos seus idealizadores. Hoje, na sociedade pós-moderna, as facilidades no modo de produção e de levar a vida individualmente faz com que os homens tornem-se livres e com tempo ocioso, tempo livre que desperta a necessidade de ocupá-lo da melhor maneira possível, neste caso com o turismo, que vem para preenchê-lo com o lazer e divertimento. Esse fenômeno vem crescendo muito nas sociedades pós-industriais.

Em tempos gerais os cientistas sociais e os técnicos estão de acordo em qualificar o turismo como fenômeno. Contudo ele se tipifica como fenômeno pela natureza do âmbito em que se manifesta, e então se fala do turismo como fenômeno social, econômico ou cultural. Essa qualificação, embora limitada, é compreensível, uma vez que tais manifestações existem e tem uma relativa importância segundo os interesses ou as vivências dos grupos que a formulam. (BOULLON e et all, 2004, 92-93)

O fenômeno turístico traz oportunidades para os seus receptores e agentes, benefícios tanto na área social, econômica, quanto cultural, é forte componente para o desenvolvimento local e deve ser planejado, acima de tudo, para uma sustentabilidade turística que visa a otimização dos recursos disponíveis do turismo com responsabilidade. Muitos autores de várias áreas do saber já deram sua contribuição para a conceituação de turismo, Beni no seu livro Análise Estrutural do Turismo cita o conceito de Turismo de forma holística proposto por Jafar Jafari. “É o estudo do homem fora de seu local de residência, da indústria que satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria, geram sobre os ambientes físico, econômico e sócio-cultural da área receptora”. (APUD, BENI, 2003, p.36)

Esse conceito sintetiza o fenômeno turismo, pois alia aspectos ambientais, econômicos, sócio-culturais de uma determinada localidade, tendo como base a ação do homem e suas relações com o outro e com a área receptora turística.

3.2. O Turismo no Carnaval de Caravelas

O turismo se apresenta como uma alternativa econômica e uma possibilidade de alavancar o município que desenvolve qualquer atividade turística. Em Caravelas, o turismo já é uma realidade, principalmente o turismo ecológico que atrai bastante turistas que estão em busca de um encontro com a natureza. Devido à proximidade do Arquipélago Nacional Marinho de Abrolhos, uma reserva ecológica (figura 11), Caravelas é bem procurada para hospedagem, principalmente na época em que as baleias Jubarte visitam a costa brasileira em busca de águas mais quentes.

Figura 11 – Arquipélago de Abrolhos onde é praticado o turismo ecológico. Fonte: .

Por ser Caravelas o local mais próximo ao arquipélago, visitantes de outros estados e de outros países freqüentam e permanecem na cidade. Outro tipo de turismo que cresce nesta cidade é o Turismo Cultural que tem um público específico, onde os mesmos estão a procura de história e de experiências, procuram

vivências particulares que não se encontra em outros lugares, mas em lugares específicos que têm na sua estrutura aspectos histórico-culturais. Em Caravelas nota-se um arcabouço de culturas diversas que encanta a todos que visitam a cidade. Toda a cidade respira cultura e culturas variadas, dos negros, dos índios e dos brancos que ali viveram e deixaram o legado cultural que hoje nós temos oportunidade de conviver, quer seja pelas ruas dos antigos casarões, quer seja nos grupos folclóricos, das festas e principalmente do carnaval que é a manifestação de todos os grupos culturais em uma apresentação aberta ao público. Caravelas é uma cidade histórica, e sua história se confunde com a própria história do Brasil, visto que a cidade foi uma das primeiras vilas a serem construídas. Pela sua história, bem como pelos aspectos políticos, sociais e econômicos fez a pujança do seu nome, na região, na Bahia e no Brasil. A cidade de Caravelas tem uma boa estrutura turística, devido ao turismo ecológico e ao turismo cultural que são bastante divulgados na cidade. Em um questionário feito pela Bahiatursa, em 2006, à prefeitura da cidade observou que a população da cidade é de 20.130 habitantes, sendo 10.332 da zona urbana e 9.798 da zona rural. A cidade tem limites com Alcobaça, Nova Viçosa, Teixeira de Freitas, Ibirapuã, Lajedão e Medeiros Neto. Nos meios de hospedagem verificou-se números de 754 leitos divididos em 17 pousadas e hotéis. Existe 4 agências de viagens que divulgam a cidade e preparam pacotes turísticos para a localidade que tem Abrolhos como sendo o maior atrativo turístico. Nota-se que, o destino de Caravelas ainda é pouco explorado, isso ocorre devido a concorrência com o município do Prado, e também pela falta de iniciativas do poder público e privado. Alguns empreendedores da cidade começam a se preocupar com essa falta de turistas durante o ano, e também com o fato de que alguns só procuram a cidade no período do Carnaval.

Porém o município tem como ser referência turística dentro da Zona da Costa das Baleias, pois possui outros produtos como suas riquezas naturais e culturais ainda não vendidas. Faz-se necessário urgentemente uma ação conjunta de empreendedores e o poder público local, bem como estadual, que se torna omisso em suas políticas públicas favorecendo o município do Prado em detrimento dos demais em sua volta, adotarem estratégias de promoção visando atrair visitantes durante o ano todo. Irving (2002a) afirma que:

O desenvolvimento da atividade turística qualifica de “sustentável” exige a incorporação de princípios e valores éticos, uma nova forma de pensar a democratização de princípios e valores éticos, uma nova forma de pensar a democratização de oportunidades e benefícios, e um novo modelo de implementação de projetos, centrado em parceria, co-respopnsabilidade e participação. (IRVING, 2002a, p.17)

O turismo só será desenvolvido com responsabilidade, e buscando a sustentabilidade quando todos os seus agentes e participantes trabalharem em conjunto, com seriedade e integração. Caravelas, como em qualquer outra localidade turística, deve levar em conta o planejamento estratégico, pois o mesmo vai apontar várias ações que se forem abraçadas e levadas a sério obterão êxito na sua implementação. Pois o planejamento, é um recurso importantíssimo para o desenvolvimento da cidade, que possui grande potencial turístico; porém faz-se necessário que sejam praticados por quem é de direito, firmando assim a parceria e co-responsabilidade pelo desenvolvimento turístico. Percebe-se que o fluxo de turistas na época da festa carnavalesca em Caravelas é superior aos dos outros períodos do ano, a festa alia cultura, divertimento, sossego e beleza. O carnaval começa deste a quinta-feira e vai até a terça-feira antes da quarta-feira de cinzas, existindo vários eventos importantes na festa carnavalesca de Caravelas. Inicia-se com a Escolha do Rei Momo e Rainha do Carnaval, com a participação de várias bandas regionais e dois trios elétricos. No sábado os trios de marchinhas saem recordando as músicas antigas do

carnaval e a Escola de Samba Coroa Imperial (escola fundada no início de 2000). Domingo é o dia mais esperado e o de maior fluxo de pessoas na cidade, pois a Escola de Samba Irmãos Portela, a mais antiga com 49 anos de idade, desfila. Entre esses momentos de trios elétricos e escolas de samba, temos aindao muito concorrido baile de carnaval, no Clube dos 40, que revive toda a energia das festas carnavalescas em clubes fechados. Durante esse período a rede hoteleira de Caravelas superlota, pois muitas pessoas da região não perdem o carnaval mais concorrido da Zona da Costa das Baleias.

3.3. Perfil sócio-econômico e cultural dos turistas do Carnaval de Caravelas

A pesquisa sobre o perfil sócio-econômico e cultural dos turistas no Carnaval de Caravelas de 2006 foi feita nos dias, 26,27 e 28 de fevereiro, respectivamente no domingo, segunda-feira e terça-feira de carnaval, onde o fluxo de turistas foi maior. Foram entrevistadas 268 pessoas. Adotou-se a pesquisa por exaustão, incluindo o maior número possível que pudesse ser feita. A pesquisa seria feita com uma equipe de 10 pessoas que foi treinada para tal, porém somente 2 dessas pessoas compareceram para a Pesquisa de Campo, sendo o número total de 3 pessoas para a realização da mesma, sendo 2 estagiários do curso de turismo da Faculdade do Sul da Bahia (FASB), localizada em Teixeira de Freitas-Ba e o pesquisador autor do projeto de mestrado. O objetivo principal desta pesquisa foi o de obter o perfil sócio-econômico e cultural do turista que freqüenta Caravelas no período do carnaval, identificando pontos fortes e pontos fracos do evento subsidiando ações de forma planejada e organizada. Os dados da pesquisa possibilitarão uma análise da festa e uma orientação para as autoridades, consultores e investidores da esfera pública e privada, visualizarem no evento do

carnaval uma possibilidade de desenvolvimento sustentável. Por sustentabilidade entende-se que é a geração de bens e serviços para as gerações atuais e futuras, bem como “enfatiza a diversidade dos padrões e caminhos sociais do desenvolvimento dependendo das peculiaridades de uma dada sociedade e o seu “Estado de Arte” sob a ótica cultural, política e ecológica” (IRVING, 2002b, p.36). O carnaval é um evento que vem demonstrando seu caráter de sustentabilidade de empresas que vão se consolidando com o tempo e gerando empregos diretos e indiretos no período do carnaval ou em função do mesmo. Para atingir os objetivos da pesquisa, se traçou o perfil do participante, através de dados quanto a sua origem, idade, sexo, grau de escolaridade e seu gasto durante a festa carnavalesca; os meios de transportes utilizados pelos visitantes e meio de hospedagem utilizado pela maioria dos participantes oriundos de outras cidades; forma averiguados qual veículo de comunicação mais eficiente na divulgação do evento; e verificar a avaliação que os participantes fazem do carnaval no que diz respeito à segurança, limpeza atrações, acesso, sinalização e divulgação do evento foram considerados relevantes para consecução das metas propostas. A coleta dos dados nos dias 26 a 28 de fevereiro de 2006, realizou-se em horários diferentes e em todo o percurso da festa, em pontos estratégicos de maior fluxo de turistas. O método utilizado para a abordagem do turista foi o questionário com perguntas fechadas e semi-abertas, em locais com grande concentração de turistas como: Centro histórico, praias, rodoviária, percurso do carnaval. O universo desta pesquisa foi composto de turistas que estavam na cidade neste período específico, como conceito de turista adotaremos o da OMT, proposto no Livro de Planejamento do Turismo de Reinaldo Dias(2003) onde afirma que: “São todos aqueles que visitam determinado local, diferente de seu local habitual, e que permanecem mais de 24

horas, ocupando um alojamento coletivo ou privado no lugar visitado por uma noite ao menos.” O questionário foi elaborado com base nas orientações gerais da Embratur (DENCKER, 1998) e sendo adaptado com a finalidade de aferir os dados sobre o perfil sócioeconômico e cultural do turista em Caravelas no período do Carnaval. A pesquisa foi dividida em três categorias, para maior visibilidade da mesma e ficou da seguinte maneira: A pessoa perante o produto, Qualidade do produto e O produto em si.

