Palavras-chave: cultura verbal, folclore, literatura, Câmara Cascudo

February 20, 2017 | Author: Vitória Bernardes Pedroso | Category: N/A
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1 LINGUAGEM E CULTURA: MÚLTIPLOS OLHARES. (2) Estudos Culturais e Literaturas Periféricas LITERATURA ORAL ...

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“LINGUAGEM E CULTURA: MÚLTIPLOS OLHARES”. (2) Estudos Culturais e Literaturas Periféricas

LITERATURA ORAL E CULTURA NO BRASIL: A CONTRIBUIÇÃO DE CÂMARA CASCUDO

JAIR GOMES DE SOUZA CES-JF

Resumo

Na importante e complexa produção de Luis da Câmara Cascudo, evidencia-se a dificuldade de se estabelecer divisas entre Literatura e Folclore, considerando-se a teoria e a etimologia desses termos. Se, por um lado, a literatura oral reúne manifestações da recreação popular, mantidas pela tradição, o que lhe confere caráter literário; por outro, um grande acervo de características socioculturais se reúne incorporando e perpetuando, pela memória (oral e escrita), elementos trazidos pelas três raças formadoras do nosso povo. Somam-se, dessa miscigenação, cantos, contos, lendas, danças, cantigas, histórias, anedotas e cantorias que remontam sua origem a poetas e homens comuns que sabiam falar e entoar. Partindo dessas considerações, este estudo se apóia na Literatura Oral no Brasil, para discutir literatura oral e cultura (folclore) na obra do escritor Câmara Cascudo.

Palavras-chave: cultura verbal, folclore, literatura, Câmara Cascudo

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Resumen

En la producción importante y compleja de Luis da Câmara Cascudo, es dificultad probada de si establece el borde entre la literatura y el folklore, en vista de sí mismo él teoría y el etimologia de estos términos. Si, por otra parte, la literatura verbal junta las manifestaciones de la reconstrucción popular, guardadas para la tradición, confiere qué carácter literario él; para otro, una gran cantidad de características sociocultural si junta incorporar y la perpetuación, para la memoria (verbal y escribiendo), de los elementos traídos para las tres razas de los formadoras de nuestra gente. Se agregan, de este miscegenation, los cantos, las historias, las leyendas, las danzas, los cantigas, las historias comunes, los anecdotes y los cantorias que retrace su origen los poetas y los hombres a que sabían para hablar y a entoar. El irse de estos consideraciones, de esto estudio si apoya en literatura verbal en el Brasil, discutir la literatura y la cultura verbales (folklore) en la obra del escritor Câmara Cascudo.

Palabra-llave: cultura verbal, folklore, literatura, Câmara Cascudo.

Câmara Cascudo: Literatura oral e cultura

Literatura oral é a antiga arte de exprimir eventos reais ou fictícios em palavras, imagens e sons. Histórias têm sido compartilhadas em todas as culturas e localidades como um meio de entretenimento, educação, preservação da cultura e para incutir conhecimento e valores morais. A literatura oral é freqüentemente considerada como sendo um aspecto crucial da humanidade. Os seres humanos têm uma habilidade natural para usar comunicação verbal para ensinar, explicar e entreter, o que explica o porquê dessa literatura ser tão preponderante na vida cotidiana. A denominação de Literatura oral é de 1881, tendo sido criada por Paul Sébillot com a sua Littérature Oral de Ia Haute-Bretagne embora a definição concreta tenha ocorrido muito depois. 2