3.3.1 A PESSOA PERANTE O PRODUTO

A pesquisa sobre o perfil sócio-cultural dos turistas, no carnaval de Caravelas-BA, trabalhou com um

universo de 268 entrevistados, sendo que 136 destes eram do sexo

masculino correspondendo a 50,75% e 132 do sexo feminino com 49,25% do total de entrevistados conforme o gráfico 01. As entrevistas ocorreram em variados pontos da cidade como podemos observar no gráfico 02: rodoviária – 13 pessoas (4,85%), Centro histórico – 30 pessoas (11,20%), Praia – 62 pessoas (23,13%), Circuito do carnaval - 79 que correspondeu a (29,47%), Restaurantes – 15 pessoas (5,60%) e outros locais – 69 pessoas (25,75%). No item outros locais estão incluídos turistas que foram entrevistados em alojamento, casas residenciais e feira-livre.

51 %

49 %

120 100 80 60 40 20 0

10 0%

SEXO

MASCULINO

FEMININO

TOTAL

Gráfico 1 – Sexo. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

LOCAL ENTREVISTA

Rodoviária Centro Histórico

5%

26%

11% 23%

6% 29%

Praia Circuito do Carnaval Restaurantes Outros

Gráfico 2 - Local de entrevistas. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

De 79 pessoas sendo 29,48% do total de entrevistados; Rio de Janeiro – 27 pessoas (10,07); Vila Velha-ES – 13 pessoas (4,85%); Belo Horizonte-MG – 09 pessoas (3,36%); Teófilo Otoni-MG, 08 pessoas (2,99%); Salvador-Ba – 13 pessoas (4,85%); Santos-SP – 08 pessoas (2,99%) e outras cidades 103 correspondendo a 38,42% do total de entrevistas. As outras cidades encontradas da Bahia foram assim representadas na pesquisa do carnaval. Os turistas que circulam no circuito carnavalesco de Caravelas são provenientes conforme o gráfico 03, de Teixeira de Freitas. Outras cidades encontradas, Prado, Itanhém, S. Sebastião do Passe, Vitória da Conquista, Itamaraju, Eunápolis, Alcobaça, Itabatãn, Nova Viçosa, Lajedão, Camacan, Itabuna, Mucuri (todas no Estado da Bahia). Além daqueles oriundos de

Governador Valadares, Contagem, Nanuque, Serra dos Aimorés (Estado de Minas gerais); Duque de Caxias, Niterói (Estado do Rio de Janeiro).

CIDADES

Teixeira de Freitas - BA Rio de Janeiro - RJ Vila Velha - ES 29%

Belo Horizonte - MG

39% Teófilo Otoni - MG Salvador - BA 10%

3% 3% 5% 3% 3%

Santos - SP

5% São Paulo - SP Outros

Gráfico 3 - Proveniência dos foliões. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

Do público que freqüenta o carnaval a faixa etária encontrada foi de 21 a 30 anos que corresponde a 135 entrevistados, perfazendo 50,37% do total. Na tabela 01 é demonstrado a presença de jovens na festa carnavalesca, cuja faixa etária até 20 anos, corresponde a 32 pessoas (11,94%); de 31 a 40 anos – 52 pessoas (19,4%); de 41 a 50 anos – 30 pessoas (11,19%) e acima de 51 anos – 19 pessoas (7,10%). Portanto o carnaval é freqüentado por pessoas de faixas etárias variadas, pois tem espaço para todas elas, porém o maior número de jovens de 21 a 30 anos, incide respectivamente em dois pontos cruciais: 1- Na escolaridade, pois os mesmos são jovens cursando ainda nível superior, e 2- O nível de renda é de 1 a 3 salários pois na grande maioria são estagiários ou mantidos exclusivamente pelos pais. Dados bastantes significativos para os planejadores. Trata-se de um público jovem que busca um carnaval diferenciado , porém dispõe de renda restrita.

Tabela 01 - Faixa etária dos freqüentadores do carnaval. Idade

FREQUÊNCIA

Até 20 anos De 21 a 30 anos De 31 a 40 anos De 41 a 50 anos Acima de 51 anos

32 135 52 30 19 TOTAL 268

PERCENTUAL

11,94% 50,37% 19,4% 11,19% 7,10% 100%

Fonte: Dados da pesquisa/2006.

Quanto ao item escolaridade a pesquisa apurou os dados apresentado no gráfico 04 que com primeiro grau incompleto, (Ensino Fundamental), 14 pessoas foram entrevistadas correspondendo a (5, 22%); com o primeiro grau completo 06 pessoas (2,24%); com o segundo grau incompleto (Ensino Médio) 09 pessoas entrevistadas (3,35%); segundo grau completo – 67 pessoas (25%); Terceiro Grau - Superior incompleto 90 pessoas (34%); Superior completo 75 pessoas (28%) e outros níveis de escolaridade 07 pessoas (2,62%) sendo Mestrado, Doutorado, Pós-graduação, Técnico em web-designer.

INSTRUÇÃO 34%

100 80

28%

25%

60 5%

2%

3% 2º Grau incompleto

20

1º Grau completo

40 3% Outros

Superior completo

Superior Incompleto

2º Grau completo

1º Grau incompleto

0

Gráfico 4 – Escolaridade. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

A pesquisa dividiu-se em seis categorias de ocupação principal, visualizado no gráfico 05, sendo 20 pessoas na categoria saúde (correspondendo - 7,46%); Educação 27 pessoas

(10,07%); Administração 72 pessoas (26,87%); estudante 56 pessoas (20,90%), Profissional Liberal 70 pessoas (26,12%) e funcionário público 23 pessoas correspondendo a 8,58% do total. OCUPAÇÃO PRINCIPAL

9%

7% 10%

Saúde Educação

26%

Administração Estudante 27%

Profissional Liberal Funcionário Público

21%

Gráfico 5 - Ocupação Principal. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

Para avaliar o nível de renda dos participantes do carnaval caravelense, foi categorizado àqueles que recebem de 1 a 10 SM (Salário Mínimo). A tabela 02 indica o nível de renda dos foliões do carnaval de Caravelas. De 1 a 3 SM -117 pessoas totalizando 43,66%; 4 a 6 SM - 76 pessoas (28,36%); de 7 a 10 SM - 40 pessoas (14,92%); acima de 10 SM - 35 pessoas 13,06%. O que se pode concluir que os freqüentadores do carnaval dispõem de poucos recursos para gastar na festa e buscam uma opção cultural de acordo com sua disponibilidade financeira. Tabela 02 - Nível de Renda dos foliões do carnaval de Caravelas. Nível de renda 1 A 3 SM 4 a 6 SM 7 a 10 SM Acima de 10 SM

FREQUÊNCIA 117 76 40 35 TOTAL 268

Fonte : Dados da pesquisa/2006.

PERCENTUAL 43,66% 28,36 14,92% 13,06% 100%

O gráfico 06, que demonstra os dados quanto ao meio de hospedagem confirma o perfil que vem se delineando. Se hospedaram em hotel 12 pessoas (4,48%); em pousada 42 pessoas (15,68%); em camping 06 pessoas (2,24%); em casa de parentes e amigos 152 pessoas (56,71%); em casa de aluguel 46 pessoas (17,71%) e as outras 10 pessoas (3,73%) de clararam estarem em alojamento coletivos ou escola. Percebe-se que os maiores números de turistas ficaram em casas de parentes ou amigos, demonstrando que o setor turístico no que se refere ao trade fica com um público ainda muito tímido de turistas, pois muitos jovens e conseqüentemente com renda de 1 a 3 salários mínimos ou são mantidos pelos pais ou se hospedam em casas de amigos ou parentes, gastando diariamente na cidade de 10 a 40 reais, não trazendo muitas divisas para a mesma.

MEIO DE HOSPEDAGEM 160 140 120 100 80 60 40 20 0

57%

17%

16% 4% Hotel

4%

2% Pousada

Camping

Casa de Parentes e Amigos

Casa de Aluguel

Outros

Gráfico 6 - Meio de hospedagem. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

Em relação a previsão de gasto por dia existe uma divisão entre os turistas que gastam de 10 a 40 reais àqueles que gastam mais de 136 reais por dia. De acordo com o gráfico 07, observa-se que: 128 pessoas gastam de 10 a 40 reais, totalizando 47,77%, que corresponde ao maior gasto destes turistas; 81 pessoas de 41 a 75 reais (30,22%); 37 pessoas de 76 a 105 reais (13,80%), 10 pessoas de 106 a 135 reais (3,73%) e 12 pessoas gastam mais de 136 reais (4,48%). Ficando claro que não se gasta tanto quanto se espera no setor turístico.

PREVISÃO GASTOS POR DIA

4% 4% 14%

De 10 a 40 Reais De 41 a 75 Reais 48%

De 76 a 105 Reais De 106 a 135 Reais Ou mais de 136 Reais

30%

Gráfico 7 - Previsão de gasto diário. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

Observando a tabela 03 – Pessoas inclusas na composição do gasto - constata-se que 1 pessoa está inclusa no gasto diário de 123 entrevistados, correspondendo assim 45,90%; 2 pessoas estão inclusas no gasto diário de 74 pessoas, representando 27,61%; 3 pessoas na composição do gasto de 29 entrevistados (10,82%); 4 pessoas no gasto de 21 entrevistados (7,83%); 5 pessoas em 8 entrevistados (2,99%) e mais de 5 pessoas em 13 entrevistados representando 4,85%.

Tabela 03: Pessoas inclusas na composição do gasto. Quantas pessoas estão incluídas Na composição do seu gasto?

FREQUÊNCIA

1 pessoa 2 pessoas 3 pessoas 4 pessoas 5 pessoas + de 5 pessoas

123 74 29 21 08

PERCENTUAL

45,90% 27,61% 10,82% 7,83% 2,99% 13

Total

268

4,85% 100%

____________________________________________________________ Fonte: Dados da pesquisa/2006.

Foram apurados os seguintes dados (gráfico 08) quanto a forma de deslocamento , carro foi o transporte mais utilizado com 172 pessoas representando 64,18%; 87 pessoas

utilizaram ônibus (32,46%); apenas 03 pessoas chegaram a cidade de avião, desembarcando no Aeroporto das Conchas representando (1,12% do total de entrevistados) e 06 pessoas utilizaram moto, (2,24%).

MEIO DE TRANSPORTE UTILIZADO 200 180

65%

160 140 120 100

32%

80 60 40 20

1%

2%

Avião

Moto

0 Carro

Ônibus

Gráfico 8 - Meio de transporte utilizado. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

A escolha do destino, gráfico 09, foi influenciada por vários fatores: propaganda (folhetos, tv, e rádio) 25 entrevistados, sendo 9,33%; Indicação de amigos e parentes 143 pessoas, representando o total de entrevistados de 53,36%; matérias jornalísticas 02 pessoas (0,75%), promoção de agência de viagens 26 pessoas (9,70%); Sites 06 pessoas (2,24%) e outros 66 pessoas totalizando 24,62% sendo influenciados por: tradição, namorado, já conheciam, família e curiosidade. Falta ainda na cidade estratégias de promoção e definição quanto ao marketing mais adequado para a festa.

INFLUÊNCIA NA ESCOLHA DO DESTINO Propaganda-Folheto, TV, Radio

9%

Indicação - Parentes e Amigos

25%

Matérias Jornalísticas 2%

Promoção da Agência de Viagens

10% 53%

1%

Sites Outros

Gráfico 9 - Influência na escolha do destino. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

A motivação principal da viagem – tabela 04 - foi representada assim: Recreação e férias 16 pessoas (5,97%); visitas a parentes e amigos 31 pessoas (11,57%); atrativos naturais 11 pessoas (4,10%); sol e praia 06 pessoas (2,24%); atrativos culturais 04 pessoas (1,49%) e o carnaval, com 200 pessoas entrevistadas, que representa 74,63% foi o maior índice de procura de Caravelas neste período específico.

Tabela 04: Motivação principal da viagem. Motivação principal da Viagem?

FREQUÊNCIA

Recreação e férias Visitas a parentes e amigos Atrativos naturais Sol e Praia Atrativos culturais Carnaval

16 31 11 06 04 200 TOTAL 268

PERCENTUAL

5,97% 11,57% 4,10% 2,24% 1,49% 74,63% 100%

Fonte: Dados da pesquisa/2006

O gráfico 10 demonstra a forma de viagem dos turistas para o destino Caravelas. A pesquisa constatou que de 120 entrevistados no total de 49,78%, viajaram com a família; 80 pessoas viajaram com amigos correspondendo 29,85%; 21 pessoas viajaram sozinhas 7,84%;

5 pessoas em excursão 1,86% e 42 pessoas viajaram com seu companheiro que correspondeu a 15,67%.

FORMA DE VIAGEM 44%

140 120 100 80 60 40 20 0

30% 16%

co m pa

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2%

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om

Fa m íl i a

8%

Gráfico 10 - Forma de viagem. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

O gráfico 11 confirma as informações apresentadas na taleba 05 , a intencionalidade da festa carnavalesca como motivo detonador do deslocamento das pessoas para Caravelas. Os entrevistados, na sua grande maioria, declararam que permaneceriam durante o período do carnaval, sendo 196 pessoas representando 73,13% do total de entrevistas, de 5 a 7 dias, 36 pessoas (13,43%); de 8 a 10 dias, 20 pessoas (7,47%) e mais de 10 dias, 16 pessoas correspondendo a (5,97%).

PERMANÊNCIA DA VIAGEM

7%

6% Durante o Carnaval

13%

De 5 a 7 dias De 8 a 10 dias Mais de 10 dias 74%

Gráfico 11 –Tempo de Permanência. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

De acordo a tabela 05, os foliões na sua grande maioria são de cidades circunvizinhas, refletindo o último destino visitado como sendo a cidade mais procurada, Prado-BA, 37 pessoas que corresponde a (13,80%); Salvador-BA 30 pessoas (11,19%); Porto Seguro-BA 29 pessoas (10,83%); Rio de Janeiro-RJ, 13 entrevistados (4,86%); Vitória-ES, 12 pessoas (4,48%); Mucuri-BA, 12 pessoas (4,48%); Búzios-RJ, 05 pessoas (1,86%) e outras 142 pessoas que corresponde a 52,98%. Os outros destinos visitados foram: Carangola, Florianópolis, Angra dos Reis, Teixeira de Freitas, Guriri, EUA, Cumuruxatiba, Itamaraju, Guarapari, Morro de São Paulo, Argentina, Tocantins, Região dos Lagos, Tiradentes, Chapada dos Veadeiros Teófilo Otoni, Belém, são João do Paraíso, Ipatinga, Gandú, México, Ouro Preto, Fernando de Noronha, Praia do Forte, Londres, Aracaju, São Mateus, Campina Grande, Conservatório, Cubatão, Suzano, Natal, Alcobaça, Resplendor, Itabuna, Fortaleza, Itacaré, São Luiz, Barra do Cay, São Paulo, Vila Velha, Cabo frio, Ara Cruz, Nanuque, Belo Horizonte, Linhares, Curitiba, Guarujá.

Tabela 05: Último destino visitado. Último destino visitado

FREQUÊNCIA

Prado – BA Salvador – Ba Porto Seguro – BA Rio de Janeiro – RJ Vitória - ES Mucuri – BA Búzios – RJ Outros*

37 30 29 13 12 12 05 142

TOTAL 268 Fonte: Dados da pesquisa/2006.

PERCENTUAL

13,80% 11,19% 10,83% 4,86% 4,48% 4,48% 1,86% 52,98% 100%

Conforme o gráfico 12 constatou-se que 92 entrevistados participaram do carnaval pela primeira vez, correspondendo 34,33% e 176 pessoas responderam que não era a primeira vez que estavam no carnaval de Caravelas, sendo 65,67% do total de entrevistas. De acordo com o gráfico 13, quem respondeu que não foi à primeira vez a festa carnavalesca, foram categorizados em 2 vezes até mais de 5 vezes sendo: 2 vezes, 28 entrevistados (10,45%); 3 vezes, 31 entrevistados (11,57%); 4 vezes, 16 entrevistados (5,97%); 5 vezes, 14 entrevistados (5,22%); e mais de 5 vezes, 87 entrevistados (32,46%), correspondendo 176 do total de 65,67% do total geral. Constatou-se que 66% dos entrevistados não é a primeira vez eu participa do carnaval sendo 49% freqüentadores por mais de 5 vezes, confirma assim que a festa é procurada por pessoas da região que se fazem presentes vários anos, considerando a festa muito boa, pois é procurada várias vezes , por vários anos seguidos pelos mesmos foliões.

PRIMEIRA VEZ QUE PARTICIPA DO CARNAVAL CARAVELENSE

34% SIM NÃO 66%

Gráfico 12 - Primeira vez que participa do carnaval de Caravelas. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

QUANTAS VEZES

16% 2 Vezes 3 Vezes 49%

18%

4 Vezes 5 Vezes

9%

Mais de 5 Vezes

8%

Gráfico 13 - Quantas vezes já participaram do carnaval. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

3.3.2 QUALIDADE DO PRODUTO

Esse tópico reflete a opinião dos entrevistados em relação ao produto Carnaval. Na pergunta, sobre o que mais lhe atrai no carnaval, as respostas estão apresentadas no gráfico 14, sendo: a tranqüilidade foi o item mais relevante para 83 dos entrevistados (30,97%); escola de samba 25 entrevistados (9,33%); resgate cultural – tradição 18 entrevistados (6,72%); trio 14 entrevistados (5,22%); alegria das pessoas 11 entrevistados (4,10%); carnaval de rua 10 entrevistados (3,73%) e outros atrativos 107 entrevistados correspondendo a

39,93%, tais como: Abrolhos, os amigos, acolhimento, animação, tudo é bonito, rever parentes, festa toda hora, diversidade cultural, mulheres da escola de samba, mulatos (nativos),

atrações,

marchinhas,

os

blocos,

namorado(a),

organização,

descanso,

entretenimento, participação de todas faixas etárias, diversão, o rio, bebida, os mascarados.

O QUE MAIS ATRAI NO CARNAVAL

40%

120 100 80 60 40 20 0

31%

4%

s O ut ro

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4%

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5%

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7%

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9%

Gráfico 14 - O que mais atrai no carnaval. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

Os participantes desta festa carnavalesca são levados a Caravelas no período do carnaval por vários motivos, de acordo a tabela 06, dentre eles: Amigos 77 pessoas (28,73%); família 41 pessoas (15,30%); tranqüilidade 33 pessoas (12,31%); tradição 28 pessoas (10,45%); Abrolhos 09 pessoas (1,36%); cultura 08 pessoas (2,99%); e outros 72 pessoas representando 26,86%, esses outros motivos foram: namorado(a), segurança, conhecer a cidade, fuga da agitação, alegria contagiante, carnaval de rua, escola de samba, paz, oportunidade da folga, baixo custo, gosta da cidade, trio, blocos, sites, mulheres bonitas, estilo do carnaval, liberdade.

Tabela 06: Motivos de escolha do carnaval de Caravelas. O que mais lhe levou a escolher Participar do Carnaval de CaraVelas?

FREQUÊNCIA

Amigos Família Tranqüilidade Tradição Abrolhos Cultura Outros*

77 41 33 28 09 08 72

PERCENTUAL

28,73% 15,30% 12,31% 10,45% 3,36% 2,99% 26,86%

TOTAL 268 Fonte: Dados da pesquisa/2006.

100%

A grande maioria das pessoas entrevistadas já possuía conhecimento prévio das escolas de samba em Caravelas, conforme o gráfico 15, sendo 181 entrevistados, correspondendo 67,54% do total de entrevistas e 87 entrevistados não conheciam nada sobre a escola de samba correspondendo 32,48%. Destes 181 que conheciam procuramos saber como souberam desta manifestação cultural e as respostas foram variadas: amigos 56 pessoas (20,90%); filho da terra 18 pessoas (6,72%); já participaram do carnaval 43 pessoas (16,04%); divulgação regional 11 pessoas (4,10%), pelos parentes 24 pessoas (8,96%), através do povo 14 pessoas (5,22%); já moraram na cidade 15 pessoas (5,60%) no total de 67,54% do percentual de 100%. JÁ POSSUIA CONHECIMENTO PRÉVIO DAS ESCOLA DE SAMBA EM CARAVELAS 200

68%

150 32%

100 50 0 SIM

NÃO

Gráfico 15 - Conhecimento prévio da escola de samba. Fonte: dados da pesquisa/2006.

COMO SOUBE DO CARNAVAL 31%

60 50 40 30 20 10 0

24% 13%

o Já

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8%

8%

6¨%

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10%

Gráfico 16 - Como soube do carnaval. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

De acordo o gráfico 17, no total de 268 entrevistados, 260 responderam que sim, que o carnaval pode ser um atrativo turístico, totalizando 97,02%, e somente 08 entrevistados responderam não, sendo 2,98% do total de 100%. Porque o carnaval pode ser um atrativo turístico para a cidade de Caravelas responderam da seguinte forma conforme o gráfico 18: principal motivação turística, 27 pessoas (10,07%); traz divisas para a cidade, 18 pessoas (6,72%); diversidade cultural, 15 pessoas (5,60%); tradição, 15 pessoas (5,60%); tranqüilidade, 14 pessoas (5,22%); muito bonito, 11 pessoas (4,10%); e outros 432 pessoas (16,05%), sendo que 125 entrevistados não manifestaram correspondendo 46,64%. O CARNAVAL PODE SER UM ATRATIVO TURÍSTICO

3%

SIM NÃO

97%

Gráfico 17 - O carnaval pode ser um atrativo turístico. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

POR QUE O CARNAVAL PODE SER UM ATRATIVO TURÍSTICO

Principal motivação Turística Traz Divisas para a cidade Diversidade cultural

10% 7% 6% 46%

6% 5% 4% 16%

Tradição Tranquilidade Muito Bonito Outros Não responderam

Gráfico 18 - Porque o carnaval pode ser um atrativo turístico. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

3.3.3 O PRODUTO EM SI

O tópico a seguir avalia o produto carnaval pelos turistas que responderam o questionário. O gráfico 19 representa a avaliação do carnaval de Caravelas, do total de 268 entrevistados, responderam da seguinte maneira: ótimo, 132 pessoas (49,25%); bom, 105 pessoas (39,18%); regular, 22 pessoas (8,21%); ruim, 01 pessoa (0,37%); nenhuma pessoa respondeu péssimo e 08 destes entrevistados não sabem ou não opinaram perfazendo 2,99%. A maioria dos entrevistados avaliou o carnaval como ótimo e bom. COMO AVALIA O CARNAVAL DE CARAVELAS 3% 0% Ótimo

0%

Bom

8%

Regular 50% 39%

Ruim Péssimo Não soube/não opinou

Gráfico 19 - Avaliação do carnaval. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

No quesito QUALIDADE DAS BANDAS verificou-se que os foliões na sua grande maioria afirmaram serem boas e ficou desta maneira a avaliação dos entrevistados conforme o gráfico 20: ótimo, 44 entrevistados correspondendo 16,42%; bom, 133 entrevistados perfazendo o total de 49,62%; regular, 67 (25%); ruim, 06 entrevistados (2,24%); péssimo, 07 entrevistados (2,62%); não sabem ou não opinaram 11 entrevistados (4,10%).