Essa literatura, que seria limitada aos provérbios, adivinhações, contos, frases-feitas, orações e cantos ampliou-se, alcançando horizontes maiores em razão da persistência pela oralidade. Duas fontes contínuas mantêm viva a corrente. Uma exclusivamente oral, resume-se na estória, no canto popular e tradicional, nas danças de roda, danças cantadas, danças de divertimento coletivo, ronda e jogos infantis, cantigas de embalar (acalantos), nas estrofes das velhas xácaras e romances portugueses com solfas, nas músicas anônimas, nos aboios, anedotas, adivinhações, lendas, etc. A outra fonte é a reimpressão dos antigos livrinhos, vindos de Espanha ou Portugal e que são convergências de motivos literários dos séculos XIII, XIV, XV, XVI, além da produção contemporânea pelos antigos processos de versificação popularizada, fixando assuntos da época, guerras, sátira, política, estórias de animais, fábulas, ciclo do gado, caça, amores, incluindo a politização de trechos de romances famosos tomados conhecidos, Escrava Isaura, Romeu e Julieta, ou mesmo criações no gênero sentimental, com o aproveitamento de cenas ou períodos de outros folhetos esquecidos em seu conjunto. Embora assinados esses folhetos revelam apenas a utilização de temas remotos, correntes no folclore ou na literatura apologética de outrora, trazidos nos contos morais, filhos dos "exemplos". Com ou sem fixação tipográfica essa matéria pertence à literatura oral. Foi feita para o canto, para a declamação, para a leitura em voz alta. Serão depressa absorvidos nas águas da improvisação popular, assimilados na poética dos desafios, dos versos, nome vulgar da quadra nos sertões do Brasil. Todos os autos populares, danças dramáticas, as jornadas dos pastoris, as louvações das lapinhas, cheganças, Bumba-meu-boi, Fandango, Congos, o mundo sonoro e policolor dos reisados, aglutinando saldos de outras representações apagadas na memória coletiva, resistindo numa figura, num verso, num desenho coreográfico, são os elementos vivos da literatura oral. A literatura folclórica é totalmente popular, mas nem toda produção popular é folclórica. Afasta-a do folclore a contemporaneidade. Falta-lhe tempo. Pode manter as cores típicas do espírito de uma região, o samba do Rio de Janeiro, o fado em certos pontos de Lisboa, mas não será folclórica na legitimidade a expressão. A palavra folclore apareceu pela primeira vez, na Inglaterra, quando foi publicado que fatos arrolados como antiguidades populares constituíam em um saber popular. Para designar 3

estes saberes, surgiu a palavra anglo-saxônica Folklore. A palavra poderia englobar o conjunto de fatos que constituem os usos, os costumes, as cerimônias, as crenças, os romances e as superstições conservadas pelo povo. Os elementos característicos do folclore são: • Tradicionalidade: vem se transmitindo geracionalmente. • Oral idade: é transmitido pela palavra falada. • Anonimato: não tem autoria. • Funcionalidade: existe uma razão para o fato acontecer. • Aceitação coletiva: há uma identificação de todos com o fato. • Vulgaridade: acontece nas classes populares e não há apropriação pelas elites. • Espontaneidade: não pode ser oficial nem institucionalizado.

As características de tradicional idade, oralidade e anonimato podem não ser encontrados em todos os fatos folclóricos como no caso da literatura de cordel, no Brasil, onde o autor é identificado e a transmissão não é feita oralmente. O folclore decorre da memória coletiva, indistinta e contínua. Deverá ser sempre o popular e mais uma sobrevivência. O popular moderno, canção de Carnaval, anedota de papagaio com intenção satírica, novo passo numa dança conhecida, tomar-se-ão folclóricos quando perderem as tonalidades da época de sua criação. Assim, um poema, um trecho de História que a simpatia popular divulgou, a música de uma canção, nacional pela memória coletiva marcham para a despersonalização que as perpetuará no Folclore. Na visão de Cascudo, uma manifestação é folclórica quando além de ser popular, constitui-se em sobrevivência. O folclore seria, portanto, uma manifestação do passado no presente. Um conjunto de resíduos, de fragmentos de costumes e práticas culturais desaparecidas, que toma difícil estabelecer os vínculos entre as manifestações populares e os contextos em que surgiram. As histórias da literatura fixam as idéias intelectuais em sua repercussão. Idéias oficiais das escolas nascidas nas cidades, das reações eruditas, dos movimentos renovadores de uma revolução mental. O campo é sempre quadriculado pelos nomes ilustres, citações bibliográficas, análise psicológica dos mestres, razões do ataque ou da defesa literária. A substituição dos mitos intelectuais, as guerras de iconoclastas contra devotos, de fanáticos e céticos, absorvem as atividades criadoras ou panfletárias. A literatura oral é como se não 4