QUALIDADE DAS BANDAS 4% 3% 2%

16%

Ótimo Bom

25%

Regular Ruim Péssimo 50%

Não sabe/ não opinou

Gráfico 20 - Avaliação da qualidade das bandas. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

No quesito DECORAÇÃO verificou-se que os entrevistados não gostaram da decoração feita para a festa carnavalesca, e o resultado reflete esse descontentamento geral dos foliões: Ficou desta maneira conforme o gráfico 21: ótimo, 18 entrevistados (6,72%); bom, 67 entrevistados 25%; regular, 72 entrevistados (20,52%); e não sabem ou não opinaram 06 entrevistados correspondendo a 2,24%.

DECORAÇÃO

2% 7% 21%

Ótimo 25%

Bom Regular Ruim

19%

Péssimo Não sabe/ não opinou 26%

Gráfico 21 - Avaliação sobre a decoração. Fonte: dados da pesquisa/2006.

No quesito INFRA-ESTRUTURA notou-se que a falta desta faz com que a festa carnavalesca não consiga trazer um fluxo turístico para a cidade, e se refletiu na verificação deste mapa conforme o gráfico 22: ótimo, 33 entrevistados (12,31%); boa, 86 entrevistados (32,09%); regular, 124 entrevistados (46,27%); ruim, 12 entrevistados (4,47%); péssimo, 06 entrevistados (2,24%) e não sabem ou não opinaram 07 entrevistados (2,62%).

3%

A INFRA-ESTRUTURA

2% 4%

12% Ótimo Bom Regular 32%

47%

Ruim Péssimo Não sabe/ não opinou

Gráfico 22 - Avaliação sobre a infra-estrutura. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

A tabela 07 corresponde se o turista tem pretensão em retornar ao carnaval de Caravelas, dos 268 entrevistados verificou-se que 255 pretendem retornar, devido às

manifestações culturais e a própria cidade histórica, perfazendo 95,15% e 13 dos entrevistados responderam que não pretendem retornar equivalendo a 4,85% do total.

Tabela 07: Pretende retornar ao carnaval. Pretende retornar ao carnaval?

FREQUÊNCIA

Sim Não

255 13 TOTAL 268

PERCENTUAL

95,15% 4,85% 100%

Fonte: Dados da pesquisa/2006.

Conforme o gráfico 23, do total de 268 entrevistados, registrou-se sugestões de: investir em infra-estrutura 50 pessoas (18,65%); bandas com maior expressão nacional, 37 pessoas (13,80%); melhor decoração, 19 pessoas (7,10%); investir em marketing, 18 pessoas (6,72%); melhorar o receptivo, 14 (5,22%); maior iluminação, 10 pessoas (3,73%); ponto de informação ao turista, 07 pessoas (2,61%); início das atrações cedo, 07 pessoas (2,61%); que o trio circule mais, 06 pessoas (2,24%); um guia de informação da cidade, 03 pessoas (1,12%); outras 30 pessoas (11,20%), sendo que 67 entrevistados não opinaram correspondendo 25%. As outras opiniões são as seguintes: colocar mais banheiros públicos, trios e bandas durante o dia na Barra, mudar o palco, colocar lixeira nas ruas, curso com donos de hotéis, restaurantes, trailes, organização com pessoas da terra, que as empresas de ônibus melhorem, pois atendem muito mal, características de monopólio por que não há livre escolha nem concorrência entre si, som mais potente, revitalização do patrimônio histórico, aproveitar as pesquisas sobre o carnaval pelo poder público e privado, explorar mais a culinária regional, mais trios, investimento nos blocos de rua e nas marchinhas, divulgar mais a cidade.

SUGESTÃO/CRÍTICA PARA MELHORAR O CARNAVAL

Investir em infra-estrutura Bandas com maior expressão Melhor decoração

14%

3%

1%

25%

3%

Investir em Marketing Melhorar o receptivo Maior Iluminação

3%

Ponto de Informação ao Turista

3%

Início das atrações cedo

18%

5% 7% 9%

Que o trio circule mais Um Guia de informações da cidade Outras

9%

Não Opinaram

Gráfico 23: Sugestão/Crítica para melhorar o carnaval. Fonte: Dados da pesquisa/2006.

O gráfico demonstra todas as sugestões ou criticas do carnaval caravelense pelos turistas. Essas informações são indispensáveis para que os gestores do carnaval possam planejar e melhorar a festa nos próximos anos.

4.

CULTURA

E

TURISMO

INTERFACE

ESSENCIAL

PARA

O

DESENVOLVIMENTO LOCAL

4.1. Relação entre Cultura e Turismo

“As relações entre turismo e cultura são profundas e têm duplo sentido: turismo como ato cultural ou forma de cultura (entendida como o investimento promocional da cultura) e turismo cultural que permite ao homem o acesso às formas de expressão cultural, proporcionando o encontro de culturas preexistentes e estabelecendo relação com valores adquiridos, promovendo e vendendo o acesso a essa cultura, transformando-a em produto”. Hélio Barroco

Por cultura entende-se que é a “força que envolve o pensar, o sentir, o fazer, o viver, enfim. Representa, portanto, o código mais profundo que revela a feição singular de um povo, ou seja, sua identidade” (AZEVEDO, 2000, p.134) A cultura é, propriamente, o movimento de criação, transmissão e reformulação desse ambiente artificial e que identifica a comunidade particular, assim, o patrimônio arquitetônico de um lugar demonstra os traços culturais da comunidade onde está inserido bem como os seus ritos. A cultura, como expressão das manifestações de bens tangíveis e intangíveis é de suma importância na construção da identidade de um povo, que tem características próprias, no seu modo de agir, de pensar e de construir. A cultura é um componente essencial para o desenvolvimento humano, pois, é a expressão do modo de pensar e de agir dos indivíduos e das comunidades. Sendo o conjunto de costumes, usos, crenças e utensílios de uma determinada região, se diferente uma da outra, sendo lugar plural, onde as pessoas preservam seus hábitos, e sua identidade cultural, no qual são criados laços de socialização, importantes para a sobrevivência humana. Para Geertz, a cultura é essencial para a condição humana.

Quando visto como um conjunto de mecanismos simbólicos para controle de comportamento, fontes de informação extra-somáticas, a cultura fornece o vínculo entre o que os homens são intrinsecamente capazes de se tornar e o que eles realmente se tornam, um por um. Tornar-se humano é tornar-se individual, e nós nos tornamos individuais sob a direção dos padrões culturais, sistemas de significados criados historicamente em termos das quais damos forma, ordem, objetivo e direção às nossas vidas. (GEERTZ, 1989, p.64)

Por ser dinâmica, a cultura se reconfigura de geração para geração e manifesta-se nas relações sociais através das artes, dos cultos, da história, da arquitetura, da culinária, da indumentária, enfim dos infinitos elementos culturais que compõem o patrimônio cultural de uma nação.

Para Alfredo Bosi “Cultura é o conjunto das práticas, das técnicas, dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social. A educação é o momento institucional marcado do processo.” (BOSI, 1987, p.16). A educação tem o papel de transmissão destes valores às novas gerações, bem como estabelecer critérios para melhor assimilação da cultura de um determinado grupo social. As relações entre cultura e turismo são evidentes e tanto a cultura necessita do turismo como vice-versa.

“As relações entre turismo e cultura são profundas e têm duplo sentido: turismo como ato cultural ou forma de cultura (entendida como o investimento promocional da cultura) e turismo cultural que permite ao homem o acesso às formas de expressão cultural, proporcionando o encontro de culturas preexistentes e estabelecendo relação com valores adquiridos, promovendo e vendendo o acesso a essa cultura, transformando-a em produto: é o turismo que combina fatores diversos para mediante em preço, permitir a uma pessoas desfrutar de uma manifestação de expressão cultural, herança histórica, artística, científica ou estilo de vida oferecido por uma comunidade” (BARROCO, 2004, p.02)

A cultura precisa do turismo para a formatação do seu produto e conseqüentemente a sua divulgação sendo preservada. Em contrapartida, o turismo como expressão cultural de um povo, necessita dos aspectos culturais para maior viabilidade do seu produto sendo essencial cada vez mais para a formatação do produto em si e proporcionar a realização de experiências que são únicas. Na Bahia a tentativa da convivência do turismo e da cultura é uma realidade, eles se relacionam, pois a expressão cultural deste estado é muito forte e estando aliada ao turismo é um fator importante para que as ações sejam tomadas em conjunto.

A fase atual do turismo baiano, denominada de “Cluster de Entretenimento, Cultura e Turismo”, é fruto de uma parceria entre a iniciativa governamental e privada com o intuito de transformar o estado da Bahia num respeitável ponto de encontro com a alegria, segurança, o bem estar e a tão propagada felicidade. Para tanto, as

estratégias e investimentos foram e estão sendo muito bem delineados. (CASTRO, 2005, p.27)

Para que a Cultura e o turismo sejam olhados de maneiras essenciais para o desenvolvimento local são necessárias políticas que agreguem valores da cultura e do turismo para o produto turístico se firmar no mercado, e não deixar de respeitar a diversidades de culturas existentes nas localidades. A relação entre cultura e turismo é visivelmente notada quando o turismo se apropria das manifestações culturais, da arte, dos artefatos da cultura para fomentar o turismo. Por sua vez, a cultura também se apropria do turismo, no que diz respeito à formatação das expressões culturais, para o desenvolvimento turístico. Surge aí um turismo especial voltado para a cultura que é o turismo cultural, que tem a função de estimular os fatores culturais dentro de uma localidade, propiciando e buscando fomentar recursos para atrair visitantes específicos, podendo assim trazer o incremento do desenvolvimento econômico da região turística, bem como transformar a região em um grande pólo de atrativos culturais. A cultura como atrativo turístico é considerado uma atividade econômica de importância global, que abarca elementos econômicos, sociais e ambientais. O turismo cultural se relaciona intimamente com a vida cotidiana do destino turístico que se quer conhecer, pois há lugares que se especializam em recepção dos turistas e de certa forma industrializam, massificam essas manifestações culturais para turista ver. O turista deve se inserir na comunidade local e não vice-versa, pois as manifestações culturais possuem suas características próprias e que devem ser preservadas, porque às vezes a indústria do turismo pode até mesmo mascarar uma realidade que não condiz com a própria manifestação popular. O fenômeno do turismo cultural pode converter-se em uma oportunidade para o desenvolvimento de correntes turísticas atraídas por motivações predominantemente culturais fortalecendo assim a própria cultura.

Por tudo isso, a cultura e o turismo, andam em direção um ao outro e não podem desmerecer os aspectos relevantes que cada um possui. Nesta relação, de cultura e turismo, aparece um tipo de turismo que se importa com uma cultura particular e diferenciadora, o turismo cultural. O turismo pode ser compreendido como atividade sócio-econômico-cultural, complexa, que envolve aspectos naturais e culturais de uma localidade. Constitui-se como dinâmica promissora para o desenvolvimento econômico local, e sustentável tanto para os habitantes da localidade quanto para os operadores do turismo em si.

Nos últimos anos o turismo cultural tem sido apontado como uma das possibilidades de desenvolvimento sustentável para diversas localidades. Esta atividade propõe a utilização de elementos da cultura local como atrativo turístico, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da comunidade. A concepção de desenvolvimento aí presente não se resume ao desenvolvimento econômico, abarcando também a melhoria da qualidade de vida, saúde, emprego e segurança aliada à preservação do meio ambiente e o respeito à diversidade. (FIGUEIREDO, 2005, p.44)

O Turismo Cultural se apresenta como forte componente para o desenvolvimento de uma localidade, pois agrega valores econômicos, culturais e sociais na prática do mesmo, com um olhar para o desenvolvimento sustentável daquela comunidade. Sustentável, aqui, como forma de produzir bens e serviços para toda a comunidade, bem como a valorização e preservação da cultura como identidade de um povo, visando sempre à gerações futuras o uso e usufruto também destes bens materiais e imateriais. Por turismo cultural Beni afirma que:

Refere-se à influência de turistas a núcleos receptores que oferecem como produto essencial o legado histórico do homem em distintas épocas, representando a partir do patrimônio e do acervo cultural, encontrado nas ruínas, nos monumentos, nos museus e nas obras de arte. (BENI, 2003, p.431).

A cultura, como fator importante para o turismo, não deve ser dependente desta, onde só é valorizada em virtude do desenvolvimento turístico, porque se assim o for, ela vem a reboque do turismo, não tendo a importância que lhe é devida. A relação entre cultura e turismo é de fato uma realidade, pois não dá para separar, devido à utilização da formatação turística e cultural em produto, porém se faz necessário não valorizar tanto um em detrimento do outro. Deve-se valorizar a importância tanto da cultura quanto do turismo, nem a cultura deve vir à luz do turismo, nem o turismo viver à sombra da cultura, mas contar com espaços privilegiados entre as manifestações culturais e os bens turísticos, porque são elementos balizadores do desenvolvimento local.

4.2. Turismo como apropriação da Cultura e Cultura como apropriação do Turismo

“O carnaval é uma festa que sempre funciona como atrativo turístico para as diversas localidades onde ocorre. Esse fator faz com que seja necessária uma intervenção relacionada ao planejamento organizacional da localidade em questão”. Aline Nascimento

A cultura é indispensável na identidade e formação de um povo, pois os laços culturais inerentes a uma comunidade, são importantes para o fortalecimento e a preservação da cultura de uma localidade. Os aspectos culturais são os que distinguem uma comunidade de outra, pois não existe cultura melhor do que a outra, mas diversidade de culturas como é o caso do nosso País, o Brasil, que pela sua grande extensão possui diversas culturas e todas com suas peculiaridades. Portanto essa diversidade cultural é o diferencial que distingue um local de outro, e conseqüentemente proporciona um fluxo turístico em busca destes bens culturais, sendo assim, a cultura é apropriada pelo turismo para a formatação do produto turístico.

Reinaldo Dias (2003) afirma que a cultura local pode sofrer alterações devido ao turismo. “Por sua característica de ser um produto que deve ser consumido no local, o que implica o deslocamento de pessoas para a localidade onde estão os atrativos, o turismo contribui enormemente para modificações nos hábitos e costumes da comunidade receptora. Essas modificações podem assumir papel positivo, à medida que o turismo leva informação, novas tendências, novidades, contatos interculturais que provocam a aproximação entre diferentes povos etc. Ocorre que há muitos aspectos negativos que podem acontecer devido a esses contatos: perda de valores tradicionais, perda da identidade cultural, que de modo geral levam ao aumento da prostituição e de crimes como tráfico de drogas, roubos etc.” (DIAS, 2003, p.55).

O turismo, quando é implantado com planejamento, deve levar em conta os aspectos culturais de uma localidade para ser feito com sustentabilidade, preservando tantos os aspectos econômicos, sociais e culturais. Deve-se ter cuidado para não perder os valores culturais inerentes a essas comunidades. Para que possam desenvolver com a máxima responsabilidade, afim de que não se percam os valores tradicionais que são as marcas da identidade cultural local. Os aspectos culturais são inerentes a qualquer local que tem o potencial turístico e para ser desenvolvido esse turismo é necessário valorizar a cultura e se apropriar de todas as suas características para a formatação do produto turístico. Assim como também, a cultura se apropria do turismo para maior divulgação de si mesma. Para o turismo a cultura é necessária e deve ser valorada em suas manifestações. Pensar cultura é identificar a sua dinamicidade e novas características que são agregadas a essas transformações.

Cultura é um processo dinâmico, transformações (positivas) ocorrem, mesmo quando intencionalmente se visa congelar o tradicional para impedir a sua “deteriorização”. É possível preservar os objetos, os gestos, as palavras, os movimentos, as características plásticas exteriores, mas não se consegue evitar a mudança de significado que ocorre no momento em que se altera o contexto em que os eventos culturais são produzidos (ARANTES, 1995, p.22)

Dentro destas transformações da cultura, estas manifestações aparecem como elementos preponderantes para o desenvolvimento do turismo local, e principalmente a revitalização do turismo cultural, que tem um público específico. Os turistas procuram se identificar com a cultura local e participar de suas manifestações. É necessário ter consciência de que a cultura não pode vir a reboque do turismo e nem o turismo a reboque da cultura, pois se assim o for tanto um como outro será colocado em segundo plano, e os dois são importantes no desenvolvimento local. A dinamicidade da cultura é bastante, e o turismo, se porventura, quiser se apropriar desta, deve caminhar também com essa mudança constante para o desenvolvimento do turismo local e diferenciador das demais localidades. Menezes (2004, p.100) afirma que:

O dinamismo de qualquer ambiente cultural é marcado pelo contato com o povo, com o diferente, e desse contato é que surgem formas enriquecedoras e importantes para o seu devir. Mesmo aquelas sociedades mais tradicionais não podem e não devem ser, em nosso mundo, tratadas como relíquias, pois, evidentemente, não há a possibilidade de colocarmos redomas em torno de culturas que queremos preservar. A busca de preservação se manifesta por processos educativos e de valorização patrimonial que permitem pensar o turismo como um instrumento de sua execução e não o contrário.

É inevitável a apropriação do turismo da cultura e vice-versa, pois o turismo como fator cultural tem o papel de não banalizar a cultura, e sim valorizar e mostrar essa cultura particular a outras pessoas. A cultura não pode jamais ser vista como intocada, como Menezes afirma, uma relíquia, ela deve ser apreciada e divulgada para a sua preservação e solidificação e para isso a educação tem papel fundamental. O turismo vende sonhos e experiências, que são únicas, pois ninguém tem as mesmas experiências e o turismo tem esse caráter de proporcionar ao turista a viver experiências particulares. Alesandre Panosso Netto (2005) no livro Filosofia do turismo afirma que:

O turismo, por sua vez, é experiência. É experiência no momento em que constrói esse “ser” turista... Assim, também, a experiência turística não pode ser analisada

desconectada do momento histórico e do “vir-a-ser” do turista, porque o turista tem consciência de seu “eu”, de seu “ser” através do tempo, da história. Por “vir-a-ser” entende-se aquilo que ainda não é, mas que pode tomar-se. Assim, enquanto apenas refletimos sobre o turismo não somos turistas, mas no momento em que partimos em viagem tornamo-nos turistas. (PANOSSO NETTO, 2005, p.29)

O “vir-a-ser” turista é o processo pelo qual todos que experimentam a sensação de ir viajar, vivem a experiências de construir mentalmente a viagem que irá realizar de modo imaginário. No momento que a viagem acontece, o tornar-se turista é de fato concretizado, oportunizando a experiência particular e única, vivenciando todas as sensações de uma viagem turística. No Brasil, o turismo, ainda é muito caro e se torna não acessível a todos. Poucos se dão ao luxo do turismo, pois nem sempre têm dinheiro o suficiente para o lazer. Porém é salutar também analisar a epistemologia do turismo. CORIOLANO em 2005, na Mesa redonda no IX ENTBL (Encontro de Turismo com Base Local), em sua palestra sobre Turismo e Meio Ambiente: a (IN) sustentabilidade em questão afirmou sobre o turismo que:

É um lazer de viagem, elitizado, transformado em mercadorias, invenção da sociedade de consumo, fenômeno próprio das classes ricas e médias que podem pagar pelo lazer. É produto simultâneo do trabalho e do ócio, resultado do modo de vida contemporâneo, cujos serviços criam formas confortáveis e prazerosas de viver, embora restritas a poucos.

O turismo realmente ainda é muito elitista e seletivo, mas vem aos poucos entrando na opção dos brasileiros, pelo menos para aqueles que buscam uma melhor qualidade de vida e almejam viver momentos diferentes do cotidiano. Discutir a concepção do carnaval, aqui a cultura, necessariamente liga-se ao grande potencial turístico que o mesmo traz em todo seu ritual, antes e durante a festa, proporcionando o desenvolvimento do turismo local e o aquecimento pelo viés econômico àquela área de concentração da festa carnavalesca.

O desenvolvimento da atividade turística exige, dos organizadores e operadores de planejamento estratégico, que seja implementada com a participação da população envolvida, comprometê-los e co-responsabilizá-los, essa atividade não deve ser entendida por responsabilidade somente das empresas privadas, nem tampouco, só pelas públicas, mas sim uma parceria entre órgãos públicos e privados juntamente a sociedade civil. É notório, dentro da linha histórica, que o carnaval está associado ao turismo e no turismo especificamente cultural que tem o papel de aquecer a economia local, principalmente de forma sustentável.