existisse. Ao lado daquele mundo de clássicos, românticos, naturalistas, independentes, digladiando-se, discutindo, cientes da atenção fixa do auditório, outra literatura, sem nome em sua antiguidade, viva e sonora, alimentada pelas fontes perpétuas da imaginação, colaboradora da criação primitiva, com seus gêneros, espécies, finalidades, vibração e movimento, continua, rumorosa e eterna, ignorada e teimosa, como rio na solidão e cachoeira no meio do mato. Nunca essa separação pôde ser evitada pela articulação dos dois movimentos paralelos. Canto, dança, estória, lenda, jogos infantis, todo um equipamento intelectual segue sua finalidade e acompanha o próprio homem em sua batalha pela cultura oficial, ensinada nas faculdades ou laboratórios, modificada pela genialidade, mas sempre diversa de uma outra cultura. A literatura que chamamos oficial, pela sua obediência aos ritos modernos ou antigos de escolas ou de predileções individuais, expressa uma ação refletida e puramente intelectual. Ninguém deduzirá como o povo conhece a sua literatura e defende as características imutáveis dos seus gêneros. É como um estranho e misterioso cânon para cujo conhecimento não fomos iniciados. Iniciação que é uma longa capitalização de contatos seculares com o espírito da própria manifestação da cultura coletiva. A literatura oral brasileira reúne todas as manifestações da recreação popular, mantidas pela tradição. Entende-se por tradição, entregar, transmitir, passar adiante, o processo divulgativo do conhecimento popular ágrafo. A frase recreação popular não inclui apenas o divertimento, o folguedo, infantil e adulto, mas igualmente as expressões do culto exterior religioso, na parte em que o povo colabora na liturgia, ampliando ou modificando o cerimonial, determinando sincretismos e acuIturações, transformada numa espécie de atividade lúdica. A literatura oral brasileira se comporá dos elementos trazidos pelas três raças para a memória e uso do povo atual. Indígenas, portugueses e africanos possuíam cantos, danças, mitos, cantigas de embalar, anedotas, poetas e cantores profissionais, uma já longa e espalhada admiração ao redor dos homens que sabiam falar e entoar. A influência maior foi a do colonizador. O português deu o contingente maior. Era vértice de ângulo cultural, o mais forte e também um índice de influências étnicas e psicológicas. Espalhou, pelas águas indígenas e negras, não o óleo de uma sabedoria, mas a canalização de outras águas, impetuosas e revoltas, onde havia a fidelidade aos elementos árabes, negros, castelhanos, galegos, provençais, na primeira linha da projeção mental. 5

Passada essa, adensavam-se os mistérios de cem reminiscências, de dez outras raças, caldeadas na conquista peninsular em oitocentos anos de luta, fixação e desdobramento demográfico. Cascudo traça as origens, porém não procurando delimitar uma fonte inicial, mas sim, o caminho percorrido, percepção dos temas e elementos que convergem, que coincidem, enfim que persistem em lugares distintos. Utiliza os termos, "convergência, coincidência, presença, influência, persistência" (p.30) [...] Estuda-se a procedência pela mentalidade determinante mas é preciso prever que essa 'mentalidade' já tinha sido adquirida pela proximidade com elementos de outras civilizações [....]. O típico, o autóctone, continua tão difícil quanto a indicação definitiva dos tipos antropológicos como constantes num determinado país. [regional – universal] (p.30) [...] O que era africano aparece sabido pelos gregos e citado numa epígrafe funerária. [...] A bibliografia sempre crescente empurra os horizontes da certeza. Ficamos dançando diante do assunto assombrados pela multiplicidade das orientações, pela infinidade dos sinais, apontando para a rosa-dos-ventos. Vezes paramos porque vinte estradas correm na mesma direção. (p. 30-31) [...] Só a visão do conjunto, marcando nas cartas as zonaa de influência dará a idéia da universalidade do tema pela sua assimilação nos inúmeros países atravessados. E ninguém dirá, com segurança, se esse país foi atravessado ou dele partiu o motivo que se analisa. (p.31)

Literatura oral e cultura: A sutil divisória permeada pelo folclore

Câmara Cascudo escreveu, exaustivamente, sobre diversas áreas do saber, tendo como tema principal a cultura popular brasileira de forma tão significativa, dando um grande legado às Ciências Sociais, de forma que considerações muito importantes foram compiladas em dicionário crítico sobre suas obras, material de estudo de importantes pesquisadores. Considera-se professor e não folclorista, como muitos insistem, ainda hoje, em considerá-lo. O próprio nome da família de Luís da Câmara Cascudo remete a questão política, dado que seu avô paterno era um dos chefes do Partido Conversor, que tinha o apelido de Partido Cascudo e “para dar continuidade ao título, se tomou Cascudo” (COSTA, 2007).