O carnaval é uma festa que sempre funciona com o atrativo turístico para as diversas localidades onde ocorre. Esse fator faz com que seja necessária uma intervenção relacionada ao planejamento organizacional da localidade em questão, no que se refere à presença de uma comemoração que faz parte da cultura e da identidade local e, como tal, deve ser executada com base em uma perspectiva sustentável (NASCIMENTO, 2003, p.49)

O turismo passa, nesse caso, a ser um dos fatores que desencadeiam o processo de aproximação entre passado e presente. Inicialmente visto como cultura encenada, como tradição inventada para o consumo turístico.

Nas sociedades contemporâneas a atividade turística aparece como um novo elemento que se insere na dinâmica cultural e, por conseguinte vai influenciar na produção discursiva e na utilização deste patrimônio. Tendo as peculiaridades locais (a diferença) como atrativos turísticos, esta atividade abre a possibilidade do desenvolvimento da alteridade e da sustentabilidade da comunidade envolvida, como também para a mercantilização do patrimônio de tal forma que este se torne basicamente um local para o consumo turístico, desterritorializado, a ser explorado por poucos.(FIGUEREDO, 2005, p. 46)

Hoje em dia, essa dinâmica cultural de cada lugar, faz com que a própria população se aproprie destas diferenças aliadas ao respeito ao outro, e desenvolva atrativos turísticos com o intuito de consumo e de exploração do espaço cultural determinado para tal. Em Caravelas a escola de Samba “Irmãos Portela” faz parte do Patrimônio Cultural da cidade, pois foi construído pelos moradores e está em constante construção envolvendo o

passado, o presente e o futuro, e por possuir essa característica, o carnaval se torna diferente e se apresenta como elemento desencadeador do turismo cultural. Embora em Caravelas, a cultura tenha seu espaço determinado, em relação à manifestação que não está atrelada ao turismo, existe certa interdependência, isso é notado principalmente no período do carnaval, onde a cultura se aproveita do turismo e o turismo, por sua vez, se aproveita da cultura para melhor viabilidade tanto econômica, social e cultural. Tal é a importância da cultura, que o turismo se desenvolve a partir destas expressões culturais, e para ilustrar salientamos o que Azevedo afirma:

Turismo, por natureza essência, implica a busca de diferenças. Diferenças traçadas pela cultura e pelo patrimônio. Ao representar um dos veículos mais importantes de divulgação cultural, o turismo emerge, ele próprio, como instrumento de reafirmação de cultura(s) e de patrimônio singulares. (AZEVEDO, 2002, p.134)

O turismo tem por característica divulgar a cultura local, e desenvolver de forma sustentável economicamente a comunidade. No caso de Caravelas, o turismo é essencial para a divulgação de cultura, não só carnavalesca, mas neste caso especificamente desenvolver a busca de um turismo cultural e de envolvimento local, que não afaste a população. No turismo, um fator importante que deve ser observado, é a questão da sustentabilidade, onde precisa ser implantada com urgência, pois, constitui a mola propulsora para o desenvolvimento regular para as futuras gerações. Menezes afirma:

Entende-se, aqui, como planejamento de turismo sustentável a busca de uma gestão que, após a interpretação criteriosa, considere e privilegie a proteção e a preservação adequadas do patrimônio cultural e natural, com sua distribuição equilibrada e justa dos benefícios e custos da atividade do turismo receptivo. A localidade anfitriã, considerada como um todo, deve eleger a qualidade de vida de sua população como fator essencial no processo de gestão do turismo. (MENEZES, 2004, p.100)

O setor do turismo exige de quem trabalha uma capacitação profissional, para que o mesmo seja feito com responsabilidade, respeito a todos que estão envolvidos de uma forma ou de outra na prestação de serviços turísticos.

O turismo planejado se constitui em uma importante opção para o desenvolvimento sustentável de uma região. As atividades turísticas organização em consonância com o respeito ao meio ambiente natural e cultural geram empregos e receitas e, consequentemente melhoram a qualidade de vida da comunidade. (RUSCHMANN, 2004, p.3)

A atividade turística estará fadada ao fracasso se não for bem estruturada, e planejada. Ela não pode ser amadora, pois, se assim o for, terá uma vida curta, isso é uma das características de muitos pequenos empreendimentos voltados à prestação de serviços turísticos, que não se preocupam com o planejamento, ficando a deriva de qualquer turbulência do mercado. É importante também salientar as tendências do momento atual, observar as tendências nacionais e internacionais que propiciam o crescimento do turismo.

4.3. A Escola de Samba e o Trio Elétrico como produtos turísticos formatados no Carnaval de Caravelas “O nome pitoresco de escola de samba, conhecido e popular no Brasil como nenhum outro, nomeia “sociedades civis de cultura e lazer, sem finalidades lucrativas”, cujo objetivo é organizar, todos os anos, desfiles luxuosos que constituem o essencial dos folguedos carnavalescos atuais”. Queiroz “O trio elétrico é um elemento fundamental porque ele vem e subverte completamente os ritos de apropriação do espaço”. Carvalho

O turismo é um fator importante para o desenvolvimento local, e Caravelas vêm despontando como uma cidade com uma potencialidade turística concreta, e cada vez mais atrai turistas de diversos segmentos para desfrutar de suas características peculiares.

Para Beni, o turismo possui características que proporciona o desenvolvimento local.

Vale destacar que o turismo é um eficiente meio para: 1- promover a difusão da informação sobre uma determinada região ou localidade, seus valores naturais, culturais e sociais; 2- abrir novas perspectivas sociais como resultado do desenvolvimento econômico e cultural da região; 3- integrar socialmente, incrementar (em determinados casos) a consciência nacional; 4- desenvolver a criatividade em vários campos; 5- promover o sentimento de liberdade mediante abertura ao mundo, estabelecendo ou estendendo os contatos, culturais, estimulando o interesses elas viagens turísticas. (BENI, 2003, p.39)

Caravelas se desponta no cenário do turismo baiano, com forte potencialidade e uma possibilidade de desenvolvimento sustentável local, tanto economicamente quanto culturalmente, pois a sustentabilidade tem de abarcar todos os níveis, econômicos sociais e culturais. A cidade de Caravelas, por ter a característica histórico-cultural, é a que mais se destaca na região da Costa das Baleias e consequentemente traz consigo bens culturais que simbolizam toda uma região. No carnaval, a cidade, consegue atrair um público em seu entorno, pois possui a tradição de um carnaval pacífico, tranqüilo e acima de tudo com muitas expressões culturais, em uma festa, que basicamente no nosso país, por causa da mídia se reduz somente ao samba (Rio de Janeiro) e ao axé (Bahia). Em Caravelas existem esses dois momentos carnavalescos, porém no mesmo espaço, não há lugares privilegiados, também possui outras manifestações carnavalescas. Na programação da festa carnavalesca de Caravelas, o espaço destas manifestações culturais são os mesmos, a estrutura da festividade é composta por 2 trios, 1 mini-trio, 2 palcos, som, iluminação, grupo gerador, banheiros químicos, camarote, arquibancadas, grupos de marchinhas, bandas de Salvador, bandas locais e regionais, ao todo são 42 shows. E principalmente o desfile das escolas de Samba “Irmãos Portela” e a “Coroa Imperial”.

O carnaval de Caravelas é um dos vetores relevantes para o turismo nesta cidade e vem formatando o produto turístico com o intuito de gerar indicadores sócio-econômicosculturais positivos. O carnaval de Caravelas, sem dúvida, é um forte componente de atração turística para a cidade, e isso foi verificado na pesquisa sócio-política e cultural dos turistas, que demonstraram claramente, que a cidade possui um fluxo de pessoas que procuram o carnaval tranqüilo e com a presença de uma diversidade de aspectos culturais. O turismo se fortalece quando se tem atrações de peso na cidade receptora, pois é a oportunidade de divulgação da mesma e da venda da sua imagem para os viajantes. No turismo pode estar a grande alternativa econômica de uma cidade, e o município de Caravelas vem desenvolvendo esse aspecto importante para o seu crescimento. È uma realidade o turismo em Caravelas, principalmente o ecológico, que atrai bastante turistas que estão em busca de um encontro com a natureza, mas esse tipo de turismo deve ser feito com muita responsabilidade para que não afete o ecossistema.

A inter-relação turista-ecossistema é diferente da que ocorre com população localecossistema, pois a presença dos turistas é ocassional e, quando agride o ambiente é por descuido, indiferença ou desconhecimento, é uma atitude pontual. O turista observa a paisagem, mas não a explora. O turismo de massa poderá afetar um pouco mais o ambiente. (FERRETTI, 2002, p.82)

Faz-se necessário, quando se trabalha com o turismo, conscientização tanto da comunidade receptora quanto dos visitantes para a proteção do meio ambiente e sua sustentabilidade. Devido a proximidade do Arquipélago Nacional Marinho de Abrolhos, um santuário aquático, a cidade torna-se bem procurada para a hospedagem em busca do ecoturismo.

É necessário, na festa, um maior planejamento e organização para que o carnaval, cada vez mais, seja realmente um grande espetáculo, porém organizado e que proporciona aos visitantes momentos de alegria , de prazer e segurança, pois é vital para os foliões. Na composição da festa os trios elétricos são chamarizes da cultura baiana e da manifestação do Axé em Caravelas. Eles se tornam cada vez mais sofisticados e com uma alta tecnologia utilizada para melhor som e estruturação do mesmo, ficam a cada ano maiores e com uma parafernália eletrônica, primando sempre pela qualidade. A escola de samba também aparece como uma forte característica da expressão do samba na cidade e que atrai vários turistas na época do carnaval. Esses dois produtos turísticos, trio elétrico e escola de samba, por si só se formataram com o tempo como sendo fortes componentes de atrações no carnaval caravelense. A festa carnavalesca constitui um importante evento que proporciona empregos temporários e imediatos, desde o churrasquinho na esquina, as barracas de acarajé, até as rivalidades entre as cervejarias e telefonia, contudo esses empregos são passageiros, aí reside todo o desafio da sustentabilidade. Para isso, é necessária políticas públicas, parcerias entre empresas públicas e privadas com o intuito de fomentar e de atrair, também outros eventos para a cidade, consequentemente, divulgar a cidade e seus bens naturais e culturais otimizando um fluxo cada vez maior de turistas com o intuito de fortalecer a economia local. A comunidade deve está sempre participativa no envolvimento da festa, sendo coresponsável pelo desenvolvimento local e da atividade turística como ressalta Figueiredo, 2005.

A participação da comunidade no planejamento da atividade turística pode evitar distorções na medida em que esta se torna co-responsável pelas conseqüências que o turismo traz para ela. Com relação ao patrimônio, tal participação pode garantir que os elementos que são representativos para os grupos, e por isso mesmo constitutivos da identidade destes, sejam inseridas na dinâmica da indústria cultural não só privilegiando o lucro, mas também a valorização da peculiaridades do local. (FIGUEIREDO, 2005, p.48)

O comprometimento da comunidade local proporcionará longevidade ao produto turístico, visto que só ela é capaz de garantir a permanência das manifestações culturais estabelecendo limites no processo de mercantilização.

Figura 12 – Tocador de tamborim da Escola de Samba Irmãos Portela

A principal Escola de Samba, da cidade de Caravelas, começou em 1948 quando alguns homens, filhos da terra, retornados do Rio de Janeiro resolveram

criar uma escola de

samba nos moldes daqueles que estavam acostumados ver no Rio de Janeiro.Surge a escola de samba Irmãos Portela, pois todos eram tocadores e amantes da Escola Portela. Os senhores Odilon e Bodega trouxeram para Caravelas o modo carioca de se festejar o carnaval com a incorporação da escola de samba. Essa escola foi sendo abraçada pelos caravelenses e faz parte do patrimônio cultural da cidade. Hoje a escola de samba sai às ruas com aproximadamente 500 componentes todos fantasiados e com o desejo de fazer o melhor, brilhar no desfile, pois amor e o empenho foram sempre a marca dos portelenses de Caravelas.

Seus dirigentes n ao tem poupado esforços e verbas para manter a agremiação, que apesar de ser o carro chefe do carnaval caravelense não dispõe de nenhuma ajuda financeira da Prefeitura e dos órgãos de fomento do turismo e da cultura, diferentemente do que ocorre com a Escola de samba Coroa Imperial.

Figura 13 - D. Dilma a diretora da Escola de Samba Irmãos Portela.

Em 1972, chega a Caravelas, o primeiro trio elétrico, o Kitongo 2001, que popularizou o carnaval e misturou os foliões ao segui-lo. Os trios elétricos foram sendo transformados e hoje são palcos em rodas, cada vez mais sofisticados. A foto abaixo demonstra o primeiro trio elétrico em Caravelas o Trio Kitongo 2001 (1972).

Figura 14 – Trio elétrico Kitongo 2001, em 1972. Fonte: www.portalcaravelas.com.br.

Hoje, o trio, é a principal atração nos carnavais e em especial em Caravelas. Os produtos escola de samba e trio elétrico já estão formatados e conseguem atrair foliões de diversas localidades como foi demonstrado na pesquisa eles se impressionam com duas expressões distintas convivendo no mesmo espaço festivo. Os turistas se identificam com esses dois produtos que são características principais de Caravelas, por isso a presença do Samba e do Axé, a escola de samba Irmãos Portela, bem como a Coroa Imperial e os trios elétricos. Carvalho (1999, p.185) afirma sobre o trio:

O trio elétrico é um elemento fundamental porque ele vem e subverte completamente os ritos de apropriação do espaço. O que existia, até então, se configura de uma forma diferente, porque o trio elétrico não respeita percursos, mistura as pessoas, não admite a rigidez do préstito, nem os horários.

O trio elétrico em Caravelas subverte todas as normas pré-estabelecidas em outros locais onde ocorre carnaval, porque em Caravelas não existe cordas de isolamento, mesmo existindo blocos. A ditadura das cordas para os blocos, em outras localidades, não se vê em Caravelas, o trio mistura todas as pessoas e os horários são tantos que quem dita as regras são

os foliões que fazem à festa. As ruas estreitas do centro histórico dão o charme e o diferencial dessa festa carnavalesca. O turismo cultural de que participam os visitantes nos dias de carnaval, proporciona uma experiência única de sociabilidade e frenesi da música carnavalesca. Portanto, ir a danças, brincar o carnaval é experimentar, mesmo que pouco, o modo de viver daquele povo. Isso é o que acontece em Caravelas, pois os turistas vivenciam momentos inesquecíveis numa terra que proporciona dois ritmos distintos em um só local. Esses produtos são importantes no desenvolvimento do turismo na época carnavalesca, porém são necessários maiores investimentos tanto do poder público quanto do privado na elaboração da festa e das atrações. Para falar de planejamento participativo deve-se ouvir a comunidade receptora aproveitando, assim, a mão de obra da cidade que conhece as características da festa e os aspectos culturais da mesma. Conforme Boiteux e Werner (2003, p.09): “Planejamento estratégico abrange a organização como um todo, acontece em longo prazo, em nível de alta administração. Trata do diagnóstico, objetivo e estratégias”. Todo planejamento, deve ter como metas, a elaboração de ações que possam ser cumpridas por todos os envolvidos. A estratégia é fruto do pensamento, que se desenvolve, em primeiro lugar, na mente do estrategista, e uma quase inexplicável síntese de informação, intuição e criatividade. Mas seu desenvolvimento é facilitado pela aplicação de técnicas que articulam e elaboram processos para levar avante a idéia ou a visão estratégica. Os municípios devem conhecer suas capacidades e suas debilidades, fazer um diagnóstico e estabelecer os objetivos e metas que satisfaçam os clientes (habitantes, turistas, empresas e instituições). A cidade de Caravelas possui características peculiares e pontos internos que podem ser explorados visando um Turismo Sustentável. Encontra-se em Caravelas potencial para o

turismo cultural, desenvolvimento de práticas ambientais de preservação, valorização da cultura local (atrativos culturais) e a fuga do cotidiano onde os turistas procuram esse diferencial, fugirem do cotidiano e ir em busca de experiências. A criação de roteiros culturais é imprescindível, já que a cidade possui vários atrativos históricos-culturais, que desenvolveria e formataria passeios de roteiros culturais aos turistas que chegam a Caravelas. O produto que vem se destacando, e pelo seu diferencial vem atraindo turistas nacionais e internacional, é o carnaval. É oportuno de transformá-lo em um atrativo turístico do Axé ao Samba, fazendo que o número de turistas cresçam em busca desta possibilidade de um carnaval multifacetado (Canclíni - 2000), onde se encontram manifestações de festas distintas. Sendo um pólo de atração turística, já com suas características próprias, e que torna cada vez mais visitada no período do carnaval, o planejamento se faz necessário a infraestrutura da cidade não tem condições favoráveis para um grande fluxo turístico. Sua posição geográfica favorece a vinda de turistas cariocas, mineiros e capixabas,observamos isso nos dados levantados entretanto nota-se que a promoção ainda é deficitária, pois não existe parceria entre o público e o privado, deixando a responsabilidade somente a cargo do poder público. O êxito da festa carnavalesca, que se dá pelo caráter diferenciador dos demais só se concretizará se tiver por base uma sólida parceria. Caravelas possui pousadas rústicas, atrativos naturais, como os manguezais, e Abrolhos com o turismo ecológico, é necessário s unir esses produtos as manifestações culturais. Para BOITEUX e WERNER (2003, p. 09) “Planejar um destino turístico significa estrutura-lo para que a atividade possa gerar empregos, renda, consumo e, conseqüentemente, aumentar a qualidade de vida do município.” Nota-se que o destino Caravelas, ainda é pouco explorado, isso se dá devido ao concorrente, que é o município do Prado, e falta de iniciativas

do poder público e privado que fortaleça esse destino. Alguns empreendedores da cidade começam a se preocupar com essa falta de turistas durante o resto do ano, visto que alguns só procuram a cidade no período do carnaval. O município pode ser referência turística dentro da Zona da Costa das Baleias, pois possui riquezas naturais e culturais, entretanto ainda não são vendidas em outras localidades. Faz-se necessária, urgentemente, uma ação conjunta de empreendedores e poder público local, bem como o estadual, que se torna omisso em suas políticas públicas favorecendo o município do Prado em detrimento dos demais em sua volta. Precisam urgentemente adotar estratégias visando atrair visitantes durante o ano todo. A pesquisa aponta dados, que se forem abraçadas e levadas a sério, será um recurso importantíssimo para o desenvolvimento da cidade que tem grande potencial turístico, só precisa que sejam praticadas essas ações por quem é de direito, como os gestores municipais, bem como as empresas privadas. O carnaval é o grande boom turístico em Caravelas, devido aos aspectos culturais, mas não é o único produto a ser valorizado na cidade, o trio elétrico e as escolas de samba aliado aos aspectos naturais da cidade proporcionam ao turista uma temporada de experiências particulares.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caravelas se constitui em um dos pólos principais de turismo na Costa das Baleias, no Extremo Sul da Bahia, possuindo motivações turísticas na área do ecoturismo (no Arquipélago Nacional Marinho de Abrolhos) e turismo cultural. Dos atrativos turísticos existentes em Caravelas, destaca-se o período do carnaval, o qual desperta grande fascínio aos seus visitantes pela razão de ser um carnaval tranqüilo e com expressões diversas. Neste trabalho o Carnaval de Caravelas-BA foi analisado como um elemento capaz de alavancar o desenvolvimento econômico e sócio-cultural do município, dentro do contexto do Turismo Cultural. O estudo demonstrou que o período do carnaval tem se configurado numa alternativa de desenvolvimento local. A análise quantitativa do perfil sócio-econômico e cultural dos turistas demonstrou, claramente, que os mesmos procuram o carnaval de Caravelas, pois buscam tranqüilidade, alegria, descontração e principalmente a cultura local em especial a manifestação da Escola de Samba Irmãos Portela, por ser tradicional, mas também a Escola Coroa Imperial e o Axé na representatividade dos trios elétricos e das bandas. A pesquisa comprovou um fluxo de turistas expressivo no período carnavalesco, o que representa um atrativo da cidade, capaz de atrair bastante pessoas da região e até mesmo fora do circuito regional. Porém, é necessário planejamento, pois a cidade poderá perder essa tranqüilidade se a carga turística exceder aos limites físicos da cidade em questão, já que a procura turística acontece devido ao carnaval tranqüilo. O carnaval de Caravelas, pela análise, mostrou-se rico de elementos culturais e de manifestações múltiplas, e evidenciou-se o problema proposto ora analisado, da coexistência de duas expressões carnavalescas, que normalmente não ocupam os mesmos espaços culturais, e essa amálgama consegue atrair um fluxo turístico considerável.

Enquanto manifestação popular, o carnaval é vislumbrado por pessoas que se encontram em trânsito, que saem de seus locais de morada para conhecerem novas culturas, povos diferentes. Em caravelas, o encontro de culturas diversas, é evidenciado no período carnavalesco com a chegada de turistas de variadas regiões. A cultura local é utilizada como forma de se obter uma atividade econômica, e como tal, deve ser configurada com um planejamento com base na sustentabilidade para ser executado através de estratégias com ações direcionadas ao turismo e ao carnaval, sendo fundamental a participação da comunidade na sua elaboração. Cultura e turismo são considerados uma união difícil e até mesmo conflitante, porque enquanto as instituições culturais são orientadas por funções educacionais, o turismo é orientado pelas leis de mercado. Mas não é impossível aliar os aspectos culturais dos aspectos turísticos, pois a cultura necessita do turismo assim como o turismo da cultura. Caravelas é um exemplo de convivência deste binômio Cultura e Turismo, pois o carnaval como aspecto cultural para sua divulgação necessita do turismo, enquanto público que se apropria da cultura existente na festa carnavalesca. Por sua vez, o turismo divulga a festa específica da cidade e consegue atrair turistas com o desejo de consumir os bens culturais e vivenciarem as experiências locais. Foi observado, no corpo da festa, traços de tradição como os Turunas (blocos de índios), Mãe Preta (blocos dos negros), caretas (pessoas mascaradas), que sinalizam características de antigos carnavais de Caravelas e ocupam espaços privilegiados ainda hoje,expressões carnavalescas espontâneas. Identificaram-se os aspectos de hibridização que estão evidenciados na festa características de Caravelas, com a junção de dois elementos opostos Samba e Axé que se juntam para proporcionarem características próprias ao carnaval caravelense e pode com o tempo tornar-se um outro elemento diferenciador e realmente híbrido.