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Escreveu sob vários gêneros (ensaios, poesias, romances, reportagens) diversificados temas (história, geografia, política, religião...), sempre partindo da cultura popular brasileira, e daí para temas universais, mas sempre abordando de forma pioneira a questão da oralidade, extraindo os mais intrigantes e complexos casos. Da temática regional, abordou assuntos mitológicos de diferentes povos da Europa, construindo uma original e vasta obra. Entender sua historicidade é partir para uma reflexão sobre a cultura popular de hoje. A riqueza do conteúdo estudado por Cascudo instigou o historiador e professor da USP Marcos Silva a organizar um dicionário crítico, reunindo 87 verbetes em ordem alfabética do universo cascudiano, comentados e analisados por especialistas de todo o Brasil. Trata-se de grandes obras e outras de menor valor, mas relevantes à compreensão da trajetória de Cascudo. Trata-se de um retomada de suas obras, incluindo bibliografia (pesquisa realizada também por Marcos Silva). Esse dicionário foi planejado em 1998, por ocasião do centenário do escritor, cuja importância literária é de significação pessoal para o organizador, seu conterrâneo potiguar, que se iniciou da obra de Cascudo desde sua adolescência. O desafio do especialista com a criação do dicionário foi percorrer toda a obra. Já na década de 20 do séc. passado, existia a preocupação com a oralidade, embora não constituísse o objetivo da escrita de Câmara Cascudo. Em Histórias que o tempo leva... Da história do Rio Grande do Norte, ele ouve narrativas do pai e começa a pensar sobre a importância de uma memória oral. Época também de Alma Patrícia e Joio. Depois retorna seus estudos históricos sobre o século XIX, com Conde d’Eu (1933)e O Marquez de Olinda e o seu Tempo (1938). Ao final da década de 30 definiu com precisão estudos populares, lançando Vaqueiros e Cantadores. Sua obra também perpassa temas políticos, sem ser um militante político, abordando, ainda temas religiosos, geografia, biografias. O texto é eivado de linguagem coloquial do Modernismo, o que sugere aproximação com as letras, dado que foi amigo pessoal de Mário de Andrade. Sua obra perpassa as áreas da literatura e lingüística à antropologia, abordando, neste sentido, História da Alimentação no Brasil, na década de 60, tendo o professor recorrido à bibliografia de viajantes estrangeiros no Brasil do século 19, a notas e observações pelo próprio, para descrever uma sociologia da alimentação, de natureza histórica e etnográfica. Vaqueiros e Contadores (1937), é um extenso documentário de fatos, versos e causos observados e registrados por 15 anos. Destaca-se também Literatura oral (1952), que relata técnicas e fundamentos, gêneros orais e suas relações, e ainda sua transmissão e recriação, inclusive de jogos infantis, parlendas e adivinhas; e ainda o Dicionário do Folclore 7

Brasileiro (1956), sua obra mais conhecida, considerada síntese do seu trabalho, no qual ele próprio avalia que se encontram as suas curiosidades, o segredo e a alegria de sua preferência. A Wikipédia – Enciclopédia Livre do Brasil – relaciona cerca de 80 títulos do autor, quatro dos quais referenciados como literatura no próprio título dado pelo autor. Na apresentação de O Tempo e eu, Francisco Ivo Cavalcanti, um de seu grandes mestres, afirma: "Uma das facetas mais interessantes da vida literária de Câmara Cascudo é a seguinte: raro o estudante que não lhe suplica um prefácio de obra que pretende publicar - de verso ou prosa - e ele lho dá, destacando o que de melhor encontra no trabalho prefaciado, terminando por encorajá-lo a prosseguir na faina literária, sem outra mira que não seja procurar incrementar as letras de sua terra, motivo por que é admirado e querido por todos os seus conterrâneos, quebrando o tabu de que "santo de casa não faz milagre", pois os riograndenses do norte não se cansam de homenageá-lo, ora fazendo uma semana intelectual com o seu nome, ora criando um prêmio com a sua denominação ... " (In: CASCUDO, 1968)

Este trecho reafirma a conscientização não só do prefaciador como a corroboração de seu ponto de vista pelos riograndenses de que Câmara Cascudo era um literato com competência para apresentar os autores menores ou não que publicavam seus livros, confirmando que o gênero cultivado nas letras do autor era a confirmação de sua competência.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Cascudo, Luís da Câmara. Três ensaios franceses, FJA, 1977 (do "Motivos da Literatura Oral da França no Brasil", Recife, 1964 Cascudo, Luís da Câmara. Joio - crítica e literatura - Of. Graph. d'A Imprensa, Natal Uun), 1924 Cascudo, Luís da Câmara. Literatura oral no Brasil - Ed. José Olímpio. 3ª edição, Rio, 1984. Cascudo, Luís da Câmara. O tempo e eu - Imp. Universitária - UFRN, 1968 Cascudo, Luís da Câmara. Flor de romances trágicos. Rio de Janeiro/Natal, Livraria Editora Cátedra/Fundação José Augusto, 1982; CASCUDO, Luís da Câmara. COSTA, Cláudia. Um professor da literatura oral. Jornal da USP. 22 a 28 de setembro de 2003 ano XVIII no.659. Disponível em: http://www.usp.br/jorusp /arquivo/2003/usp659/pag17.htm. Acessado em março de 2007. WIKIPÉDIA – Enciclopédia Livre do Brasil, Disponível em: HTTP://pt.wikipedia.org/wiki, Acesso em março de 2007

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