As análises realizadas nessa pesquisa possibilitaram observar que a utilização das manifestações culturais veio a corroborar com o crescimento do turismo em Caravelas e em particular de forma específica o turismo cultural. A reflexão acadêmica sobre o carnaval de Caravelas busca contribuir para a divulgação e análise do fenômeno carnavalesco como uma expressão própria no modo de fazer carnaval, e tem como perspectiva apontar ações efetivas para o desenvolvimento da sustentabilidade sócio-cultural e econômica. As

políticas

públicas,

relativas

à

festa

carnavalesca,

devem

contemplar

prioritariamente os anseios da comunidade a fim de que ela se integre e participe de forma positiva às ações turísticas. O respeito aos seus valores culturais devem ser observados no planejamento estratégico para que as ações sejam responsáveis e duradouras Essas seriam as proposições para o alcance da sustentabilidade: Valorização das Escolas de Samba local como atrativo cultural pelo poder público; Busca de parceiros através de órgãos de fomento de cultura, através de programas específicos de revitalização cultural, na esfera municipal, estadual e federal; Fornecer subsídios para auto-gestão da escola de Samba com um trabalho cotidiano e não só no carnaval; Incentivo às bandas locais e regionais do Axé para que possam ser chamariz do Axé em Caravelas; Incremento de políticas públicas para a cultura de Caravelas; Promoção de projetos sociais para a população envolvida na festa principalmente a escola de samba para de fato ocorra a inclusão social. A cidade do Prado foi apontada como sendo o último destino visitado pelos turistas que freqüentam Caravelas, devido a esse preferência ao Prado pelo turismo de sol e praia, sugerimos um planejamento integrado entre as cidades de Prado e de Caravelas. Com o planejamento integrado a região da Costa das Baleias viria a ganhar mais turistas e maior divulgação na promoção dos produtos naturais e culturais.

Por caravelas possuir, em sua festa carnavalesca, a tradição das manifestações culturais e a divulgação desta, muitos estudantes universitários procuram este carnaval que proporciona um belo espetáculo para se assistir, como também para participá-lo, identificando aspectos culturais que fascinam vários estudiosos na compreensão da formação deste carnaval, com a escola de Samba e os vários blocos existentes, bem como o trio elétrico, marca registrada das festas, principalmente do carnaval na Bahia. A pesquisa constatou que os turistas que procuram a cidade de Caravelas se hospedam em casas de amigos e parentes, isso demonstra que na rede hoteleira fica um número ainda tímido dos turistas, precisando imediatamente de promoções que atraiam esses que procuram tranqüilidade e qualidade na sua estadia na cidade. O turismo é um fator desencadeador de desenvolvimento local e como tal deve ser feito com a máxima cautela, observando os impactos do mesmo sobre a comunidade receptora. Para que não haja distorções no produto turístico é necessário planejamento, e a literatura oferece ferramenta para elaboração de um planejamento estratégico que tem a função de implantar um turismo de qualidade, e bem estruturado quanto aos seus serviços prestados. Caravelas demonstrou um potencial turístico capaz de desenvolver a cidade pelo seu produto, porém faz-se necessários algumas interferências por parte do poder público local, no intuito de equipar a cidade para o recebimento massivo que ocorre principalmente no evento carnaval, com o intuito de minimizar as distorções turísticas com o número acentuado de turistas. No carnaval caravelense, deve-se também os seus organizadores, realizar os estudos sobre a carga turística, pois foi demonstrado na pesquisa que muitos procuram Caravelas neste período específico por causa da tranqüilidade, se houver um número massivo de turistas isso pode acarretar a perda deste carnaval tranqüilo.

Como sugestão para melhor atendimento turístico ao público específico do carnaval propõe-se: Investimento em saneamento básico na cidade, obras essenciais de infra-estrutura; Informações turísticas, que foi um ponto deficitário no carnaval de 2006, onde não havia um balcão de informações e a Secretaria Municipal de Turismo estava fechada durante todo o período do carnaval, dificultando aos turistas informações básicas; Iluminação pública eficiente, pois sem ela a festa a noite é ofuscada, devido aos apagões ou até mesmo da falta de lâmpadas nos postes; treinamento pelo poder público juntamente com o poder privado com o trade turístico anteriormente a festa carnavalesca, para que os envolvidos tenham a capacidade de um atendimento de qualidade e eficiência; Plano audacioso de Promoção do Marketing na divulgação do carnaval caravelense não só na região, mas em toda a Bahia e o órgão Bahiatursa (órgão oficial do turismo baiano) seria de fundamental importância nesta campanha. Constatou-se que a cidade é muito procurada por jovens na festa carnavalesca e que eles na sua grande maioria são universitários ou recém formados, refletindo pouca renda dos mesmos que não passa de 1 a 3 salários mínimos. Esse fator é desencadeador de pouco gasto na cidade, e os organizadores devem estar atentos para que as atrações contemplem a preferência destes foliões. O carnaval foi ressaltado pela pesquisa que é a motivação maior da procura dos turistas para o município, e ele é capaz de congregar pessoas advindas de várias localidades. A permanência dos turistas se dá durante o mesmo que é um componente importante do fluxo turístico nesta cidade. A pesquisa comprovou que o carnaval pode ser um atrativo turístico e deve ser feito com o maior planejamento possível para atrair turistas novos, com interesse específico em um carnaval cultural. A avaliação desta festa foi considerada ótima para a continuação deste requisito pelos turistas, sugerimos a partir da pesquisa aos gestores do carnaval: bandas com

expressão nacional, melhor decoração, início das atrações cedo, que o trio elétrico circule mais no circuito, um guia de informação da cidade, colocar mais banheiros químicos, colocar lixeiras nas ruas, revitalização do patrimônio histórico e aproveitar as pesquisas sobre o carnaval pelo poder público e privado. Notou-se que anteriormente a festa, poucos dias antes, é divulgado o programa da festa e a entrega de cartazes nas cidades circunvizinhas, isso demonstra a falta de um planejamento articulador das ações concernentes à festa em si. A festa como um grande evento não pode e não deve ser vista de forma amadora, mas ser planejada e organizada por profissionais com o intuito de fazer o certo e minimizar os erros.

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ANEXOS

APÊNDICE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA MESTRADO EM CULTURA E TURISMO QUESTIONÁRIO DO PERFIL DO TURISTA DURANTE O CARNAVAL Prezado Senhor (a), O objetivo desta pesquisa é obter informações sobre quem são os turistas que visitam Caravelas, durante o período do Carnaval, e as motivações principais desse deslocamento. Os dados serão analisados de forma sigilosa, impossibilitando a identificação de V. Sª. Sua colaboração é fundamental para o êxito deste trabalho. Muito Obrigado! Local de entrevista

Data ____/___ /____

Rodoviária( )Centro Histórico ( ) Praia ( ) Praça ( ) Restaurantes ( ) Outros ( ) ______________

Horário: _____ Circuito

Carnaval( )

Sexo M ( ) F ( ) 1- Onde reside? Cidade __________ País _________ 2- Idade Até 20 anos( ) de 21 a 30 anos ( ) de 31 a 40 anos ( ) de 41 a 50 anos ( ) Acima de 51 anos ( ) 3- grau de instrução: Primeiro grau incompleto –Ensino fundamental ( ) Primeiro Grau completo – Ensino Fundamental ( )Segundo grau incompleto – Ensino Médio ( ) Segundo Grau completo – Ensino Médio ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo ( ) Outros ( ) _________ 4- Ocupação principal _________________ 5- Nível de renda 1 a 3 SM ( ) 4 a 6 SM ( ) 7 a 10 SM( ) Acima de 10 SM( ) 6- Meio de Hospedagem Hotel ( ) Pousada ( ) Camping ( ) Casa de parentes e amigos( ) Casas de aluguel ( ) Outros ( ) _____________ 7- Qual a previsão de gasto por dia? De 10 a 40 reais ( ) De 41 a 75 reais ( ) De 76 a 105 reais ( ) De 106 a 135 reais ( ) Ou mais de 136 reais ( )

8- Quantas pessoas estão incluídas na composição do seu gasto? ____________________________ 9- Meio de transporte utilizado: Carro ( ) ônibus ( ) Avião ( )

Moto ( )

Outros( ) ____________

10- O que influenciou na escola do destino? Propaganda (folhetos, tv, rádio) ( ) Indicação de amigos e parentes ( ) Matérias jornalísticas ( ) Promoções de Agência de viagens ( ) Sites( ) Outros ( ) ____________ 11- Motivação principal para a viagem? Recreação e férias ( ) Visitas a parentes e amigos ( ) Atrativos naturais ( ) Sol e praia ( ) Atrativos culturais ( ) Carnaval ( ) Outros ( ) ____________ 12- Forma da viagem: Com família ( ) Com amigos ( )

Só ( ) Em excursão ( )

13- Permanência da viagem? Durante o carnaval ( ) De 5 a 7 dias ( )

Com o companheiro (a) ( )

De 8 a 10 dias( )

Mais de 10 dias ( )

14- Último destino visitado? ____________________________________________ 15- É a primeira vez que vem ao Carnaval de Caravelas? Sim ( ) Não ( ) Quantas vezes? ______________ 16- O que mais lhe atrai no carnaval de Caravelas? _________________________________________ 17- O que lhe levou a escolher participar do Carnaval de Caravelas? __________________________________________ 18- Já possuía conhecimento prévio da existência da Escola de Samba em Caravelas? Sim ( ) Não ( ) Como soube? ________________________ 19- O senhor(a) acredita que o carnaval pode ser um atrativo turístico, divulgando a cidade? Sim ( ) Não ( ) Por quê? ______________________________ 20- Como avalia o Carnaval de Caravelas? Ótimo( ) Bom ( ) Ruim ( ) Regular ( ) opinou ( )

Péssimo ( ) Não

21- Qual a sua opinião quanto aos serviços prestados no carnaval de Caravelas? * A infra estrutura

sabe/não

Ótimo( ) opinou ( )

Bom ( )

Ruim ( )

Regular ( )

Péssimo ( ) Não

sabe/não

* Decoração Ótimo( ) Bom ( ) opinou ( )

Ruim ( )

Regular ( )

Péssimo ( ) Não

sabe/não

* Qualidade das bandas Ótimo( ) Bom ( ) opinou ( )

Ruim ( )

Regular ( )

Péssimo ( ) Não

sabe/não

22- Pretende retornar ao Carnaval de Caravelas? Sim( ) Não ( ) 23- O senhor(a) tem alguma sugestão/crítica para melhorar o carnaval de Caravelas? ___________________________________________________

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